A roupa pré-mamã está a encolher. E vem para ficar?

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[Fotografia: Pexels/Jamily Alvarenga]

Vestidos justos na gravidez, os biquínis de sempre, mas agora usados também nas gravidezes. Afinal, já não é preciso mexer no guarda-roupa para abraçar uma gestação? Várias celebridades têm feito caminho a mostrar tops, cinturas descidas e, claro, a barriga de grávida como elemento essencial de ousadia que querem continuar a abraçar. E Rihanna talvez seja a maior embaixadora desta tendência.

Por isso, é tempo de perguntar, estará a roupa pré-mamã tal como a conhecemos em risco ou a encolher? Os designers Constança Entrudo e Gonçalo Peixoto explicam se o caso se chama tendência ou se opção garantida.

 

[Fotografia: Captura de ecrã/Instagram/Rihanna]

“Acho que mostrar a gravidez vem para ficar e para mostrar o que é uma grávida”, refere Gonçalo Peixoto, fã confesso do estilo de Rihanna-mamã e que fez, ele mesmo, uma proposta ousada para Inês Aires Pereira, para uma gala. A atriz e humorista surgiu de gestação avançada e envolta em transparências, em fevereiro de 2022.

 

[Fotografia: Captura de ecrã/Instagram/Inês Aires Pereira]

“Vai continuar a haver o lado mamã, a componente conforto, mas também estão a surgir estas novas estéticas, com adaptação de peças que eram usadas antes de se estar grávida. É o caminho natural, a evolução do dia-a-dia em todas as componentes da vida”, considera o stylist de celebridades nacionais. E pede: “Temos de deixar cair este lado mais sagrado.”

“Não vou dizer que a roupa pré-mamã tem de deixar de existir, trata-se de saúde, conforto e são melhores para a vida do bebé e da mulher. Mas até considero que pode ser um vestuário sexy, que as peças estão na altura de ser renovadas, refrescadas, adaptadas”, analisa Constança Entrudo.

A stylist portuguesa que já trabalhou como designer têxtil em casas como a Balmain Peter Pilotto e Marques’ Almeida considera que este segmento de pré-mamã, que deve ser olhado como um setor de inovação técnica, decorre do facto de “as referências visuais estarem a mudar”. “As redes sociais, o Instagram estão a expor-nos a noutros modelos e, daqui a alguns anos, estes preconceitos vão ser desconstruídos”, promete.

A estilista considera até que esta opção estética mais ousada em tempo de gestação surge também como reação. “Na pandemia, vivemos todos dentro de fatos de treino e que se assemelhavam a roupa de grávida. Surgiu uma guerra, vivemos anos de natalidade baixa, e a opção de Rihanna vem mostrar a força enquanto mulher, que se mantém sexy, estando grávida ou não. A mulher que não abdica de se sentir bem no seu corpo”, contextualiza Constança Entrudo, que recorda: “Kim Kardashian tentou isto mesmo há uns anos e não foi tão bem recebido.” Bom, os tempos estão em mudança.

Como trabalhar para Kylie Jenner ‘alargou’ a roupa de Constança Entrudo

“Acho que as coisas se vão alterando”, diz Gonçalo Peixoto, que recusa ditar o óbito à roupa pré-mamã, mas antecipa: “Ela não vai é ser no futuro como é agora, vai passar a ser mais ousada, se calhar mais divertida, menos pensada”, afirma.

Constança Entrudo fala de exemplos: “Fizemos dois costum-mades (encomendas em tradução livre) para sessões fotográficas de Kylie Jenner, há algum tempo e foi durante a gravidez.”

As peças não podem ser reveladas porque acabaram por nunca ser usadas pela empresária e influencer, mas Constança recorda como a experiência lhe mudou, em parte, o fio. “O meu trabalho tecelagem, que não tinha elasticidade nenhuma, que não tinha fios soltos e apresentava-se sem flexibilidade, não respondia a este desafio em que não nos era dado acesso às medidas da gravidez ou mesmo sequer saber o tempo de gestação da celebridade em causa. Foi preciso encontrar um novo caminho nesta área da minha produção e, hoje em dia, a técnica que encontrei é um best seller. [A experiência com Kylie Jenner] Foi decisiva para criar esta linha com a qual nos celebrizámos”, refere a estilista.

Desafio: descoser preconceitos

Se a roupa está a mudar, os designers são os agentes e o alvo dessa mudança, pelo que não podiam estar mais felizes por verem o mundo da moda a mudar. “Mais do que a gravidez, preocupa-me bastante como designer de moda que desenha para adultos e jovens adultos quebrar preconceitos e que chegam a nós desde a infância, tudo está a mudar muito”, congratula-se Constança Entrudo.

Um caminho que a estilista considera que ainda está muito por fazer na roupa infantil, ainda carregada das cores para cada sexo. “Em Portugal, temos uma indústria muito grande de roupa de criança, com devido e merecido valor pelos materiais que usam, mas talvez um pouco conservadora e que acho que faz com que as crianças fiquem ali presas no passado. Existem países onde se desconstrói um pouco mais, mas há algo que está a mudar”, antecipa Constança Entrudo.

Será que depois da ousadia e da dessacralização da gravidez, a roupa das crianças será a próxima a mudar?