Carolina Torres: “A minha mãe foi um mega pai”

Notícias Magazine

Carolina Torres tornou-se conhecida entre os portugueses em 2009, por participar no programa Ídolos, da SIC. Não venceu, mas o carisma, irreverência e boa disposição levaram-na a ficar no canal como apresentadora do Curto Circuito, da SIC Radical. Em 2013 deixou o programa juvenil. Entretanto fez sketches de comédia para a Internet e participou na série Lendas do Asfalto, que está a lutar por sair da gaveta e conquistar um lugar na ficção nacional.

Recentemente pudemos vê-la brilhar no programa de imitações da TVI, ‘A Tua Cara Não Me É Estranha’. Mas esse capítulo já terminou e a jovem de 28 anos não para. É a embaixadora da nova linha de maquilhagem Mark, da Avon, e acaba de abraçar, pela primeira vez, o desafio de participar numa telenovela. Regressa à SIC para dar vida a uma designer açoriana na novela Espelho d’Água, que estreia em maio.

Numa conversa com o Delas.pt, Carolina Torres fala da carreira, dos novos desafios. Esclarece que não recebeu qualquer convite da TVI para apresentar um programa. Desabafa sobre a dificuldade que os produtores independentes têm em introduzir novos conteúdos de ficção nos canais nacionais. E explica como aprendeu a lidar com a ausência do pai e até como uma maria-rapaz pode gostar de Barbies e tornar-se embaixadora de uma marca de maquilhagem.


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Hoje é o Dia do Pai. O seu deixou a sua mãe quando soube que ela estava grávida e nunca o conheceu. Foi criada só pela sua mãe e avó, mas é uma mulher cheia de garra. Quais foram os ideais que a sua mãe lhe foi passando para que lidasse bem com essa ausência?

A minha mãe é muito fixe e quando eu era miúda era ainda mais. Sempre olhei para a minha mãe como um ser superior, a mulher mais bonita do mundo, com o coração mais cheio do mundo, com tanta força. Pensamos de maneira diferente em muitas coisas, mas sei que também temos muito em comum. Ela sempre reagiu a isso com naturalidade, algum humor e ainda bem porque herdei esse sentido de humor e sei rir-me disso. Quando começo a rir, seja do que for, parece que relativizo o problema a um ponto que já não me pode chatear ou magoar. Faço isso com tudo. Trabalho, amores, amigos, tudo. Aprendi com a minha mãe e o George Carlin [humorista norte-americano]. Nunca fui de resolver os meus problemas com o pensamento “alguém está pior do que eu”, isso só me deixa mais triste, não me faz sentir melhor. Mas cada um tem a sua forma de resolver os problemas.

Como costumava lidar com este dia em criança?

Fazia a prenda para o marido da minha mãe ou dava à minha mãe, ela no fundo foi um mega pai. Passei por alguns momentos esquisitos por não conhecer o meu pai, mas honestamente nunca perdi muito tempo com isso. Estava demasiado ocupada, apaixonada pela vida e pelas suas possibilidades.

Como encarou o convite da Avon para ser embaixadora da nova linha de maquilhagem Mark?

Já estava a tentar trabalhar com maquilhagem há algum tempo porque curto muito, mas nunca me tinha associado a uma marca. Por isso é fixe uma marca ter encontrado a gama certa para mim. A Mark é mais irreverente, mais carregada e acharam que como era um bocado mais fora da caixa funcionava bem para mim. Fiquei feliz.

Sempre disse que era maria-rapaz. Como é que uma maria-rapaz se associa a uma marca de maquilhagem?

Há o grande mito de que as marias-rapazes não se cuidam ou não têm brio com elas. Admito que não ligo muito a roupa, por mim andava sempre vestida da mesma forma, mas em relação à maquilhagem não. Gosto muito de me maquilhar. Também vem do facto de a minha mãe sempre ter experimentado muita maquilhagem em mim quando era miúda, colocava-me eyeliners e eu adorava. Isto não significa que uma rapariga que usa maquilhagem não possa ser maria-rapaz, ter uma vida bastante ativa, fazer MMA, roller derby [desporto jogado por duas equipas de cinco elementos que patinam na mesma direção à volta de uma pista], só porque usa eyeliner. Aliás, a maior parte das rock and rollers usa pelo menos um eyeliner.

Mas nunca foi uma daquelas crianças que tem a sua própria maquilhagem?

Não, mas gostava. O primeiro erro que me lembro de cometer foi ir a uma loja dos trezentos perto de minha casa e roubar purpurinas. Senti-me tão mal por ter roubado que não conseguia usá-las. Experimentei purpurinas e pensei: “Uau! Isto é tão fixe!”, mas depois não podia usá-las porque a minha mãe ia perguntar onde é que tinha ido arranjar aquilo. Foi aí que percebi que não era talhada para fazer esse tipo de esquemas. Mas sempre gostei muito de maquilhagem. Adoro Barbies, por exemplo. Ainda hoje tenho, comprei-as no eBay, todas dos anos 80 e 90.

E como é que a maria-rapaz Carolina Torres começa a gostar de Barbies?

A Barbie foi a primeira boneca adulta, antes dela eram só bebés, as mulheres só tinham uma coisa para brincar: fazer de conta que eram mães. Era-lhes incutido que tinham de ser donas de casa ou mães. A Barbie foi a primeira boneca independente, tem todas as profissões e está representada em todos os países. Surgiu na altura da emancipação da mulher, em que já podíamos votar, trabalhar fora de casa. Às vezes temos uma visão fútil da maquilhagem ou da Barbie, mas podemos usar esse tipo de coisas com um fim completamente diferente, têm outro significado. O facto de fazermos um eyeliner ou nos maquilharmos não significa que sejamos feias ou inseguras. Significa apenas que curtimos maquilhagem, curtimos ver os nossos olhos mais carregados, os lábios vermelhos ou só porque vimos num filme. São referências diferentes.

Maquilha-se todos os dias?

Claro que não preciso de me maquilhar todos os dias, no verão não me maquilho. Isso também não significa que seja segura, sou muito insegura e ainda bem. Se não fosse, a vida era uma seca do caraças. Abraço muito bem a insegurança.

A maioria dos seus amigos são rapazes. Não gozaram consigo por agora dar a cara por uma marca de maquilhagem?

As minhas amigas que estavam na apresentação da marca sabem que tenho alguns problemas em ter amigas raparigas porque não respondo sempre às mensagens, não estou lá sempre, não vou sair todas as noites, mas quando estou com elas são tudo para mim e passamos bons momentos juntas. Elas acharam imensa piada ao facto de me estarem a ver ali a falar para um público maioritariamente feminino. Os meus amigos acharam engraçado fazer um trabalho com maquilhagem, mas eles têm noção de que curto e que faço caracterização. Aliás, um dos meus primeiros trabalhos foi numa produtora no Porto, a Lightbox, que fez o filme Balas & Bolinhos, e foi como maquilhadora. Foi o meu primeiro trabalho à séria, ganhava bastante dinheiro, vinha muitas vezes para Lisboa e quando maquilhava as pessoas elas perguntavam: “Onde é que tiraste o curso?” e não tirei curso nenhum.

Como aprendeu a maquilhar?

Aprendi a ver a minha mãe e a achar piada àquilo. Curto fazer sangue. Quando estava a estudar cinema não tínhamos dinheiro para comprar nada. Pegávamos em papel e com silicone ou outra espécie de colas fazíamos uma pasta e pintávamos tudo, para dar a ideia de ferida. É muito fixe, uma arte, sem dúvida. Agora trabalho há quase oito anos em televisão, mas foi um grande choque para mim quando me maquilharam pela primeira vez porque a maquilhagem de TV é muito forte. Aprecio muito o trabalho das nossas maquilhadoras, é mais um grupo de pessoas que temos de respeitar na nossa área porque se elas quiserem que entremos no ar com os olhos trocados, nós vamos entrar no ar com os olhos trocados e nem notamos. Apesar de nunca ter visto ninguém a fazer isso.

Este ano no Carnaval usou algo de especial? Teve oportunidade de maquilhar alguém?

Sim, a minha prima. Transformei-a em Harley Quinn. Foi muito fácil. Só precisei de pintar-lhe um pouco a cara de azul, cor-de-rosa, fazer-lhe um coração e pintar-lhe o cabelo. Ficou louca. Eu mascarei-me de mulher invisível e publiquei no Instagram. Na foto só aparecem as minhas botas e o telemóvel enquanto estou a tirar uma selfie ao espelho. Deu-me imenso trabalho fazer aquilo no Photoshop. É uma mulher invisível que, curiosamente, está toda nua porque não tem roupa, só mesmo as botas e o telemóvel.

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Carolina Torres com a prima, que maquilhou este Carnaval

Teve alguma intervenção na produção da linha de maquilhagem Mark ou foi contactada só depois?

Só depois. Se estivesse nos EUA talvez fosse mais envolvida no processo, para cá veio já formatado. Preocupa-me sempre testar os produtos antes de aceitar o trabalho, neste caso foi um bocado à confiança. Elas deixaram-me aqui nesta mesa algumas coisas para experimentar. A Avon é muito a marca das mães, daquela nossa vizinha que vende produtos e a quem, de vez em quando, lá pedimos qualquer coisa. Não conhecia muito bem os produtos. Curiosamente experimentei o eyeliner preto de lápis deles e é muito bom, não sai. Fiquei contente por estar associada a uma marca que tem coisas de qualidade. Às vezes na nossa área é difícil distinguir um statement do trabalho. Podem pedir-nos para pegarmos num iogurte e dizermos que ao comer aquilo os nossos intestinos funcionam bem todos os dias, é dinheiro. Mas também é fixe sabermos que ao comermos o iogurte aquilo acontece realmente. É bom conseguirmos controlar isso quando nos associamos a marcas. Faz sentido e fico contente por estar a representar uma marca que tem produtos de qualidade.

Além do lápis preto, de que outros produtos desta linha de maquilhagem mais gosta?

A máscara de pestanas que tem três níveis de intensidade. Claro que uso sempre o nível três, o máximo. A tecnologia daquilo é relativamente simples. Ao tirarmos a escovinha, aquilo aperta mais, deitando mais produto. Faz-nos as pestanas muito grandes e dura bastante porque o produto é muito fixe. Não gosto de usar coisas falsas, pestanas falsas, extensões, unhas de gel. Uma vez tentaram fazer-me gelinho, na única vez em que me arranjaram as unhas, e aquilo começou a empolar, a criar bolhas. Disse à senhora que achava que o meu corpo estava a rejeitar aquilo, percebi logo que não ia funcionar, não fui feita para essas coisas. Acho piada, mas não ia conseguir pegar numa moeda que caísse ao chão se tivesse as unhas muito grandes. Às vezes deixo crescer, mas é porque me esqueço. Gosto imenso de estética e de cosmética.

Nota-se…

Gosto, a sério, mas essas alterações não são a minha onda. Tenho imensos amigos e amigas que usam produtos que quase lhes alteram a cara. Um deles está a fazer um tratamento que lhe está a tirar as rugas todas, está esticadinho e isso é muito assustador. No outro dia também me convenceram a pôr só de um lado uma coisa que nos estica as olheiras, senti a pele a esticar-se toda. Tenho muito medo dessas coisas. Experimentei porque queria saber como era, não quero morrer estúpida, mas não gostei. Devemos fazer o que quisermos, o importante é sentirmo-nos bem connosco. Para mim é igual se as pessoas me aparecem à frente com umas aranhas nos olhos ou com umas unhas enormes. Em mim é que não gosto muito. Já me puseram pestanas falsas, daquelas de colar, para um trabalho para o Rock in Rio e à medida que elas vão caindo as nossas pestanas também caem porque estão agarradas àquilo. Então fiquei sem pestanas, o que para mim é na boa, mas prefiro tê-las.

Em relação aos tons da maquilhagem, prefere os mais suaves ou as cores vivas?

Gosto mais de tons claros, mas a marca e a Mark é de tons mais escuros e mais fortes. Gosto dos tons escuros quando vou sair à noite, depende muito da ocasião, mas nem sempre ficam bem na minha cara e fico muito triste. Ultimamente tenho puxado mais pela maquilhagem, com os olhos sempre muito escuros e os lábios roxos, é o que uso para sair à noite. Noutras ocasiões gosto mais de me ver com tons suaves.

Tem rotinas de beleza?

A minha mãe obrigou-me a começar a tratar da minha pele. Faço limpeza, tónico e hidratação, são os três passos básicos. Também ponho esfoliante de vez em quando. No outro dia experimentei uma coisa incrível, que é máscara de argila. A pele fica muito suave. Gosto da minha pele, é muito fofinha apesar de às vezes ser estúpida e escamar toda por ser tão seca.

A representação sempre foi uma das suas apostas. No final do ano passado foi protagonista da peça de teatro infantil A Bela e o Monstro no Gelo. Foi difícil dar vida a uma princesa?

É fácil fazer de má e de boa, mas fazer de princesa é muito difícil porque é algo completamente irreal. A minha coreógrafa batia-me nos joelhos porque, como fiz roller derby, andava curvada nos patins e ela dizia-me que, como era princesa, tinha de andar toda esticadinha, mas adorei fazer a Bela. Foi muito fixe.

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Carolina Torres ao lado de Diogo Faria, protagonistas do musical infantil ‘A Bela e o Monstro no Gelo’

E gosta mais de fazer teatro ou televisão?

Fiz teatro durante muitos anos, quando era mais miúda, e fazia coisas muito pesadas sem ter noção disso, era muito automático para mim. Gostei muito de fazer o musical porque o público era maioritariamente composto por crianças, é fixe vermos os miúdos a viverem mesmo aquilo. É um público mais sincero, com menos filtros. É mesmo fixe quando eles dizem que gostaram, aquilo foi feito para eles.

Agora vai fazer parte do elenco da nova telenovela da SIC, Espelho d’Água. Como encarou este novo desafio?

Sempre quis fazer ficção mais a sério, portanto aceitei o convite com muita paixão e, claro, muito medo, que é sinal de que respeito a representação. Estou com uma equipa que já faz novelas há muitos anos, sinto-me segura e protegida. Há compreensão da parte deles e esforço da minha.

Diz-se por aí que foi convidada para apresentar um programa na TVI mas recusou. É verdade?

Não fui convidada para apresentar um programa. Escreveram isso, mas só fui convidada para participar num programa, nada de formal, foi falado por alto. Fui muito bem tratada na TVI, aprendi muito e agradeço mesmo a oportunidade que me deram.

Este é também um regresso à SIC, a sua casa-mãe. Nota diferença por estar agora como atriz e não como apresentadora?

É completamente diferente estar na ficção, as equipas são diferentes, o ritmo é diferente e a entrega também. Já estava falada a hipótese de voltar à SIC, portanto para mim não foi uma surpresa. Fico feliz por poder fazer parte de um elenco tão talentoso e de uma equipa tão profissional.

Nunca fez uma novela. Quais são os maiores desafios?

O registo da novela é muito diferente, muito específico. A linguagem tem regras, tudo isso é novo para mim, mas estar tão envolvida numa personagem é o maior desafio. Não é algo que faça num dia e depois esqueça, como quase tudo o que fiz. É um trabalho contínuo, uma criação. A responsabilidade é maior. Há uma preocupação de darmos o nosso melhor, não só por nós mas porque sabemos que os nossos colegas precisam disso. Se não der o meu melhor, não vou conseguir que o meu colega sinta o que quero dizer e reaja. Daí falar-se muito da generosidade dos atores.

Vai dar vida a uma designer. Pode falar-nos um pouco da personagem?

A Inês vive nos Açores, é designer, quer ser independente e ganhar o seu dinheiro, mas é muito complicado porque é freelancer e todos nós, principalmente malta mais nova, está a par do que é trabalhar nestas condições. Ela namora com o Afonso [Gonçalo Norton], amam-se muito e estão sempre com o Kiko [António Rego], que é o melhor amigo deles. É um power trio dos Açores, muito unido e divertido.

Há alguma característica que a Inês tenha em comum consigo?

Sim, essa parte mais independente, sempre tive isso. A minha mãe e a minha avó sempre me educaram assim, até sou demasiado às vezes.

Está sempre a mudar de penteado, mas desta vez, por causa da novela, foi obrigada a um look mais radical. Como está a lidar com isso?

Agora melhor, mas é um choque, sim. Já consigo tirar selfies e tudo, mas quero deixar crescer o cabelo.

Tem-se falado muito da desigualdade salarial entre homens e mulheres. Sente isso na televisão?

Tenho andado a procurar casos específicos, mas ainda não encontrei. O que me custa mais no facto de ser mulher, e que é muito triste, é que se um Salvador Martinha, um Rui Unas ou um Manzarra disserem alguma coisa esquisita, as pessoas consideram isso incrível. Mas se uma mulher disser exatamente a mesma coisa, e se envolver palavrões, isso já é um escândalo. Para quem cresceu com rapazes, os meus primos, com 90% de porrada entre nós os três, não faz sentido eu não poder ser quem sou e ter de ser cordial ou politicamente correta. Não preciso de dizer palavrões para dizer coisas esquisitas. O conceito de groupie [alguém que procura intimidade emocional ou sexual com um músico] é algo que só acontece associado a mulheres, nunca ouvi ninguém dizer “aquele rapaz é um groupie” e tenho amigos que são grandes groupies, vão atrás das bandas. Sempre questionei por que razão existem certas palavras que são negativas, são insultos, feias, e só são aplicadas a mulheres quando tanto mulheres como homens têm a mesma postura em relação a essas coisas.

O facto de as mulheres poderem engravidar ainda faz com que sejam colocadas de parte em alguns projetos?

Há uns anos soube de umas histórias obscenas em relação a isso, mas em televisão não. Na TV é cada vez mais bonito uma mulher ser mãe, as pessoas identificam-se imenso e pode ser uma mais-valia para a nossa personagem televisiva. A Cláudia Vieira fez o Ídolos bem grávida e foi na boa, nunca senti qualquer preconceito. Claro que ela saberá responder melhor a isso porque não estou grávida nem tenciono estar tão cedo. Há pouco tempo uma amiga minha, a Irma Dali, contou-me que estava grávida, quando ainda ninguém sabia, e na altura ela estava preocupada por causa do trabalho. Contei-lhe o caso de outra amiga minha, a Joana Gama, que foi exatamente por ter sido mãe que arranjou trabalho. Ninguém deixa de ser quem é por ter um filho, isso potencia mais a nossa força, ficamos como leoas. Foi isso que tentei explicar à Irma. É algo que nos obriga a sair da cama e a lutar mais, porque deixa de ser só para nós e passa a ser também para outra pessoa pequenina que está à nossa espera. É fixe percebermos que se tivermos criatividade e uma boa perspetiva do mundo conseguimos fazer coisas muito giras. A Irma começou a publicar fotos da barriga e vídeos em que canta para o bebé. Isso é muito fixe e gosto de sentir isso. Quando estou chateada às vezes os meus amigos vão buscar fotos de bebés. Amolece o coração de todos.

Não se vê como mãe?

Vejo, mas não agora. Quero ter uns 10, adoro putos. Gosto mesmo muito deles. Agora tenho outros projetos, depois logo se vê.

Está também a criar uma produtora…

Estou a começar, é muito fixe produzir, tenho-me divertido muito com essa parte.

Participou também numa série que ainda não saltou cá para fora, Lendas do Asfalto.

Continuamos em reuniões. Estivemos na Fox e noutro grande canal português, mas sinceramente não sei como será, é muito complicado e percebo o risco. Hoje em dia os canais televisivos, à exceção da RTP que agora está a apostar muito na ficção nacional, têm uma grelha que funciona com os programas da manhã, da tarde e os jornais. Nunca fogem muito disso nem têm necessidade, mas continuo a lutar sempre pela ficção nacional, para que seja cada vez mais e melhor. Nem que sejam conteúdos de comédia como fizemos com as Lendas do Asfalto porque quase todas as pessoas que conheço veem séries estrangeiras como Game of Thrones, Breaking Bad e Walking Dead. Está na altura de atacar porque os EUA vão deixar de ser o país fixe em 2017. Somos um país pequeno, temos sempre de remar um bocado contra a maré, mas temos muito para dar e se não fizermos coisas novas, não vale a pena. Sinto que somos muito empreendedores, tenho imensos amigos a criar projetos novos por causa da crise.

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Flaming, a personagem de Carolina Torres na série Lendas do Asfalto

Mas também há quem desista pelos obstáculos que encontram…

Desistir muito facilmente também não é fixe. Quando estava no Curto Circuito ainda tinha mais acesso a essas novas ideias.

Tem saudades do Curto Circuito?

Algumas, foi a minha escolinha. Gosto muito deles, têm imenso talento, o programa faz muita falta e devia ter ainda mais meios.

O público também foi mudando ao longo dos anos…

Há pessoas com 30 e tal anos que me dizem: “O CC já não é a mesma coisa, aquilo só era fixe quando estava lá o Alvim”. O que não percebem é que o CC já não é para elas, o facto de verem o CC ainda é que é um bocado esquisito, o programa não está feito para pessoas dessa idade. É fixe verem, mas não é suposto pensarem que está demasiado jovem, isso é uma mentalidade de cota. Há uma faixa etária que o CC tem de seguir.

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Carolina Torres a apresentar o Curto Circuito, na SIC Radical

Vê-se a apresentar algum dos programas de entretenimento da TV portuguesa?

Não. Há programas que curto, mas Portugal neste momento não tem nada de especial para mim. Isto é muito arrogante, mas é verdade. Não me imagino a fazer programas da tarde nem da manhã, portanto 50% da televisão nacional já estava excluída. Estou a gostar cada vez mais da RTP porque, como têm o dinheiro do Estado e não é pouco, têm apoiado projetos muito fora da caixa e isso é muito fixe. Nunca tinha pensado nisso dessa maneira, sempre olhei para a RTP como o canal dos velhotes e não é.

Adora música e até já teve uma banda. No futuro, quer investir numa carreira musical?

Nunca quis vender música. Na televisão e comunicação vendo-me à vontade, mas na música nunca me quis vender. Gosto de fazer música só porque sim. Provavelmente depois de sair daqui vou bater uns pratos porque estou muito stressada.