
Investigadores enalteceram esta segunda-feira, 23 de outubro, o trabalho de Catarina Marcelino na pasta da Igualdade, que deixa um “legado extraordinário” e esperam que a nova secretária de Estado continue o trabalho já iniciado em áreas que exigem “visão e coragem política”.
Rosa Lopes Monteiro já se estreou no cargo com uma primeira declaração pública. “Qualquer forma de normalização da violência é inaceitável” afirmou a nova executiva ao Jornal de Notícias, sem, porém, fazer referência ao caso concreto que estava em discussão: o polémico acórdão do tribunal da Relação do Porto que justifica o uso de violência doméstica perante uma mulher com comportamentos adúlteros.
“Não saio por vontade própria”
Catarina Marcelino deixou o cargo de secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade na sequência da remodelação do Governo. Nessa ocasião, a ainda governante escreveu que não saia porque queria. “Não saio por vontade própria, mas porque a Ministra que vai tutelar a pasta entendeu, no seu pleno direito, escolher outra pessoa“, publicou na sua página da rede social Facebook.
Na sequência da decisão de não-recondução no cargo de Catarina Marcelino, nove investigadores em Estudos de Género em Portugal emitiram um comunicado em que agradecem “a excelência do seu trabalho”.
“Catarina Marcelino honra-nos a todas e todos, e deixa um legado extraordinário à nova secretária de Estado, Rosa Monteiro, a quem desejamos continuação do excelente trabalho em áreas que exigem conhecimento, visão e coragem política“, sublinham.
Para os investigadores Ana Cristina Santos, Anália Torres, Conceição Nogueira, Cristina C. Vieira, Eduarda Ferreira, João Manuel de Oliveira, Lígia Amâncio, Maria do Mar Pereira e Virgínia Ferreira, a intervenção de Catarina Marcelino teve “impressionantes resultados”.
Investigadores defendem ex-secretária de Estado
Resultados que “terão, seguramente, repercussões e reconhecimento muito para além do tempo – infelizmente curto – durante o qual desempenhou este cargo“, reforçam no comunicado. “Com a sua visão interseccional e transversal sobre cidadania e igualdade, e a sua determinação sem precedentes em reconhecer temas há muito remetidos para lugares secundários na escala de prioridades políticas, Catarina Marcelino colocou as questões de género, da igualdade entre mulheres e homens e a da cidadania sexual no centro das políticas de igualdade”, salientam os investigadores.
Entre as várias intervenções, destacam o seu trabalho na proposta para a paridade nas empresas públicas e nas empresas cotadas em bolsa; a aposta numa Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania na Escola Pública; e o dossiê de revisão da lei de identidade de género, “que irá finalmente acautelar direitos de jovens transgénero e suas famílias”.
Os investigadores realçam também “a sua disponibilidade para dialogar e a sua capacidade de negociação com diversos agentes” que “permitiram progressos jurídicos, políticos e sociais que não teriam sido imagináveis sem a sua intervenção sólida, convicta e de forte proximidade empática”.
Na área dos Estudos de Género e Sexualidade, Catarina Marcelino teve “um papel central” na auscultação da comunidade científica, empenhando-se na criação de condições que fortaleçam esta área de estudos. Desse trabalho resultou o parecer “Reforçar o Sucesso e a Excelência dos Estudos de Género em Portugal: recomendações ao nível de Políticas para a Ciência”, que os investigadores vão enviar para Rosa Monteiro.
CB com Lusa
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