Dominação financeira: um fetiche que chegou com a crise

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[Fotografia: Shutterstock]

Um ‘estágio’ de um mês. Um contrato. Uma placa identificativa e… começa o jogo. Lady Verónica é espanhola, vive em Madrid, é do signo peixes, tem 1 metro e 60 e é uma dominatrix financeira. É pelas práticas sadomasoquistas, pela disciplina e pelo bondage (BDSM) que esta espanhola submete os seus “escravos do dinheiro”, que querem ser dominados financeiramente. Sim, a luxúria jaz no poder sobre alguém que entrega todo o seu dinheiro.

A troco de ordens, castigos e de erotismo, o ‘escravo’ dá os rendimentos que aufere à sua ‘dama’, cumpre ordens e, com isso, obtém prazer. Sem precisar de grandes justificações, a dominadora também se excita com a modalidade. “O poder de um homem é o dinheiro que tem. Eu tiro-lhe esse poder e deixo-o sem nada. Ele transforma-se numa marioneta aos meus pés. O prazer do submisso decorre do facto de eu lhe tirar o poder”, explica Veronica ao site da BBC News.

Lady Veronica e Zule na entrevista à BBC News [Imagem: Captura de ecrã]
FinDom ou “violação da carteira” trata-se de uma prática de dominação financeira que pretende levar os clientes ao êxtase. Há já várias comunidades online de pessoas que se submetem a este fetiche “no qual os participantes, na maioria homens, procuram o controlo e a humilhação de uma mulher dominante”, lê-se nos sites destas comunidades. Os tipos de relações desenvolvem-se consoante as partes acordarem, mas cumprem sempre três requisitos básicos: “os presentes” – de uma lista definida pela ‘dona’ – , “os dízimos e as homenagens”. Estas distinguem-se por serem ofertas impulsivas, de última hora.

Uma relação com contrato incluído

Para que Lady Veronica aceite um homem submisso, este deve, lê-se no site da dominatrix, “ler, cumprir e entender todos os conceitos e requisitos obrigatórios” que lhe garantem depois o sentido de pertença. O cliente deve também “atender aos pedidos da Deusa como ela merece, com todo o cuidado”.

O cliente, escolhido por ela e após um mês sujeito a testes, “pertence-lhe e o dinheiro dele também”. O escravo deve dar-se em toda a sua “mente, corpo e alma”, trabalhando para o “prazer” da dominadora.

Imagem do contrato estabelecido entre Lady Veronica e um submisso [Fotografia: DR]
O candidato deve apresentar-se detalhadamente por escrito, referindo “com quem vive, estado civil, como gasta o dinheiro”, que “práticas aprecia, os limites que impõe, essenciais para que um relacionamento” BDSM “funcione corretamente”. Deve ainda anexar provas dos rendimentos que aufere. “Salário mensal, economias e despesas a serem descontadas (despesas fixas mensais)”, pede Lady Veronica.

Uma oportunidade…. na crise

Fetiche de poucos e a crescer vagarosamente em popularidade, o FinDom começou a ganhar fama entre senhores e suseranos na sequência da grave crise financeira que atravessou o mundo, em 2009. Desde aí que começaram a chegar os relatos desta prática de envolvimento emocional e erótico. E, muitas vezes, sexual.

De acordo com vários testemunhos sobre esta matéria, grande parte dos homens que procuram esta prática BDSM são “bem sucedidos” financeiramente e procuram a libertação do controlo exercido pelo dinheiro, servindo um outro poder. As dominadoras devem ser, claro, bonitas, austeras, intransigentes e eficazes nas regras e nas ordens que definem.

Veja-se o caso de Lady Verónica e Zule, em declarações à BBC News. “Sou um cão submisso com uma amante que adoro servir. Como pessoa, sou o oposto, sou dominador”, referiu o homem, enquanto permanecia sentado o chão aos pés de Verónica e que diz recorrer a esta prática “há nove, de anos”.

“Sou um cão submisso com uma amante que adoro servir. Como pessoa, sou o oposto, sou dominadoR“, DIZ O ESCRAVO SEXUAL

Zule [nome de código] revelou ainda que esta relação, que inclui a entregada maior fatia do rendimento mensal que aufere, é “consensual”. “Existe um contrato celebrado entre nós, com o qual tive de concordar e assinar. Se quiser, as portas estão abertas para que eu possa sair”, declara.

Quem é, afinal, Lady Verónica

Em entrevista à estação pública britânica, a madrilena diz que está desempregada e que esta é a sua forma de vida e de obtenção do rendimento. Garante, contudo, que se recusa a destruir financeiramente um escravo. Embora pudesse. “Gosto de dinheiro, mas antes de ser dominadora, sou uma pessoa. Muitas vezes há uma família completamente desconhecedora do que está a acontecer”, relatou à BBC, assegurando que “nunca concordaria com um pedido para arruinar a vida de alguém”. “Tenho limites e valores”, acrescenta.

No site a partir do qual pode ser contratada, Verónica apresenta-se como uma mulher cujo principal hobbie é “comprar”. “Comprar, gastar o teu dinheiro, comprar, gastar o teu dinheiro e comprar… com o teu dinheiro”, lê-se. Entre os seus gostos estão os animais, o ginásio, refeições fora de casa, ir à praia, andar nua e viajar. Mas há mais: “Cinema, reality TV, leitura”, “hotéis de charme, desporto, sexo do bom, meditação, ser mimada pelo seu macho alfa com o dinheiro dele, tranquilidade, paz”. Não perde um bom copo de vinho ou champanhe, umas almôndegas, frango assado e, claro, uma paella.

“Custa-me acreditar nas pessoas que não fazem nada que não seja para benefício próprio”, escreve Verónica, que sonha “fazer pagar com a justiça do povo” todos os que “abusam, roubam, violam”. Uma mulher que se apresenta como “uma caixa de surpresas” que é fã da “Hello Kitty”.

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