Trabalho: Quando o tipo de cabelo é fator de discriminação

Young woman wearing raincoat
[Fotografia: Istock]

As mulheres negras que se apresentam com o seu cabelo natural podem ser prejudicadas no acesso ao trabalho devido ao preconceito. Esta foi uma das conclusões de um estudo levado a cabo pela Fugua School of Business, da Universidade norte-americana de Duke. Segundo a mesma análise, as mulheres negras que optam pelo seu estilo de cabelo natural são potencialmente mais vítimas de discriminação nos locais de trabalho, perpetuando preconceitos racistas. Se optarem por esticar o cabelo, refere o mesmo estudo, são percecionadas como mais profissionais.

Ashleigh Shelby Rosette, professora de administração e reitora associada da instituição de ensino privada, explica, citada pelo site americano Huff Post, que “o impacto do penteado de uma mulher pode parecer mínimo, mas para as mulheres negras, é uma consideração séria e pode contribuir para a falta de representação dos negros em algumas estruturas organizacionais”.

O estudo que pretendeu detetar este tipo de preconceitos consistiu em pedir a centenas de participantes de várias etnias que assumissem o papel de responsáveis de recursos humanos e avaliassem candidatos a empregos que estavam a a frequentar MBA. Todos receberam os perfis de candidatos negros e brancos, tendo de os avaliar em múltiplos fatores, entre eles o profissionalismo e competência.

Os investigadores concluíram que as mulheres negras com penteados naturais estavam a receber notas mais baixas e não foram recomendadas com tanta frequência para entrevistas, comparando com três outros tipos de candidatas: mulheres negras com cabelos alisados, mulheres brancas com cabelos ondulados e mulheres brancas com cabelos lisos.

Esta investigação, que irá ainda ser publicada na revista Social Psychological and Personality Science, refere mesmo que dois diferentes grupos de participantes avaliaram a mesma candidata – uma mulher negra – a um emprego: um deles viu uma foto da candidata com cabelos naturais enquanto o outro viu-a com cabelos alisados. Este segundo considerou-a mais profissional – definiu-a como mais polida, refinada e respeitável – e recomendou-a de forma mais veemente para uma entrevista de trabalho.

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À CNN, a mesma professora lembrou que o preconceito difere consoante o tipo de setor contratante. Ora, explicou a especialista, as candidatas negras com cabelo natural foram mais discriminadas quando estavam a ser selecionadas para cargos em consultoria e gestão, o que os investigadores justificam pelo facto de terem “padrões de vestuário mais conservadores”. Contudo, tal não se verificou na publicidade. Para Ashleigh Shelby Rosette, citada em comunicado de imprensa, “tal sucede porquês trata de uma indústria mais criativa, com normas de vestimentas menos rígidas”.

E embora se possa pensar que o cabelo é secundário, este estudo vem deixar claro que não é bem assim. “Cabelo não é apenas cabelo.” “Uma mulher negra com um penteado natural não deve ser vista” -prossegue a académica – “como uma declaração, quando pode ser apenas a maneira mais fácil, saudável e económica de pentear o cabelo, devido ao custo dos tratamentos de alisamento e seus potenciais efeitos negativos no cabelo e couro cabeludo”, alerta.