Papa Francisco já se encontrou com 13 vítimas de abuso sexual

Jornada Mundial da Juventude Lisboa - dia 2
[Fotografia: Rita Chantre/Global Imagens]

O Papa Francisco recebeu hoje, na Nunciatura Apostólica, em Lisboa, um grupo de 13 vítimas de abusos na Igreja portugueses, anunciou a sala de imprensa da Santa Sé.

“Na tarde desta quarta-feira, 2 de agosto, após o final dos encontros institucionais e com a Igreja, o Papa Francisco recebeu na Nunciatura um grupo de 13 pessoas, vítimas de abusos por parte dos membros do clero, acompanhados por alguns representantes de instituições da Igreja portuguesa, responsáveis pela proteção dos menores”, adianta, num breve comunicado.

Segundo o mesmo documento, “o encontro decorreu num clima de intensa escuta e durou mais de uma hora, concluindo-se pouco depois das 20:15”. Papa Francisco pediu perdão.

Entre os presentes, estiveram alguns representantes de instituições encarregadas da tutela de menores na Igreja em Portugal: Rute Agulhas, coordenadora do Grupo VITA; Paula Margarido, presidente da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas; Pedro Strecht, coordenador da ex-Comissão Independente.

Tudo aconteceu no mesmo dia em que o Papa chegou a Portugal e Lisboa acordou com cartazes a evocar as vítimas de abusos.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) considerou que o encontro confirma o caminho da “reconciliação que a Igreja Portuguesa” tem vindo a fazer. “Este encontro do Santo Padre representa a confirmação do caminho de reconciliação que a Igreja em Portugal tem vindo a percorrer neste âmbito, colocando as pessoas vítimas em primeiro lugar, colaborando na sua reparação e recuperação, de forma que lhes seja possível olhar o futuro com esperança e liberdade renovadas”, refere uma nota da CEP.

O último ano e meio na Igreja portuguesa foi marcado pelos casos de abusos sexuais que se tornaram evidentes para o domínio público e deram origem a uma comissão independente.

Em novembro de 2021, mais de duas centenas de católicos defenderam que a CEP deveria “tomar a iniciativa de organizar uma investigação independente sobre os crimes de abuso sexual na Igreja”, tendo sido criada uma Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja.

Esta comissão validou 512 testemunhos de alegados casos de abuso em Portugal, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas, entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.

No relatório, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais “devem ser entendidos como a ‘ponta do iceberg'” deste fenómeno.

Na sequência destes resultados, algumas dioceses afastaram cautelarmente sacerdotes do ministério.

LUSA