Em Inglaterra, há cada vez mais candidatas ao sacerdócio

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O número de mulheres a investir numa carreira na Igreja está a crescer. Pela primeira vez na História de Inglaterra, 54% dos candidatos ao sacerdócio são do sexo feminino, estando a fazer desta opção uma segunda carreira. Há quem defenda que este possa ser o caminho para a igualdade de género dentro da Igreja, bem como o início do fim da pedofilia no seio da Igreja Católica, tema que tem dado que falar nos últimos dias.

Sarah Mullally pode ser exemplo dessa realidade. Exerceu enfermagem até 2004 e, atualmente, detém funções como bispa. Como Sarah, outras mulheres têm abandonado profissões com anos de carreira, sobretudo com idades entre os 40 e os 54 anos. Prova disso é que a percentagem de mulheres aceites na ordem cresceu 32% nos últimos dois anos.

De acordo com Catherine Nancekievill, líder britânica de discípulos e vocação da Igreja, esta adesão ao sacerdócio por parte do sexo feminino deve-se a uma mudança de atitudes: “Os homens que realmente defendem o ministério das mulheres estão por trás disso e parecem realmente ter mudado nos últimos dez anos, também as congregações se tornaram mais recetivas”, referiu ao jornal britânico The Telegraph.

Além disso, Catherine acredita que a razão para as mulheres só integrarem a Igreja mais tarde deve-se à família e à carreira profissional que começaram por desenvolver: “Esse chamamento pode ter acontecido, mas elas podem não ter dado realmente esse passo, porque quando se chega aos 30 e 40 anos está-se muito ocupado com outras coisas. Agora essas mulheres estão nos seus 50 e 40 anos e esse chamamento ainda está lá. Talvez tenham tido pouca carreira, os seus filhos já tenham saído de casa ou estejam na adolescência”.

Os dados divulgados pelo jornal britânico mostram ainda que o número de pessoas com menos de 32 anos de idade a ingressar na Igreja está a aumentar. Só este ano, cresceu quase um terço, quando comparado com dados de há dois anos.

Mulheres na Igreja e a questão da pedofilia

Esta segunda-feira, 20 de agosto, o Vaticano divulgou uma carta aberta escrita pelo Papa Francisco onde se aborda a forma como a Igreja Católica tem vindo a lidar com os crimes de abuso sexual. Publicada no site oficial do Vaticano, a carta condena “fortemente estas atrocidades” e postula: “as feridas nunca prescrevem”.

O documento surge após um relatório judicial ter revelado, na semana passada, que nos últimos 70 anos, mais de 300 padres abusaram sexualmente de mais de mil crianças na Pensilvânia. O Papa Francisco quebrou o silêncio após 48 horas e a carta aberta que resolveu escrever refere-se diretamente ao relatório tornado público:

“Nestes últimos dias, um relatório foi divulgado detalhando aquilo que vivenciaram pelo menos mil sobreviventes, vítimas de abuso sexual, de poder e de consciência, nas mãos de sacerdotes por aproximadamente setenta anos. Embora seja possível dizer que a maioria dos casos corresponde ao passado, ao longo do tempo conhecemos a dor de muitas das vítimas e constamos que as feridas nunca desaparecem e nos obrigam a condenar veemente essas atrocidades, bem como a unir esforços para erradicar essa cultura da morte; as feridas ‘nunca prescrevem’. […] sentimos vergonha quando percebemos que o nosso estilo de vida contradisse e contradiz aquilo que proclamamos com a nossa voz”.

Ainda na mesma carta, o Papa Francisco admite que a Igreja falhou: “Com vergonha e arrependimento, como comunidade eclesial, assumimos que não soubemos estar onde deveríamos estar, que não agimos a tempo para reconhecer a dimensão e a gravidade do dano que estava sendo causado em tantas vidas. Nós negligenciamos e abandonamos os pequenos” – pode ler a carta na íntegra aqui.

Parar de encobrir os crimes de abuso sexual dentro da Igreja será um começo para o fim da pedofilia por parte de padres e bispos. Mas pesquisas e especialistas em crimes sexuais sugerem que uma das soluções passa, sem dúvida, por uma maior integração do sexo feminino no sacerdócio. Embora também o abuso feito por freiras seja uma realidade, estudos mostram que são os homens que mais cometem pedofilia, além de também abusarem sexualmente de membros femininos integrados na ordem. “Por razões não definitivamente estabelecidas, há inegavelmente mais homens pedófilos do que mulheres; segundo algumas estimativas, os homens praticam até 94% dos crimes sexuais contra crianças”, avança o site americano The Daily Beast.

Também o Prior da comunidade Monástica de Bose, Enzo Bianchi, defendeu, em entrevista ao jornal Público – em maio de 2018 – a necessidade da presença do sexo feminino na Igreja: “Creio que o Papa Francisco tem, de verdade, no coração a promoção da mulher e o desejo profundo que na Igreja haja esta possibilidade real de a mulher poder ser verdadeiramente um sujeito e não simplesmente uma destinatária”. E acrescentou: “é preciso que elas [as mulheres] possam tomar a palavra. Isto é para mim o essencial: as mulheres devem estar nos lugares de decisão da Igreja, porque é preciso escutá-las”.

Para já, além de admitir os crimes cometidos pela Igreja Católica, surge por parte do Papa Francisco o compromisso de “garantir a proteção de menores e de adultos em situações de vulnerabilidade” – como refere a carta aberta. Palavras que não passaram de uma “retórica reciclada” para Anne Barrett Doyle, do site BishopAccountability.org – um agregador de casos de abusos sexuais ocorridos na Igreja Católica: “Meras palavras que nesta altura aprofundam o insulto e a dor”, ao invés de proporem “medidas concretas”, como a divulgação de uma lista com todos os nomes dos padres condenados pela lei canónica de abuso, cita o jornal britânico The Guardian.

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