Compressas vaginais esquecidas nos corpos das mulheres levam a processo de instrução

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[Fotografia: Pexels/Anna Shvets]

A utente que apresentou queixa contra o Hospital CUF Descobertas alega na reclamação feita à Entidade Reguladora da Saúde (ERS) que, após o parto, ficaram esquecidas duas compressas vaginais, que apenas foram detetadas 15 dias depois da intervenção.

Conta ainda que lhe foi dada alta sem que tenha sido feita qualquer revisão do canal de parto. “No dia 17 de março de 2023, após oito dias de um parto com complicações (hemorragia) no Hospital CUF Descobertas, na minha casa de banho ao fazer higiene pessoal reparei que tinha uma obstrução na vagina e, com nervos e preocupação, puxei, sendo que saiu da mesma uma compressa cirúrgica já com cheiro a descomposto”, lê-se na reclamação divulgada no relatório das deliberações do 4.º trimestre de 2023 hoje divulgado.

A utente relata que entrou em contacto com a obstetra, que lhe disse para ir ao hospital e recorda que, para sua “surpresa, ao fazer revisão encontraram mais uma compressa”.

“Fizeram desinfeção e prolongaram antibióticos. É importante informar que no dia 13 de março de 2023 já tinha estado em consulta de revisão e não foi detetada a presença das compressas e o parto foi no dia 03 de março de 2023”, salienta.

O hospital referiu numa resposta à ERS que foi realizada, em 21 de julho de 2023, uma reunião presencial entre a Direção Clínica e a reclamante, “tendo sido prestados todos os esclarecimentos do ocorrido e respondido a todas as questões levantadas pela cliente”.

Diz ainda que foram levantadas algumas ações de melhoria nos cuidados prestados, na sequência do incidente.

Após a “análise atenta e rigorosa” dos factos, a ERS apurou que “a conduta do Hospital CUF Descobertas se mostrou desrespeitadora do direito da utente à prestação de cuidados adequados, de qualidade e com correção técnica”.

O regulador alerta para a importância de evitar a ocorrência de situações semelhantes e emitiu uma instrução ao hospital no sentido de “garantir, em permanência, que, na prestação de cuidados de saúde, são respeitados os direitos e interesses legítimos dos utentes, nomeadamente, o direito aos cuidados adequados, tecnicamente mais corretos, com humanidade e prontidão”,

O hospital deve também garantir que “todos os instrumentos e/ou compressas utilizados no decurso de qualquer intervenção são devidamente contados e registados no processo clínico dos utentes e corretamente removidos previamente à sua alta, assegurando, a todo o momento, a qualidade e a segurança dos cuidados de saúde prestados”.

A ERS também emitiu uma instrução no mesmo sentido ao Hospital de Cascais, na sequência da reclamação subscrita em 18 de maio do ano passado por uma utente que diz que se esqueceram de uma compressa vaginal, na sequência de uma cirurgia por incontinência de esforço, que apenas foi retirada 10 dias após a intervenção.

Em resposta à reclamação, a unidade de saúde lamentou “os factos descritos e o transtorno causado”.

“[…] Na análise do percurso […], durante o internamento no Hospital de Cascais, identificamos uma oportunidade de melhoria relativamente à transferência de cuidados no circuito do doente cirúrgico”, sublinha.

Também neste caso, a ERS considerou que “a conduta do hospital se mostrou desrespeitadora do direito da utente à prestação de cuidados adequados, de qualidade e com correção técnica”.

Instruiu o hospital a dar conhecimento à ERS do cumprimento efetivo do Plano de Ação de registo de incidentes e eventos adversos e a assegurar que “os procedimentos em vigor, bem como novos procedimentos a adotar, para cumprimento da instrução, sejam corretamente seguidos e respeitados por todos os trabalhadores e/ou prestadores de serviços”.

LUSA