Jejum intermitente pode afetar hormonas, fertilidade e líbido? Ciência responde

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[Fotografia: Rodnae Productions/Pexels]

Tem sido uma das dietas mais populares dos últimos anos. O jejum intermitente caracteriza-se por períodos de alimentação normal que são intercalados com largas horas de jejum ou ingestão calórica restrita.

Um corte alimentar posto em marcha em determinadas horas do dia e que tem vindo a ter adeptas célebres nacionais e internacionais, entre elas a apresentadora Cristina Ferreira e as atrizes Jennifer Aniston e Reese Whiterspoon. Em 2016, chegou mesmo a ter o suporte do Nobel da medicina, Yoshinori Ohsumi, ao defender que jejum faz com que as células se alimentem a si mesmas – processo chamado de autofagia – o que renova o organismo.

Porém, novos estudos vêm trazer novas indicações e interrogações, mesmo, relativamente aos efeitos desta dieta sobre a fertilidade, clamando, e é importante vincar, a elaboração de mais estudos científicos que venham atestar esta mesma correlação e a sua multiplicidade de resultados nas várias populações.

De volta à investigação, os pesquisadores mediram as concentrações de testosterona, androstenediona, SHBG, desidroepiandrosterona (DHEA), estradiol, estrona e progesterona nas participantes em fase pós-menopausa. Na fase pré-menopausa, os cientistas não mediram estradiol, estrona e progesterona por serem hormonas variáveis ao longo do ciclo menstrual.

Ora, uma das primeiras conclusões indica que ambos grupos perderam peso ainda que a velocidades diferentes, com o da amostra da pós-menopausa a perder mais do que o da pré-menopausa, numa relação de 4 e 3 %, respetivamente.

De entre a queda, a hormona mais significativamente afetada pelos novos padrões alimentares foi a DHEA, produzida pelas suprarenais, gónadas e cérebro e tida como uma precursora quase direta da testosterona e do estradiol. Nas mulheres, esta diminuição está geralmente associada à redução de líbido e não só, podendo ter de ser doseada e reforçada em casos de tratamento de fertilidade. Em ambos grupos, a concentração de DHEA caiu após oito semanas de jejum intermitente.

Contudo, este estudo – publicado na revista ObesityTrustedSource (que pode ser lido no original aqui) – foi realizado tendo amostras compostas por mulheres com obesidade e por um programa de restrição alimentar que durou oito semanas.

A equipa que liderou a investigação, da parte da Universidade de Chicago, mostrou que o jejum intermitente teve pouco efeito sobre a maioria das hormonas reprodutivas em mulheres com obesidade. No entanto, as concentrações de DHEA diminuíram nas participantes, o que pode ter implicações para a saúde reprodutiva.

Porém, cientistas deixam ressalvas. “Não sei se esses resultados podem ser extrapolados para mulheres com peso saudável”, alertou uma das nutricionistas que integra a equipa de investigadores, Krista Varady.

“Precisamos de mais estudos que analisem o efeito do jejum intermitente nas hormonas reprodutivas em populações variadas. Também precisaremos de verificar como o jejum intermitente afeta a fertilidade em homens e mulheres”, acrescentou.

Os três modelos para jejuar de forma intermitente

Existem três modelos posssíveis. Um primeiro que prevê a ingestão regular de refeições em cinco dias por semana com redição forte em dois dias não consecutivos da semana. Há um segundo modelo que prevê privação alimentar de dias alternados, onde os dias normais de alimentação são alternados com dias de ingestão restrita.

Num terceiro modelo, trabalha.se com a restrição do tempo num período de 24 horas: com uma janela de alimentação de 4 a 12 horas (mais comumente de 8 a 10 horas), as pessoas comem normalmente, com apenas água e bebidas sem energia permitidas fora desse período de tempo.