Conferência sobre violência sexual online arranca este domingo. Saiba como participar

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[Fotografia: Pexels/Jonathan Borba]

Uma conferência internacional sobre a prevenção e combate à violência sexual ‘online’ contra crianças e jovens e o uso excessivo e problemático de ecrãs será o ponto alto da Semana do Bem-Estar Digital, que arranca este domingo, 28 de abril.

Organizada no âmbito do projeto Agarrados à Net, que promove o bem-estar digital de crianças, jovens e adultos, prevenindo e combatendo o ‘bullying’ e o ‘cyberbullying’, assim como a violência sexual com base em imagens e os impactos negativos das redes sociais na imagem corporal, a Semana do Bem-Estar Digital visa sensibilizar para o tema, colocando-o na agenda pública nacional. A 2.ª edição decorre até 4 de maio, a nível mundial.

Em Portugal, estão previstas iniciativas dinamizadas pelas entidades aderentes, como a divulgação de recursos sobre como famílias, escolas e comunidades podem melhorar o bem-estar digital, um ‘site’ dedicado ao tema e uma conferência internacional, na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto.

Na conferência, que decorre a 3 e 4 de maio, serão debatidos temas como o Aliciamento sexual – ‘sexting’ e extorsão sexual ‘online’ de crianças e jovens, Partilha não consentida de conteúdos íntimos: violência sexual baseada em imagens, Inteligência Artificial e Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Jovens, Como o Google e o YouTube combatem o abuso sexual de crianças ‘online‘ e Os impactos dos ecrãs no desenvolvimento da criança e do adolescente, entre outros.

“No ano passado sentimos que havia necessidade de criar um evento centralizador de toda essa informação, de forma anual, e surgiu a ideia de criarmos a semana do bem-estar digital, para mobilizar a sociedade”, explicou à Lusa Tito Morais, fundador do MiudosSegurosNa.Net, acrescentando que a intenção é “envolver o maior número de organizações possível”.

Como exemplo da promoção do envolvimento das escolas, apontou a criação do Selo Escola pelo Bem-Estar Digital, atribuído a estabelecimentos de ensino que promovam iniciativas sobre estes temas.

“Incentivamos muito as escolas, porque (…) chegam a um público maior em termos do número de crianças, mas qualquer pessoa, família ou indivíduo, pode comprometer-se a melhorar o seu bem-estar digital durante esta semana, ou até durante o mês”, explicou Cristiane Miranda, criadora do projeto Teen on Top e também envolvida na organização da Semana do Bem-Estar Digital.

Disse que ainda há uma grande “falta de consciência dos pais” quanto à dimensão dos riscos e ao quão prejudicial pode ser o excesso do uso dos ecrãs e das tecnologias, exemplificando com o tipo de conteúdos a que crianças e jovens hoje têm acesso, com facilidade, na internet, sublinhando que os impactos “são físicos e mentais”.

No dia anterior ao início da conferência internacional, a 2 de maio, serão promovidos dois ‘workshops’ especializados com o tema Prevenção e Combate à Violência Sexual Online Contra Crianças e Jovens no Metaverso. A participação nestas ações é gratuita, mas para participar na conferência paga-se um “valor simbólico” que rondará os 15 euros. Para professores, a formação é certificada como ação de curta duração.

“Parentalidade digital” vai ser tema e workshop

Um relatório publicado em fevereiro de 2024 pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova apresentou os resultados de um estudo que fez parte do projeto europeu ySKILLS, realizado entre 2021 a 2023, que abrangeu mais de 10 mil participantes entre os 11 e 16 anos, que concluiu que quatro em cinco adolescentes portugueses já se depararam com conteúdos ‘online’ de ódio ou prejudiciais à saúde.

Na conferência internacional vai também ser discutida a ‘parentalidade digital’, dando ferramentas aos pais para puderem acompanhar os filhos e protegê-los dos riscos à espreita na internet. Nesta área, vai estar na conferência Elisabeth Milovidov, considerada uma das maiores especialistas mundiais nesta área.

“Fizemos isto precisamente ao sábado, a pensar nos pais, para não haver desculpa”, disse à Lusa Cristiane Miranda, acrescentando: “Nós andamos a desenvolver o tema pelas escolas do país, fazemos sempre uma sessão com os pais e vemos a dificuldade que as escolas têm em levá-los a uma sessão destas. Mesmo à distância e com diversos horários”.

“Vamos a escolas com cerca de 2.000 alunos e numa sessão não conseguimos ter sequer 20 pais”, insistiu, sublinhando a necessidade de maior interesse e disponibilidade dos pais para participarem: “O problema não é pais não saberem. É os pais não quererem saber”.

LUSA