Renate Roeleveld: “As mulheres podem fazer a diferença no golfe”

Renate Roeleveld_ DR
[Fotografia: DR]

Ela quer ter mais mulheres no golfe, dentro e fora dos campos. Renate Roeleveld é, há mais de uma década, responsável do campo de golfe Sluispolder em Noord-Holland, nos Países Baixos.

Sendo ainda uma das poucas mulheres neste campo, Renate, de 44 anos, é também dirigente, integra o conselho da organização NVG, a Associação Holandesa de Acomodações em Campos de Golfe, e quer trazer mais mulheres – amadoras e profissionais – para um desporto que tem vindo “a decair”, como refere.

Como? De duas formas: com o sexo feminino a integrar as entidades desportivas “porque só elas percebem exatamente o que é necessário para que se sintam bem no golfe” e criando programas para as trazer, a par dos filhos e da família, para os tees (o ponto onde se dá a primeira tacada de cada buraco). Com o golfe a decair, “as mulheres podem fazer a diferença neste desporto”.

Sextas de manhã para jogar golfe

Renate Roeleveld desenvolveu um programa que tem vindo a convocar participanets femininos para a modalidade. “Há cinco anos, comecei o FAB Friday (sexta fabulosa, em tradução literal) porque achávamos que precisávamos de mais mulheres em campo, mais novas. Elas estão lá, mas são muitas vezes as esposas de advogados, médicos. Não são o meu grupo”, explica a responsável ao Delas.pt.

À margem da conferência europeia do golfe que se realizou no Estoril, em fevereiro, Renate revelou que foi uma iniciativa que começou com “cinco ou seis mulheres a cada sexta-feira” e que agora conta “com cerca de 60 no grupo”. Todas as semanas, é feito o convite e, explica a responsável, “acabamos por ter cerca de 15 participantes no inverno e 30 no verão”.

Para Renate, este é um caminho. “Estão a chegar mulheres mais novas, trabalhadoras e mulheres entre os 40 anos e o início dos 50, cujos filhos estão já suficientemente crescidos, o que lhes permite mais liberdade”. Neste encontro semanal de cerca de uma hora, elas estão “apenas focadas no seu próprio jogo” e “começam por se sentir mais seguras e confiantes no jogo”. Conta a responsável que é comum algumas, em grupo, já terem encontros marcados para fazer partidas entre elas, à margem do programa inicial.

Com formação assegurada e sem a questão da competição posta à cabeça da partida, as mulheres acabam por integrar o jogo, são exemplo para os filhos, e algumas “trazem já os maridos”.

A escolha do dia e do período horário foi, avança Renate, crucial. “Nós começamos com uma hora para que as mulheres pudessem aparecer e ter tempo entre levar os filhos à escola e antes de ir ao supermercado para ir buscar, depois, as crianças”, explica.

Resultados diferentes obteve o programa congénere ‘Competição de Saltos Altos’. “Um colega disse que ia copiar o programa, aplicando-o às cinco da tarde, às sextas. Saltos altos? Eu mesma não queria estar neste programa. Depois, onde estão as mulheres às sextas, às cinco? Estão a cuidar da família ou talvez a beber um copo de fim de tarde com as amigas, não estão num campo de golfe. Claro que não resultou”, recorda.

Renate crê que os custos associados a este desporto – “que não serão assim tão diferentes no futebol ou no hóquei” – não são dissuasores do seu crescimento e de trazer mais crianças, sobretudo raparigas, para os campos. Mas não duvida que serão sempre as mulheres a convocar os filhos para a modalidade. “Os miúdos vêm mais frequentemente com as mães do que com os pais” e “quando os ensinamos em pequenos, eles podem sempre regressar mais tarde, quando começarem a trabalhar ou quando os joelhos já não permitirem”, afirma.

Adeus classificação de género, olá cores

Para a responsável, o golfe como desporto tem mesmo de ser repensado. “O número de pessoas que joga golfe está a decair e é preciso trazer mais mulheres, e os arquitetos deste desporto podem olhar para outros caminhos. Se calhar, as provas podem não ser apenas masculinas ou femininas”, aponta Renate.

E dá o seu caso como exemplo: “Eu consigo jogar e competir com homens, posso partir do mesmo tee que eles”. Por isso, defende, “mais do que o men’s tee ou women’s tee, eles deveriam ser por cores e pelas características e não por género. Quero poder ter um campo em que possam existir várias provas, em que todos possam participar, tal como no ski”, pede.

Admite que o processo pode levar tempo, Renate estima-o em “uma geração”, mas crê que essa tacada, a par da maior participação feminina em palcos decisores da modalidade, possa vir a ser decisiva para mudar o nível de participação.