Marcelo em “fase de deslumbramento” e “incontinência comportamental”

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[Fotografia: Captura de ecrã/Isto é Gozar Com Quem Trabalha/SIC]

À margem do arranque das comemorações do cinquentenário do 25 de Abril, em Alcáçovas, Viana do Alentejo, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, protagonizou um momento em que ofereceu uma cadeira a uma cidadã para depois lhe dizer: “A cadeira aguenta?”.

O episódio insólito, com um olhar de exclamação da visada, veio a público um dia depois de ter acontecido, no domingo à noite, 10 de setembro, no programa de humor conduzido por Ricardo Araújo Pereira, na SIC, Isto é Gozar Com Quem Trabalha, suscitando estupefação e incómodo por parte de especialistas ouvidos pelo Delas que criticam um comentário que indicia análises do peso relativamente a uma mulher, mas que traz à tona um comportamento recorrente do chefe de Estado.

[Fotografia: Captura de ecrã/Isto é Gozar Com Quem Trabalha/SIC]
Marcelo em “fase de deslumbramento” e “incontinência comportamental” 25 de abril alcáçovas comenta´rio Presidente da República
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Sem surpresa, o presidente da Academia de Protocolo, João Micael, lembra que “todo o comportamento do presidente da República desde que tomou posse é caracterizado por esta aproximação ao povo. “Mas há uma diferença entre ser popular e popularucho”, aponta. E enumera os casos: “Estar com as pessoas na rua não é a mesma coisa que entrar numa cervejaria e tirar uma cerveja, sair da praia e mudar de roupa em plena via pública e a ser fotografado, a dar beijos a barrigas das grávidas”, lembrando um episódio captado por um fotojornalista da Agência Lusa, na noite das marchas populares de 2022.

Para João Micael, também presidente da Matriz Portuguesa – Associação para o Desenvolvimento da Cultura e do Conhecimento – são exemplos da mesma atitude: “incontinência comportamental”. “Neste caso, então, não se diz a ninguém, sobretudo por se tratar de um comentário sobre uma condição física”, diz, referindo-se à questão do peso.

João Micael crê que o gesto “não tenha sido feito com malícia”, mas lembra que é “desadequada ao cargo que Marcelo Rebelo de Sousa ocupa”.

“Toda a figura pública que consta na Lista das Precedências do Protocolo do Estado Português é sempre uma pessoa pública, com responsabilidade formal, não pode achar que é um cidadão privado em momento nenhum. Representa o povo, já para não falar que, neste caso, é feiíssimo”.

“Já não tem controlo emocional”

Para o profiler Alexandre Monteiro, Marcelo Rebelo de Sousa está “numa fase de deslumbramento”. “O presidente usa muito a emoção para esconder a verdadeira essência. Ele é controlador, gosta de dominar as situações e, estando neste deslumbramento, já não tem controlo emocional em relação aos sentimentos dos outros”. Concretizando, este profiler que “dá formação a políticos e a celebridades nacionais e internacionais e forças de autoridade”, assegura que esta atitude parte de alguém “que sente que não tem obrigação de agradar a ninguém, pelo que o filtro emocional quebra”.

Sendo a primeira figura na hierarquia do Estado, Monteiro alerta para o perigo da “permissão”, mas não só. “Ao ter este tipo de atitudes, ele está a dizer aos outros que o façam também, e depois não é benéfico para ele porque perde a autoridade como presidente”, acrescenta.

Pedir desculpa não é solução para João Micael, nem é expectável para Alexandre Monteiro. “Não se sai desta fase, tende a ser pior. Quem vai dizer alguma coisa ao presidente?”, indaga o profiler. “Ele não vai sentir culpa, vai justificar-se, talvez, dizer que não foi por mal. Mesmo que peça desculpa, só o fará para não sofrer consequências (…), é comum quando se está nesta fase de deslumbramento”.

O presidente da Academia de Protocolo não vê necessidade de um pedido de desculpa. “Acredito que não seria sensato porque não foi por mal e, se é para emendar a mão, já vai tarde. As gaffes ignoram-se, mas não podem ser repetidas. Só que ele ainda não parou”. Para João Micael, o caminho é “a bem da Presidência, nunca mais o presidente ter este tipo de comportamentos. O adágio popular ‘mais vale cair em graça do que ser engraçado’ serve perfeitamente aqui”.