Todos os contracetivos aumentam risco de cancro da mama, diz estudo britânico

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[Fotografia: Pexels/ Jetshootscom]

Todos os contracetivos hormonais resultam num risco levemente maior para o cancro da mama, incluindo os que contêm apenas progesterona, cada vez mais usados, aponta um estudo publicado nesta terça-feira, 21 de março.

Os investigadores que conduziram o estudo destacam que o aumento do risco de cancro da mama deve ser ponderado em relação aos benefícios proporcionados pelos contracetivos hormonais, incluindo a proteção que oferecem contra outros tipos de cancro feminino.

O aumento do risco da doença já era bastante conhecido em relação aos anticoncecionais que combinam progesterona e estrogénio, mas, embora o uso de contracetivos contendo apenas progesterona esteja a subir desde há mais de uma década, até agora poucas pesquisas analisavam efeitos específicos no risco de cancro da mama.

O novo estudo, publicado na revista PLOS Medicine, observou que o risco de uma mulher desenvolver cancro da mama é quase o mesmo entre os contracetivos que contêm estrogénio e progesterona e aqueles que apenas contêm progesterona.

Segundo a pesquisa, as mulheres que usam contracetivos hormonais têm um risco aumentado de cerca de 20% a 30% de desenvolver a doença, independentemente do método escolhido (pílula, DIU, implante ou injeção) ou da fórmula usada (estrogénio-progesterona ou apenas progesterona).

As descobertas são semelhantes às já publicadas, inclusive as que foram verificadas num amplo estudo revelado em 1996. Levando em conta que as possibilidades de se desenvolver cancro da mama aumentam com a idade, os autores do estudo calcularam o excesso de risco absoluto associado aos contracetivos hormonais.

Para as mulheres que os tomaram durante um período de cinco anos entre os 16 e os 20 anos, tal representou oito casos de cancro da mama a cada 100 mil. Entre os 35 e 39 anos, foram 265 casos a cada 100 mil.

Risco temporário

 

“Ninguém quer ouvir que algo que toma aumentará o risco para cancro da mama”, disse Gillian Reeves, professora da Universidade de Oxford e coautora do estudo. Mas “o que estamos a falar aqui é de um aumento muito pequeno no risco absoluto”, enfatizou, em entrevista coletiva.

“Esses aumentos no risco da doença, claro, têm que ser vistos no contexto do que sabemos sobre os muitos benefícios do uso de contracetivos hormonais, não apenas em termos de controlo de natalidade, mas também porque sabemos que os contracetivos orais, na verdade, oferecem uma proteção substancial e a longo prazo contra outros cancros femininos, como os de ovário e endométrio”, acrescentou a professora.

O estudo também confirmou, assim como outros, que o risco de cancro de mama diminui nos anos posteriores à interrupção do uso de contracetivos hormonais.

Stephen Duffy, professor da Universidade Queen Mary de Londres, que não participou do estudo, descreveu as descobertas como “tranquilizadoras, porque o efeito é modesto”.
O estudo envolveu dados de quase dez mil mulheres com menos de 50 anos que tiveram cancro da mama entre 1996 e 2017 no Reino Unido, onde o uso de contracetivos contendo apenas progesterona é tão amplo quanto o do método combinado.

Os anticoncecionais exclusivamente de progesterona são recomendados para mulheres que estejam a amamentar, que têm risco de problemas cardiovasculares, ou para fumadoras com mais de 35 anos.
Entre os fatores que explicam o aumento do seu uso pode estar o facto de “as mulheres estarem a tomar anticoncecionais mais tarde”, o que faz com que, naturalmente, apresentem essas predisposições em maior quantidade, indicou Gillian Reeves.