Vamos levantar as más notas das crianças

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Se o primeiro período escolar do seu filho não correu como seria esperado, não desespere! Começa agora corrida para recuperar a motivação para escola

A pauta do primeiro período escolar do seu filho não apresentou os melhores resultados? Sente que houve uma perda do interesse e motivação do seu filho pelo estudo e pela vida escolar, e não entende porquê? Não desespere – ainda nada está perdido. Deixe de lado a desilusão, esqueça os castigos e aposte na empatia. Encare o desafio de forma positiva e ajude-o a apanhar o “comboio das boas notas” até ao final do ano. Ana Manta, Psicóloga especialista em Desenvolvimento Infantil, tem um plano para que possa apoiar devidamente o seu filho nos estudos e ajudá-lo a alcançar o sucesso escolar. Empenhe-se com entusiasmo e demonstre ao seu filho que, com esforço e confiança, é possível alcançar o objetivo desejado.

A origem do problema

É essencial, antes de mais, que os pais percebam o que espoletou o insucesso escolar do filho e de onde surgem as dificuldades. Além de conversar com a criança, em primeiro lugar, os pais ou educadores devem também aliar-se ao professor (ou professores) num trabalho de equipa, para descobrir a origem do problema. Ana Manta explica como fazer:. “[Os pais] devem conversar com o professor titular, ou com o diretor de turma, e tentar perceber as melhores estratégias a seguir. Ninguém melhor do que esses profissionais para orientar os pais na busca do que será o melhor para a criança. De pouco serve procurarem soluções que não estejam em consonância com as dificuldades detetadas na escola.” A especialista acrescenta que o papel dos pais é, sem dúvida, orientar os filhos durante o seu percurso escolar, ajudando-os a definir os seus objetivos (dos filhos, não dos pais!) e a focarem-se neles.

Este é um processo que se deve fazer em qualquer idade, sem exigir demasiado. Mas os pais nunca podem demitir-se do seu papel fundamental de educadores. “Neste assunto não me parece que exista uma idade ideal, cada criança é única e como tal tem um grau de envolvimento, de motivação e de empenho diferente. Os objetivos devem ser da criança e não dos pais. As «boas notas» são relativas; o mais importante é que a criança tenha gosto em ir para escola, gosto em aprender e em tirar partido daquilo que aprende. O papel dos pais é orientar, sentar-se com os filhos e definir os objetivos para cada disciplina. Se a criança não tem objetivos, o caminho é muito mais difícil: «Se eu não sei para onde vou… qualquer caminho serve». Os pais devem motivar e incentivar os filhos, não devem fazer as coisas por eles nem definir os objetivos pelos filhos.”

Mãos à obra

Para ajudar os filhos a recuperar do insucesso do primeiro período, os pais devem começar por traçar um plano com a criança. “Para algumas crianças pode ser necessário algum apoio ou explicação extra. Cada caso deve ser visto com os professores, e a partir daí, traçar o plano a seguir. É fundamental que a criança sinta que não está sozinha, que os pais a apoiam”, afirma Ana Manta. Os motivos para o insucesso podem ser vários, mas, consoante a natureza dos mesmos, irá depender a abordagem. “Se o motivo do insucesso no primeiro período for o comportamento da criança, aí convém ainda mais sentar-se com a criança, sem recriminações, e perceber o que está na base desses comportamentos. Se achar necessário pode recorrer à ajuda de um psicólogo para o auxiliar nesse processo”, acrescenta.

A especialista acredita que o sistema das “recompensas” – “Se tiveres boas notas, compro-te/dou-te X” – um dos sistemas mais utilizados pelos pais, é contraproducente. Não caia nesse erro. “Este tipo de negociação não parte de um bom princípio. O estudo da criança não deve ser visto como um negócio e a criança deve ser motivada de forma a que o seu prémio seja aprender, e sentir-se bem com isso. Podem criar-se tabelas com os objetivos que a criança define, e afixá-las num local visível da casa de forma a que a criança possa ir vendo se atinge ou não os objetivos propostos. Esse tipo de tabela normalmente motiva e envolve a criança na busca pelos seus objetivos”, indica Ana Manta.

Bons hábitos de estudo: uma ferramenta para a vida

Ana Manta realça a importância da responsabilização da criança e da sua noção de que o estudo e o saber vêm antes da brincadeira – e tudo isto deve ser incutido pelos pais. “Bons hábitos de estudo estão relacionados com autonomia. O importante é que os pais, dando autonomia, façam os filhos sentir que estão por perto. É fundamental que a criança entenda desde cedo que, se tem tarefas escolares para cumprir, as deve cumprir antes de ir brincar. No fundo a criança deve sentir o estudo e os trabalhos escolares como algo importante para si, não como uma obrigação”, afirma. Pais e educadores devem, assim, de forma diária, “interessar-se por saber o que os filhos aprenderam de novo na escola, fazer perguntas que ajudem a criança a recordar o que aprendeu e a ganhar gosto e vontade nesta partilha”, explica a especialista.

Sendo os filhos o espelho dos pais, importa também analisar a forma como estes veem a sua própria vida profissional, salienta Ana Manta. “A forma como os filhos veem o estudo está relacionada com a forma como os pais vêm a sua vida profissional, e isto deve pôr os pais a pensar… nem sempre podemos fazer o que mais gostamos em termos profissionais, no entanto, o gosto e a vontade que colocamos naquilo que fazemos passa para os nossos filhos. Ajuda falarmos com entusiasmo do que aconteceu no trabalho, partilharmos o nosso dia com a família – isso incentiva os nossos filhos a viver a escola com o mesmo ânimo”, afirma.

E ao fim de semana?

Perante o insucesso escolar, ou mesmo quando uma criança tem boas notas, durante os períodos de tempos livros deve haver lugar para o estudo e para os trabalhos de casa? Ana Manta acredita que é preciso conciliar tudo, com conta, peso e medida, e que nem só nas páginas dos livros se encontram bons exercícios e disciplinas essenciais. Na vivência do dia-a-dia também é possível aprender e progredir, como estudante e como ser humano. “Deve haver tempo para tudo. É importante para as crianças terem a responsabilidade de fazer os seus trabalhos. No entanto, não é porque a criança leva horas em frente aos materiais de estudo que ela vai ser melhor aluna. O tempo deve ser bem repartido, e também deve haver tempo de qualidade com a família. Um bom dia de passeio cultural, uma ida a um monumento, a um parque observar a natureza, a uma praia ver a posição do sol, são tudo exemplos de trabalho e estudo associados ao lazer”, explica a especialista.

Carmen Saraiva

O meu filho tem muita personalidade!