Pobreza Menstrual. Mulheres já usam papel higiénico, meias e trapos

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[Fotografia: Pexels/Mike Murray]

Em apenas um ano, o número de pedidos de ajuda para obter produtos de higiene íntima, de uso durante o período, aumentou 43%, disparando para valores recorde, no Reino Unido

A crise e o aumento da inflação não trava as mulheres de terem período, mas está a impedi-las de comprarem produtos de higiene íntima por falta de dinheiro. Uma realidade que está a empurrar as britânicas para soluções que podem comprometer seriamente a saúde vaginal, como o uso de papel higiénico, de trapos e até de meias para absorver a menstruação.

Em declarações ao jornal The Independent, a diretora executiva da entidade solidária que fornece absorventes a outras organizações de apoio a mulheres, a Bloody Good Period, afirma que nunca a pobreza menstrual atingiu valores tão preocupantes no país. “Sabemos que as pessoas têm de fazer escolhas impossíveis e, para quem está menstruada, os produtos menstruais são absolutamente essenciais. A menstruação não pára porque há uma crise de custo de vida”, diz Rachel Grocott.

A responsável revela mesmo que as mulheres estão a socorrer-se de alternativas inadequadas, como papel higiénico, meias e trapos, devido à impossibilidade de comprar produtos adaptados. “Falamos de coisas que as pessoas não deveriam sequer contemplar em 2023, na Grã-Bretanha. Simplesmente não é aceitável”, acrescenta.

Segundo dados recolhidos pelo jornal britânico junto da Bloody Good Period, em apenas um ano o aumento de pedidos de ajuda disparou 43%, ou seja, 43 mil pacotes fornecidos no primeiro semestre de 2022 comparam com 61 mil em período homólogo, este ano. Pedidos de ajuda que crescem mesmo depois de ter sido abolido, há três anos, o imposto sobre os produtos menstruais, que deixaram de ser classificados como bens de luxo e não essenciais.

Neste momento, refere a investigação do The Independent e que apresenta dados da Plan International, cerca de 1/3 das raparigas e mulheres jovens com idades entre os 14 e os 21 anos estão a lutar para comprar produtos menstruais, levando-as a opções perigosas: Oito em cada dez revela já ter usado papel higiénico e uma em cada dez socorreu-se de jornal ou papel.

Uma em cada dez universitárias portuguesas
‘corta’ nos produtos menstuais

Segundo um inquérito realizado junto de 392 estudantes universitárias de cinco estabelecimentos de ensino superior portugueses, uma em cada dez revelou que já sentiu dificuldades financeiras para adquirir produtos de higiene menstrual, fator que já condicionou a frequência com que trocam de produto menstrual durante os dias de período.

Resultados que foram revelados a 28 de maio de 2023, aquando do dia da Higiene Menstrual. De acordo com a análise, ”cinco em cada dez revelam saber que gasta mais de 5 euros por mês em produtos de higiene menstrual”, lê-se no comunicado emitido pela marca que elaborou o estudo, a Intimina.

A larga maioria das inquiridas diz optar pelos “tradicionais pensos e tampões descartáveis” que, no entanto, são os mais caros, com 16% a revelar que gasta mais de 10 euros por mês em produtos menstruais”. “Por outro lado, duas em cada 10 jovens revelam que, por já usarem um produto menstrual reutilizável, não têm gastos mensais com o período”, acrescenta a mesma nota.