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A nova ministra da cultura francesa elogiada pelas portuguesas

Françoise Nyssen, 65 anos, ministra da Cultura: Arquiteta e urbanista de formação, herdou a editora Actes-Sud do pai. Tem traduzido obra de autores portugueses [Fotografia: gouvernement.fr]
Agnès Buzyn. 54 anos, ministra da Saúde e da Solidariedade: Médica e professora de hematologia, estava à frente do Instituto Nacional do Cancro. Para integrar o governo abandona o cargo de presidente da Alta Autoridade para a Saúde. Como investigadora, trabalhou com farmacêuticas e foi também consultora dessas empresas. [Fotografia: gouvernement.fr]
Sylvie Goulard, 52 anos, ministra da Defesa: Jurista de formação era atualmente eurodeputada centrista. Em 2014, criticou duramente a "hipocrisia" do poder político francês em matéria de igualdade entre homens e mulheres, que vinham a terreiro defender as quotas, mas depois tinham défice de nomeação de mulheres para as suas estruturas.[Fotografia: gouvernement.fr]
Laura Flessel, 45 anos, ministra do Desporto: antiga campeã de esgrima individual e de grupo nos Jogos Olímpicos de Atlanta (1996), ela auto intitula-se "a vespa", pela rapidez com que 'picava' os adversários durante as partidas. Durante seis anos segurou o título de campeã do mundo e da Europa. Em 2002, esteve suspensa três meses após um controlo de anti doping que deu positivo. Ao nível televisivo, participou e brilhou no concurso de celebridades 'Dança com as Estrelas' [Fotografia:gouvernement.fr]
Marlène Schiappa, 34 anos, secretária de Estado para a Igualdade entre mulheres e homens: Autora do blogue ‘Maman travaille’ [A Mamã Trabalha, em tradução literal], conta, desde 2008, as aventuras e desventuras da conciliação entre o mundo do trabalho e a maternidade e família. É também escritora - tem mais de uma dezena de títulos publicados - e ativista pelos direitos do sexo feminino. [Fotografia: gouvernement.fr]
Annick Girardin, 52 anos, ministra do Ultramar: membro do Partido Radical de Esquerda, esta política tinha integrado o anterior executivo liderado por Manuel Valls, com a tutela do ministério para a Função Pública. Em 2016, como ministra, escreve uma crónica para o site de informação francês Mediapart, em que denuncia o "sexismo insidioso", na sequência de uma montagem de vídeo que recolhia declarações suas, e escolhe o título "como fui tratada como uma prostituta". [Fotografia: gouvernement.fr]
Sophie Cluzel, 56 anos, secretária de Estado para as Pessoas com Necessidades Especiais: Responsável associativa, é sobre os ombros desta mulher que repousa uma das maiores bandeiras da campanha de Macron e, espera-se, uma das mais emblemáticas causas que deverá vir a ser abraçada pela primeira-dama francesa, Brigitte Trogneux: a dos alunos com necessidades especiais. Mãe de quatro filhos e uma das meninas é portadora de Trissomia 21. [Fotografia: gouvernement.fr]
Muriel Pénicaud, 62 anos, ministra do Trabalho: Antiga diretora de Recursos Humanos e de Desenvolvimento Sustentável, há muito tempo que trabalha sob a alçada de entidades integrantes deste ministério. Porém, passou pelo privado tendo ocupado funções na Danone e na Dassault Systèmes. [Fotografia: gouvernement.fr]
Marielle de Sarnez, 66 anos, ministra para os Assuntos Europeus: Começou a sua carreira política em 1974, na campanha de Valéry Giscard d’Estaing. Conhecida pelas suas reputadas qualidades para a negociação, ela é eurodeputada pelo MoDem desde 1999.[Fotografia: gouvernement.fr]
Frédérique Vidal, 53 anos, ministra do Ensino Superior, Investigação e Inovação: Presidente da universidade de Nice-Sophia-Antipolis desde 2012, esta é a primeira vez que uma professora - no caso de Ciências de Vida, com especialização em genética de reprodução - chega ao topo de um ministério. Natural do Mónaco. [Fotografia: gouvernement.fr]
Élisabeth Borne, 56 anos, ministra da Transição Ecológica para os Transportes: Esta especialista vinda da área do equipamento e da tecnologia deixa a presidência da Rede Autónoma de Transportes de Parisieneses (RATP) para ocupar a pasta [cuja Ecologia está nas mãos de Nicolas Hulot] vocacionada para os Transportes. Conta já com alguma experiência política tendo integrado gabinetes ministeriais do executivo socialista liderado por Lionel Jospin. [Fotografia: gouvernement.fr]

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O novo presidente francês, Emmanuel Macron anunciou, esta quarta-feira, 17 de maio, a composição do novo governo, um executivo totalmente paritário e diversificado, formado por personalidades com e sem experiência política. Françoise Nyssen, escolhida para a pasta da Cultura, inclui-se no primeiro grupo, embora muitos franceses só agora venham a sabê-lo.

As expectativas sobre o seu desempenho no cargo partem, acima de tudo, do seu trabalho à frente da Actes-Sud, editora fundada em 1978, pelo pai Hubert Nyssen, que a nova ministra transformou num dos mais reputados e respeitados grupos editoriais franceses.

Maria Teresa Horta e Filipa Melo estão entre os autores portugueses traduzidos e publicados, em França, pela Actes-Sud. Ao Delas.pt, as escritoras partilham as suas impressões e expectativas sobre Françoise Nyssen, enquanto membro do novo governo francês.


Conheça as 11 mulheres que compõem o governo francês, clicando na nossa fotogaleria, em cima.


Ainda que não a conheça pessoalmente, Maria Teresa Horta, que tem a obra “As Feiticeiras” publicada no mercado francês através daquela editora, afirma que “é um especial prazer ver esta mulher chegar a ministra da Cultura francesa, sobretudo porque falamos de uma referência no panorama editorial francês contemporâneo”

Casa de vários Prémios Gouncourt, como Laurent Gaudé e Mathias Enard, de dois prémios Nobel da Literatura, como Imre Kertész e Svetlana Alexievitch, e de best sellers mundiais como Stieg Larsson e Salman Rushdie, a Actes-Sud é uma editora de referência, que tem também, como sublinha a escritora portuguesa, “muitas autoras femininas publicadas e de grande qualidade”.

“Parece-me mais importante o facto de ser mulher”

“É uma editora muito especial, muito atenta à poesia”, refere, considerando, por isso, que “a pessoa que está à frente de uma editora com estas características só pode ser de grande cultura e sensibilidade”.

Mas Maria Teresa Horta valoriza, sobretudo, a escolha para a liderança do Ministério da Cultura ter recaído sobre uma mulher.

“Parece-me mais importante o facto de ser mulher, do que de vir do mundo da edição e creio que esta escolha poderá indicar uma mudança de mentalidade no próximo governo francês, sobretudo porque falamos de uma mulher de cultura, com as referências culturais e de qualidade que tem e com a obra que tem desenvolvido”, defende.

Filipa Melo, que, tal como a poeta, nunca contactou pessoalmente com a diretora editorial, também vê no seu percurso um bom indicador para o trabalho governativo de Nyssen à frente da Cultura.

“A Actes-Sud tem um catálogo que prima pela excelência, extremamente criterioso, muito, muito cuidado. Os livros são cosidos à mão, o que é raríssimo. Portanto, o que posso dizer é se, de facto, a excelência do trabalho dela no Ministério for semelhante àquilo que é a excelência do catálogo da Actes-Sud [os franceses] estarão bem servidos”.

“Este É o Meu Corpo ” é o romance de Filipa Melo que a editora francesa publicou em 2004, e uma das várias obras de autores portugueses que consta do catálogo da Actes-Sud. João Tordo, Fernanda Botelho e João de Melo são outros dos nomes editados sob a sua chancela, além de autores clássicos como Camilo Castelo Branco e Eça de Queiroz.

Da Bélgica para o mercado literário francês

Figura discreta, Françoise Nyssen nasceu Bélgica, em 1951, e foi ainda nesse país que teve uma experiência governativa, tendo trabalhado na direção de arquitetura do ministro belga do Ambiente e das Condições de Vida.

Nyssen é formada em Ciências pela Universidade Livre de Bruxelas e em Urbanismo pelo Instituto Superior de Urbanismo e de Renovação Urbana. Em 1980, entra no mundo da edição de livros, através da Actes-Sud, fundada pelo seu pai dois anos antes.

É no campo das letras que Françoise Nyssen efetivamente se destaca e se torna uma das mais prestigiadas empresárias neste setor e no panorama cultural francês. Em 1991, vence o prémio Veuve Clicquot para a mulher do ano e é, desde 2008, Comendadora da Ordem das Artes e Letras e oficial da ordem da Legião da Honra desde 2013.

O facto de ser mulher e de estar à frente de uma das mais reputadas editoras francesas são dois fatores reconhecidos por escritoras portuguesas a Françoise Nyssen

Nestas últimas eleições presidenciais francesas, a editora empenhou-se na eleição de Emmanuel Macron a quem “tinha dado apoio claro”, na campanha, lembra Filipa Melo.

A nova ministra da Cultura pode ser também um reforço das relações diplomáticas bilaterais entre a França e a Alemanha, se seguir a relação estreita que a Actes-Sud mantém com o mercado editorial.

Para já, recebeu uma reação de apoio de peso, a do presidente do Festival de Cannes, que começou ontem e onde Françoise Nyssen deverá já fazer a sua estreia como ministra da Cultura francesa. Através do Twitter, Pierre Lescure vaticinou: “Que boa escolha, que boa notícia para este ministério!”

Imagem de destaque: gouvernement.fr