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‘Instagrave’: os números do mercado da morte em Portugal

Percorra a galeria e fique a conhecer alguns números da morte em Portugal. Um retrato do setor feito por Rita Canas Mendes no livro Viver da Morte - A indústria funerária em Portugal [Fotografias: Shutterstock]
Há cerca de 110 mil mortos por ano em Portugal
Crê-se que o setor comporte 1500 empresas, havendo registo de mais de mil agências funerárias
Uma indústria que cria cerca de seis mil empregos, muito dominada por homens e na qual as mulheres acabam por estar mais em funções administrativas ou de bastidores
Estima-se que o setor gere cerca de 20 milhões de euros anuais em urnas, reportando-se a existência de 18 empresas para o efeito
Um metro quadrado de uma campa eterna num cemitério em Lisboa pode chegar aos cinco mil euros, perfazendo os dez mil euros. Valores que chegam a suplantar os cobrados no mercado imobiliário da capital
5007 cemitérios em Portugal
Taxa de sepultação: 85 euros
Taxa de cremação: 148, 60 euros
380 funerais sem gente, em Lisboa. Cerimónias que são geralmente organizadas pela Santa Casa da Misericórdia
A taxa de cremação em Portugal ronda, segundo o livro, os 18%. Um valor que sobe se olharmos para Lisboa, que chega aos 53%
Em média, uma sala de velório de uma igreja ronda os 100 euros. Ora, contas apresentadas pela autora Rita Canas Mendes, é possível que a entidade realize 10 milhões de euros por ano nestes alugueres
Três a quatro mil euros é quanto custa um kit de tanatoestética [para arranjar e maquilhar os corpos]
Em média, um funeral em Portugal custa 1.670 euros. Há regiões em que este valor aumenta, noutras em que baixa
Há um valor mínimo do custo de um funeral e que está definido por decreto-Lei: 400 euros
1287 euros. Este é o teto máximo atribuído no âmbito do subsídio para despesa de funeral. Falamos de uma verba entregue pela Segurança Social e que deve ser requerida por quem de direito até 90 dias após o falecimento
Há páginas de homenagem na Internet nas quais, mediante uma verba, pode recordar quem perdeu e deixar mensagem. Valores podem chegar aos 100 euros
Sabia que as seguradoras têm já planos de funeral em vida, em que a pessoa prepara a sua despedida e garante todos os custos. Os valores podem ir dos três aos 18 mil euros

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Entre a tristeza e umas gargalhadas sonoras fora de contexto. Entre a saudade eterna e um sermão de adeus que escapa aos cânones do absoluto bom gosto. Entre o silêncio e as palavras que saem disparadas e a despropósito. Quem nunca viu cenas destas num velório – e mesmo num funeral -, que atire o primeiro punhado de terra…

Foi por alguns destes e por muitos mais motivos que Rita Canas Mendes, 34 anos, decidiu mergulhar no mundo do luto e contar com quantos palmos se mede este setor bastante competitivo em Portugal e que caminha para o digital, como se o Instagram da vida se prolongasse para uma espécie de ‘Instagrave’…

A investigadora, escritora, consultora e tradutora devidiu abordar um tema sobre o qual, como a própria diz, “quase ninguém gosta de pensar” e olhou para esta realidade sob a perspetiva de quem “faz dela profissão”. O resultado desta autópsia ao mundo, ao mercado e ao setor da morte está agora em livro, publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e inserido na coleção ‘Retratos da Fundação’.

Capa do livro ‘Viver da Morte’, de Rita Canas Mendes [Fotografia: DR]

Em Viver da Morte – A Indústria Funerária em Portugal (€3,15 ou disponível por eBook) retrata-se, ao detalhe, como operam as funerárias, os profissionais, bem como as dificuldades e contingências que atravessam. Um livro povoado de testemunhos e de muitos números – como pode ver na galeria acima – que ajudam a perceber melhor este universo quase sempre tão silencioso, ainda que diga respeito a todos.

Das empresas lutuosas, às confissões religiosas, dos custos aos benefícios, dos problemas financeiros aos ambientais, do passado ao futuro – em que as redes sociais e o online podem vir a ser a maior praça de luto – mediante pagamento, claro -, tudo cabe nesta fotografia que inclui, em média, 110 mil óbitos por ano e mais de 20 milhões de euros só em urnas. Impressionado? Pois bem, este é só um primeiro balde de terra numa obra que não esquece, por exemplo, quem faz vida a limpar cenários de morte ou quem tem por missão conferir serenidade ao rosto de quem parte.

Imagem de destaque: Shutterstock

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