No mês em que se assinala o Cancro da Mama, o anfiteatro do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa abriu portas para um workshop de maquilhagem terapêutica, com o maquilhador e terapeuta ocupacional Marco Ferreira.

No dia 24 de outubro, várias doentes oncológicas assistiram às lições de Marco Ferreira sobre maquilhagem. O profissional pediu uma assistente e Ana Cristina Teixeira, de 51 anos, foi a única a oferecer-se como modelo. Por meias palavras, contou-nos que descobriu ter cancro no início deste ano. O cabelo não chegou a cair, mas as sessões de radioterapia deitaram-na muito abaixo:

“Sentimo-nos muito mal, ficamos muito angustiadas, tristes. Parece que o mundo vai acabar. Mas depois temos que pensar nos cinco A’s (Admitir, Adaptar, Aceitar, Agir e Acreditar). Não penso, nem quero pensar que tenho a doença e tento fazer a vida normal, brincar, rir, trabalhar. Tudo como fazia antes. Vir aqui foi importante e muito para conhecer os produtos e saber o que faz bem e o que faz mal à pele, para a protegermos e pormo-nos mais bonitas ainda”.

Despachada, mas com um pouco de vergonha, Ana Cristina ocupou o lugar e o maquilhador colocou mãos à obra, começando o passo a passo de uma make up que “qualquer pessoa consegue fazer em casa”, garantiu à audiência.

“Por causa da quimioterapia, o doente oncológico vai-se muito abaixo psicologicamente e isso reflete-se na própria imagem. Além do desconforto físico, como efeito secundário, surgem as manifestações na pele, a perda do pelo das sobrancelhas e das pestanas. Nós conseguimos, ‘terapeuticamente’ voltar a dar uma imagem em que a pessoa se sente bem, se sente confortável na sua pele”, explicou Marco Ferreira.

A pouco e pouco, a plateia começou a descontrair. As perguntas foram surgindo e houve até quem tomasse nota de algumas dicas num caderno. Sobretudo quanto aos produtos. A fibra de seda foi um dos mais desejados. Muito parecida na aparência e na utilização com uma máscara de pestanas, este produto é muito mais potente que as tradicionais máscaras, que se aplica antes e depois da utilização deste produto, dando mais volume ao pelo.

Marco Ferreira explicou que a fibra de seda é utilizada em doentes com cancro quando as pestanas começam a surgir: “primeiro aplica-se a máscara de pestanas normal, depois passa-se com a fibra de seda e, por fim, volta-se a colocar a máscara”. Um produto que já se encontra em algumas lojas de maquilhagem do país.

Mais difíceis de achar são as bases, os batons, os lápis de olhos e outros produtos de maquilhagem livres de perfumantes ou composições sintéticas, como níquel ou metalóides pesados, componentes que podem provocar reações alérgicas nos doentes. Produtos deste tipo podem ser encontrados em algumas lojas com pinturas corporais à base de água, como a Mascarilha e Papagaio com Penas.

“Eu utilizo a marca Grimas, uma marca de origem holandesa que só vende online, mas que já tem um distribuidor em Portugal, em Leiria”, contou Marco ao Delas.pt. Apesar de serem tintas profissionais os preços são idênticos aos praticados na cosmética mais tradicional. “Uma sombra custa à volta de oito euros e é uma sombra com mais quantidade do que uma sombra normal, que compramos no mercado, e com uma durabilidade imensa. São mais acessíveis porquê? É muito simples, se olharmos para o packaging, esta marca não investe na imagem. Não investe numa caixa bonita. Investe na qualidade, na investigação e, por isso, consegue um produto muito mais barato. Todo o dinheiro é canalizado para a investigação e para a qualidade do produto”, afirma Marco Ferreira.

E na hora de desmaquilhar?

Também “na desmaquilhagem deve usar produtos que sejam de facto 100% naturais certificados. Que não contenham álcool nem fenóis, que sejam altamente dermocáusticos para a pele, principalmente em peles sensibilizadas. Nunca se deve utilizar toalhitas. Eu costumo trabalhar com um produto que é sobretudo feito à base de óleo de amêndoas doces e camomila romana. Um produto que acalma de imediato a pele, hidrata-a, retira todas as impurezas e não a agride. O ideal é usar como uma loção. Colocar um pouco na mão emulsionar o rosto e passar por água. Está feito. É extremamente rápido e limpa tudo”, explicou-nos por fim Marco Ferreira.

Esta iniciativa teve por base uma parceria entre o IPO de Lisboa e a marca Alma Sana, da Sorisa. Um projeto que, além de angariar fundos para a Clínica da Mama do Instituto, tem desenvolvido outras iniciativas, como sessões de ioga do riso, ateliers de origamis e exibições de dança com bailarinos profissionais.

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