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Primeiras-damas da democracia portuguesa. Ainda se lembra delas?

Ramalho Eanes, Manuela Eanes, Maria Cavaco Silva, Filomena Aguilar e Jorge Sampaio assistem das galerias da Assembleia da República à tomada de posse do novo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em Lisboa, 09 de março de 2016. Manuela Eanes e Maria Cavaco Silva foram primeiras-damas, nos mandatos dos maridos Ramalho Eanes e Cavaco Silva. O cargo encontra-se agora em vias de extinção. (António Cotrim/Lusa)
Maria Helena Spínola era filha do general Monteiro de Barros, homem de confiança de Salazar, e conheceu António de Spínola no Colégio Militar, que os irmãos frequentaram. Casaram em 1932, como atesta a fotografia. Na década de 50 do século XX começou a dedicar-se à Cruz Vermelha Portuguesa, chegando a integrar a Direção da Secção Auxiliar Feminina. O marido assume a Presidência mas por pouco tempo (apenas de maio a setembro de 1974) e Maria Helena mantém-se à margem dos acontecimentos. Acompanhou o marido no exílio, regressando a Portugal no verão de 1976. (Arquivo António de Spínola)
Maria Estela Veloso de Antas Varajão casou em 1952 com Francisco Costa Gomes, Presidente entre setembro de 1974 e junho de 1976. Conheceram-se a pedido dele que vira um retrato dela no atelier do pintor Henrique Medina e insistiu para que o artista promovesse um encontro. Maria Estela acompanhou o marido nas suas deslocações oficiais ao estrangeiro e foi a primeira primeira-dama a ocupar o Palácio de Belém por motivos de segurança, pois a instabilidade política desaconselhava que permanecessem na habitação particular, na Av. Estados Unidos da América. Tentou tornar a residência oficial confortável e digna, tarefa complicada até porque o edifício estava desocupado há largo tempo (desde Craveiro Lopes, Presidente de 1951 a 1958). Maria Estela Varajão é a senhora à esquerda na fotografia, aquando da visita do Presidente do Senegal, Léopold Sédar Senghor, a Portugal.
Maria Manuela Duarte Neto Portugal Ramalho Eanes é licenciada em Direito, e casa com António Ramalho Eanes em 1970 na capela do Palácio de Queluz. Trabalhou no Ministério da Saúde e Assistência, depois no Instituto de Obras Sociais e no Ministério da Educação. Quando, em 1976, o marido se tornou no primeiro Presidente da República eleito por sufrágio universal e direto, assumiu o papel de primeira-dama a tempo inteiro, acompanhando-o nas viagens oficiais e recebendo chefes de estado e personalidades do mundo da cultura. Mudaram-se para o Palácio de Belém, sendo o último casal presidencial a fazê-lo. O primeiro mandato durou até 1980 (e incluiu o nascimento do segundo filho, batizado na capela do Palácio) e o segundo até 1986. Dos arquivos da Presidência fazem parte múltiplos pedidos de ajuda, revelando a importância que passou a ser atribuída à primeira-dama enquanto “figura do Estado”. Participou ativamente na campanha do Partido Renovador Democrático (PRD) e na campanha presidencial de Salgado Zenha. Foi uma das fundadoras, em 1983, do Instituto de Apoio à Criança, sendo sua presidente até hoje. Manuela Eanes, mulher do general Ramalho Eanes,na foto a falar com Manuel Dias, jornalista do JN, durante uma visita ao Hospital Maria Pia. (Arquivo JN)
Maria de Jesus Simões Barroso conheceu Mário Soares na universidade e casou com ele enquanto estava preso no Aljube, numa união que duraria 66 anos. Foi atriz profissional, formada no Conservatório Nacional, e licenciou-se em Histórico-Filosóficas. Por ser ativista contra o Estado Novo foi afastada do teatro e do ensino. Em 1973 integrou a fundação do Partido Socialista e seria eleita deputada várias vezes. Primeira-dama de 1986 a 1996, acompanhou o marido nas visitas oficiais e recebeu muitos chefes de estado e demais personalidades em visita ao país. Paralelamente, dirigiu o Colégio Moderno, da família Soares, constituiu a Associação para o Estudo e Prevenção da Violência (1990) e a Fundação Fundação Pro Dignitate (1994), envolveu-se em múltiplas causas defendendo vítimas da guerra, da fome, da xenofobia, da exclusão social. Entre 1997 e 2003 presidiu a Cruz Vermelha Portuguesa, da qual sairia “magoada” por o seu afastamento de não lhe ter sido diretamente transmitido pelo então Ministro Paulo Portas. Quando faleceu, em 2015, personalidades de todos os quadrantes políticos teceram-lhe rasgados elogios. (JN/João Ribeiro)
Maria José Rodrigues Ritta casou com Jorge Sampaio no mês da Revolução. Estudou Secretariado e Ciências Políticas e Sociais, foi manequim e secretária. Em 1967 começou a trabalhar na TAP, tornou-se supervisora do atendimento público e, no final da década de 70, ascendeu à direção comercial da companhia aérea. Após 30 anos de carreira optou por deixar a empresa para ser “colaboradora número um” do marido, o Presidente da República desde 1996 até 2006. “Ambicionando transformar o papel ‘caritativo’ normalmente reservado à primeira-dama num lugar de intervenção social” – refere a sua apresentação no site do Museu da Presidência – elegeu como causas principais os direitos da criança, a terceira idade, a deficiência, a pobreza e a integração social. Presidiu, em 2001, a Comissão Nacional para o Ano Internacional do Voluntariado, que tinha como objetivo incentivar e promover o trabalho voluntário. (AP Photo/Luísa Ferreira)
Foi no Algarve, de onde é natural, que Maria Cavaco Silva conheceu Aníbal Cavaco Silva, seu conterrâneo e com quem casaria em 1963. Licenciada em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras de Lisboa tornou-se professora, inclusive em Lourenço Marques, aquando da mobilização do marido para a guerra colonial. Também o acompanhou durante o doutoramento em Inglaterra. Docente na Universidade Católica desde 1978, manteve a atividade enquanto Cavaco Silva foi Primeiro-Ministro (1985-1995) e até 2006, quando foi eleito Presidente da República pela primeira vez. Já reformada, continuou lecionar pontualmente na Universidade por “sentir esse compromisso e por gosto”. Também deu aulas de língua e cultura portuguesas, a convite de universidades estrangeiras, no âmbito das visitas oficiais da Presidência. Durante o período em que foi primeira-dama apoiou diversas entidades, da Ajuda de Mãe à AMI, Fundação de Assistência Médica Internacional, e ao Centro de Reabilitação e Integração de Deficientes. O seu “mandato”, por vezes parodiado nas redes sociais, termina sem brilho, tal como o do marido, que deixa o cargo com o mais baixo nível de popularidade em dez anos. (Filipe Amorim / Global Imagens)

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O cargo de primeira-dama está em risco, agora que Marcelo Rebelo de Sousa se torna Presidente da República, sendo o primeiro homem não casado a assumir o cargo.

Em toda a história da democracia portuguesa as mulheres dos Presidentes assumiram funções protocolares, embora só no início da presidência de Jorge Sampaio surgiria a necessidade de legislar sobre o assunto: no decreto-lei 28-a/96, de 4 de abril, é criado um gabinete para “prestar apoio ao cônjuge do Presidente da República no exercício das atividades oficiais que normalmente desenvolve” constituído por dois adjuntos e um secretário designados de entre os quatro adjuntos e 15 secretários da Casa Civil, que também integra 12 assessores. Os custos são pagos pelo Orçamento de Estado.

Enquanto não sabemos o que vai mudar dentro do Palácio de Belém, visitamos as primeiras-damas desde 1974, nesta galeria.