Cuca Roseta, madrinha das Scholas Ocurrentes em Portugal, fala da carta do Papa e da JMJ

47034943_GI06062023GERARDOSANTOS303
[Fotografia: Gerardo Santos / Global Imagens]

Na mesma manhã de quinta-feira, 3 de agosto, que o Papa Francisco visita as Scholas Occurrentes, em Portugal, instituição originalmente criada pelo próprio Jorge Bergoglio, quando era arcebispo em Buenos Aires, na Argentina, a fadista Cuca Roseta antecipa à Delas.pt detalhes da visita, de como funciona a instituição pela qual é embaixadora.

Tudo na véspera de cantar para o Papa Francisco e, pela terceira vez, nesta Jornada Mundial da Juventude em Lisboa.

[Fotografia: PAULO SPRANGER / GLOBAL IMAGENS ]
“Sou madrinha destas escolas em Portugal, e é uma instituição incrível”, explica a intérprete, detalhando que “a ideia é juntar as crianças, todas as crianças e o mais diferentes possíveis entre si, com contextos diferentes não só a nível religioso como social e cultural, juntando entre ricos e pobres, é um espaço verdadeiramente interclassista”.

Católica assumida, com 22 peregrinações cumpridas a Fátima e uma a Santiago de Compostela, Cuca Roseta olha para este projeto criado em 2001 por Bergoglio – e que chegou a Cascais em 2019 – como uma “oportunidade única de poder juntar crianças e elas aprenderem a respeitarem-se nas suas diferenças, dentro de todas as culturas, religiões e classes sociais”.

Recorde-se que o projeto educativo está presente em 190 países, tocando mais de um milhão de crianças por via dos 400 mil centros educativos. O projeto pugna pela inclusão por via de três eixos principais: arte, desporto e pensamento.

“O Papa escreveu e respondeu à minha irmã”

O envolvimento religioso e espiritual de Cuca Roseta vai muito além da prática do catolicismo. Embora tenha cumprido todas as etapas desta religião, a fadista conta que, a partir dos 30 anos, começou a descobrir novos caminhos para a espiritualidade. Não é raro, aliás, ver nas suas redes sociais momentos de introspeção que mostram a sua prática da Yoga, referências ao hunduismo e a outras espiritualidades que tem vindo a descobrir.

“Há muitas pessoas que acham que nós temos de escolher um lado e, mesmo dentro da igreja, dizem que yoga e a igreja não são compatíveis. Mas, engraçado, a minha irmã [Inês Roseta], que é professora de yoga e extremamente católica, mandou uma carta ao Papa Francisco a perguntar isso mesmo”, revela a fadista. Conta ainda que o Sumo Pontífice respondeu: “Ele escreveu-lhe de volta e respondeu-lhe a dizer que não tem nada a ver uma coisa com a outra, não são incompatíveis porque o yoga é uma prática física, que é uma meditação, um movimento de silêncio.”

“E, na verdade, olhando bem, nunca nenhum padre com quem falo me abordou neste sentido”, conta Cuca Roseta, que mostra frequentemente as práticas espirituais que tem vindo a encontrar e a cumprir.

No futuro, sonha voltar a peregrinar a Fátima. “A última vez que fui foi há 10 anos, mas gosto muito. Para já adoro andar, detesto correr, e depois há a dimensão do silêncio. Gosto muito de meditar, passo muitas horas, e se me deixarem, consigo estar três horas a fazê-lo. Peregrinar é uma meditação que se faz andando pela natureza, a ouvir os pássaros, é espetacular”, confessa a fadista, que tinha 14 anos quando foi a Fátima a pé pela primeira vez.

“Foi uma tomada de consciência muito intrínseca, muito forte, muito cedo. Sim, eu era uma criança, embora as pessoas olhem para mim e não vejam isso, se calhar porque não me conhecem, mas bastante tímida e sempre gostei muito de estar sozinha, então, muitas das experiências eram, para mim, algo muito profundo. Gosto muito da espiritualidade e daí tive as minhas viagens à Índia também”, revela.

Jornadas Mundiais da Juventude: De Cracóvia a Lisboa

Cuca Roseta já subiu aos palcos da JMJ Lisboa em duas ocasiões, mas não configuram estreias da fadista nestas celebrações. Já antes, em 2016, esteve em Cracóvia, na Polónia, a cantar para peregrinos.

“Foi algo que me marcou muito, fomos convidadas para cantar para os portugueses, eram 15 mil e acabaram em 40 mil. Apanhámos um pouco este espírito, esta união destes jovens que vêm do mundo inteiro, de todas as línguas, com algo em comum: a religião e a fé, e foi mesmo algo muito marcante pela jovialidade, pela inocência e pela forma como fomos recebidos”, recorda a fadista.

Sete anos depois e já em Lisboa, a intérprete teve desafios de agenda e o público acabaria por ser menos jovem doq ue o esperado. “Ontem [1 de agosto], não consegui ter muitos jovens, tivemos alguns, mas poucos para o que era previsto, porque o meu concerto foi uma hora e meia depois da missa da inauguração, e era longe, em Sintra”, justifica. E prossegue: “O meu concerto, embora fosse nas jornadas, não foi aquele espírito que eu apanhei ainda na Polónia, que era mesmo só para jovens.”