Intervenção com ácido hialurónico leva PSP a buscas em estéticas em Mafra e Lisboa

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[Fotografia: Pexels/Anna Shvets]

A PSP realizou buscas em duas clínicas de estética em Mafra e Lisboa no âmbito de um processo de usurpação de funções e ofensas à integridade física graves, tendo duas pessoas sido constituídas arguidas, informou aquela força de segurança neta terça-feira, 16 de janeiro.

Em causa está uma intervenção estética de preenchimento labial com ácido hialurónico, aplicado por uma alegada enfermeira, tendo como resultado uma infeção corporal grave com risco de vida que originou o internamento hospitalar e várias intervenções cirúrgicas e culminou com a perda da sensibilidade e deformação labial.

“Após pesquisa por parte da Ordem dos Enfermeiros, apurou-se que a visada não era enfermeira, resultando numa denúncia criminal por usurpação de funções no Ministério Público, que delegou a competência para a investigação na PSP”, é referido na nota.

O uso indevido e de acesso livre de ácido hialurónico por quem não está habilitado levou, a título de exemplo, 199 cirurgiões plásticos franceses a subscreverem carta aberta a alertar para estes perigos de quem manuseia estes produtos sem conhecimento.

Estas injeções ilegais geralmente levam a complicações irreversíveis. Em alguns casos, podem ter levado a sépsis [em que o organismo reage exageradamente a bactérias provocando resposta inflamatória generalizada e possível morte], gangrena e internações em terapia intensiva, com prognóstico vital de pacientes jovens”, referia o documento publicado em março de 2023.

E alertava: “Nunca tais complicações foram identificadas em França em quarenta anos de prática. As vítimas às vezes ficam desfiguradas para o resto da vida e psicologicamente quebradas. Eles não se atrevem a apresentar queixa porque muitas vezes são vítimas de ameaças físicas.”

Atualmente, centenas de injetáveis, não médicos, praticam atos ilícitos sobre a população, em particular os mais jovens e vulneráveis, com grande divulgação nas redes sociais”, acrescentava.

Em Portugal e após comunicado destas buscas, o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP refere que em 10 de janeiro deu cumprimento a dois mandados de busca não domiciliária a duas clínicas de estética e a um mandado de busca domiciliária. Os dois arguidos – uma mulher de 35 anos e um homem de 50 – ficaram sujeitos a termo de identidade e residência.

Na nota, a PSP adianta que a investigação decorria desde o início de 2019, após a apresentação de uma denúncia anónima por parte da Ordem dos Enfermeiros no Ministério Público.

Na sequência das buscas, foram apreendidos cinco computadores portáteis com informação clínica, cinco telemóveis, 10.700 euros em notas e pastas de arquivo com a informação/autorizações dos clientes.

Foi igualmente apreendido diverso material próprio para a prática de atos médicos: seringas, agulhas de diversos diâmetros, linhas de saturação, anestesia, bisturis, botox e medicamentos com prazo expirado.

Na nota, a PSP aconselha todos os cidadãos que pretendam usufruir de tratamentos estéticos a averiguar as condições e competências dos locais que prestam os serviços antes de iniciarem qualquer tratamento.

com Lusa