A atriz Kate Winslet assumiu recentemente numa entrevista bem-disposta que sofre de perdas involuntárias de urina. No The Graham Norton Show a atriz inglesa falou do filme Steve Jobs, de ter ganho o Oscar há oito anos e também de um problema que é seu e de muitas mulheres:
“Eu já não posso saltar em trampolins. É horrível, principalmente se estiver a usar uma saia. É incrível, dois espirros, fico bem. Três, é um jogo perdido”.
A incontinência urinária é comum nas mulheres e torna-se mais frequente à medida que o tempo vai passando. Nas mulheres maiores de 60 anos há uma prevalência de 70%. Mas nas mais jovens também acontece, ainda que em menor escala. Por isso, “é muito importante o esclarecimento, a prevenção e o tratamento precoce” diz o urologista Manuel Mendes Silva, que aqui nos ajuda a traçar os principais contornos da incontinência urinária.
Existem três tipos de incontinência
Incontinência de esforço, predominante nas mulheres jovens ou adultas, “em que as perdas estão relacionadas com os esforços, a uretra e bexiga estão ‘descaídas’ e saem fora da cintura de pressão abdominal”. Pode resultar do esforço do parto mas também poderá ter como causa uma deficiência esfincteriana (o mecanismo que impede que a urina saia da bexiga).
Incontinência de urgência, mais frequente nas idosas, em que se “sente uma vontade imperiosa de urinar e não se consegue suster, havendo dessa forma perda urinária e incontinência” e que pode dever-se a “bexiga hiperativa ou híper-reflexa, pedra, tumor, etc.” As infeções urinárias são uma das causas: acontece a “invasão dos micróbios existentes no ânus e vulva, que ‘sobem’ pela uretra até à bexiga e, eventualmente rins, quando as defesas estão diminuídas ou quando há hábitos que as diminuem.” Outras causas reversíveis incluem a obstipação, certos medicamentos usados com alguma frequência nas idosas, a imobilidade e certos maus hábitos de micção.”
Incontinência mista, que associa os dois tipos anteriores. Também existem casos de origem psicológica mas são raros.
Como se trata?
A incontinência urinária de esforço pode melhorar com “fisioterapia do pavimento pélvico” ou seja, uma espécie de ginástica dirigida para a zona que rodeia a uretra, de forma a por os músculos ali existentes a trabalhar bem outra vez. Há depois as “minicirúrgias” que reforçam o fechamento da uretra e que têm uma alta taxa de sucesso na cura.
Já a incontinência de urgência “não tem indicação cirúrgica mas tem tratamentos medicamentosos e, em casos especiais, indicação para injeções intravesicais (ou seja, injeções dentro da bexiga por endoscopia)”. Os resultados nestes casos também são vantajosos para a maioria das pacientes.
Prevenir é possível?
Sim, é. É preciso desde que somos pequenas ensinar o nosso corpo a urinar: “Uma educação miccional, com bons hábitos desde a infância; micção frequente e completa; um fortalecimento dos músculos do pavimento pélvico, com exercícios, sobretudo depois dos partos [a famosa ginástica pós-parto]; e a prevenção da atrofia da mucosa vaginal depois da menopausa são fatores preventivos”.
Como é que se aprender a fazer chichi corretamente? Tendo em contas indicações simples, como: Não se deve reter a urina por muito tempo, e não se deve interromper o jato a se ter a bexiga vazia. Claro que é importante adequar as necessidades às circunstâncias no dia-a-dia. “É essa a função do controle do reflexo miccional,” refere o médico. No entanto, não devemos levar a bexiga e a uretra ao limite. E mais! Deve-se urinar antes de se ‘estar aflitinha’. Sabe aquela frase que ouvimos em criança “Antes de sair vamos à casa de banho”? É para levar a sério também quando somos adultas. Para evitar infeções urinárias que desembocam depois em perdas involuntárias de urina, após a micção as mulheres devem limpar-se com papel absorvente macio da frente para trás. Com o mesmo fim de evitar infeções, é aconselhável urinar após as relações sexuais.
Exercite-se!
Conhecidos por exercícios de Kegel, os exercícios de fortalecimento pélvico são recomendados no pós-parto, na menopausa e na incontinência urinária, entre outras situações. Mesmo que não precise, faça-os periodicamente pois ajudam a prevenir futuros problemas.
Basicamente consistem na contração dos músculos “que habitualmente contraímos voluntariamente quando impedimos a saída de um gás intestinal ou retemos a evacuação, ou quando ‘apertamos’ para impedir ou interromper a micção. Não são os músculos abdominais ou os adutores das coxas, os quais devem estar relaxados aquando destes exercícios, sendo contraídos apenas os músculos do pavimento pélvico”.
Devem ser feitas séries de contrações de vários segundos, seguidas de relaxamento, em qualquer posição, o que significa que podem ser executados em qualquer lugar, da paragem de autocarro à secretária do trabalho.
Acordar para urinar é mau sinal?
Muitas mulheres queixam-se de que começaram a acordar de madrugada para urinar a partir de uma certa idade. Ora isso “não é normal. Mas [levantar] ‘uma vez’ não se considera anormal, sobretudo se se bebem líquidos à noite” refere o urologista.
“Pode haver várias razões para se urinar mais vezes de noite, por problemas na bexiga mas também por maior produção de urina (abundante ingestão líquida ou alcoólica, doenças cardiovasculares, metabólicas, etc.), alterações do sono, certos medicamentos, entre outras causas”.
O drama das fraldas
Pode ser necessário o recurso a pensos diários, proteções (com maior capacidade de absorção) ou mesmo a roupa interior absorvente, que nos últimos anos têm tido “significativas evoluções técnicas”. Não é fácil lidar com essa situação, pelo que “o apoio psicológico, familiar e social (e económico) pode ser importante”, alerta o urologista. Mas é preciso também procurar no mercado os diversos modelos existentes, cómodos e discretos, mesmo para quem pretende manter uma vida ativa.