Movimento anti-tablet: ponha o seu filho a mexer!

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Berlindes? Macaca? Apanhada? Nada disso. A geração iPod e iPad está aí. Não há como negar: cada vez mais crianças se iniciam precocemente no mundo das tecnologias, com ou sem o incentivo dos mais velhos, tratando por “tu” uma série de equipamentos que foram estranhos para os próprios pais até à idade adulta. O resultado são jovens mais sedentários e introvertidos, por vezes com excesso de peso, aos quais falta o sentido de grupo e o gosto pela atividade física.
Para contrariar esta tendência e zelar pela saúde (física e mental) dos mais pequenos, nada melhor do que pôr o seu filho a mexer. Literalmente. Como? Inscrevendo-o num desporto da sua preferência. José Mário Silva, Diretor Técnico da Associação de Ténis de Lisboa e Ex-Selecionador Nacional de Sub-12 e Sub-14 masculinos, indica que, idealmente, entre os 3 e os 10 anos de idade, as crianças deveriam ser submetidas ao contacto com o maior número de desportos possível.

“Sabemos que financeiramente nem sempre é comportável para os pais, mas está provado que a partir dos 10 anos o cérebro já não está tão recetivo. Por exemplo, os grandes campeões de ténis muitas vezes começaram com outros desportos, mas essa variedade de estímulos ajudou à prática e aperfeiçoamento do ténis, mais tarde.”

Na escola onde recebe os seus alunos, José Mário Silva testemunha os benefícios do ténis em crianças.

“O ténis é um desporto muito completo, já que mexe com todos os membros, superiores e inferiores. Melhora a coordenação motora e a locomoção óculo-manual, ou seja, trabalha o corpo e a visão desde tenra idade, porque obriga o praticante a concentrar-se no objeto que se move e a bater na bola corretamente, no momento exato.”

Por esta razão, José Mário Silva explica que é um desporto recomendado a crianças com falta de concentração, bem como às hiperativas. “É um desporto extremamente exigente não só a nível físico, como mental, por isso é necessário ter inclinação para jogar e, acima de tudo, gostar.” José Mário Silva aconselha o início da prática do ténis entre os 4 e os 7 anos, idealmente uma a duas vezes por semana, “dependendo se quer ou não evoluir e, aí, avaliando o desempenho, poder-se-á aumentar a frequência semanal.”

Mas se o seu filho prefere o meio aquático, então está “como peixe na água”. Carlos Duque, Técnico de Natação, recebe na piscina pais e os seus bebés logo a partir dos 3 meses. Primeira vantagem: é uma atividade praticada em conjunto com um dos progenitores, o que contribui para o aumento da cumplicidade entre ambos.

“Esta interação entre a criança e a figura de vinculação pressupõe reciprocidade, originando crianças seguras, menos sujeitas a fatores de stress, mais afetivas e confiantes”, afirma Carlos Duque.

Além disso, a água é um meio extremamente familiar ao bebé. “É como estabelecer a continuidade do prazer de estar na barriga da mãe. Durante as aulas, o bebé mantém o reflexo do fecho da glote, tal qual fazia no ventre, e sente-se mais feliz.” Para Carlos Duque, a evolução da criança que contacta desde cedo com o meio aquático é evidente, e os benefícios inúmeros.

“A nível motor há um conhecimento mais rápido e eficaz do corpo, um desenvolvimento da coordenação e o fortalecimento da musculatura. Desenvolve também o campo visual, quer no sentido observação/perspicácia, quer na sensibilidade ao contraste, aumentando a capacidade de diferenciação das cores e, por fim, a perceção de profundidade e distância.”

A nível emocional, Carlos Duque destaca a autoconfiança da criança, o que promove a sua intenção de explorar espaços e meios diversos e ultrapassar obstáculos. Catarina Silva, mãe de Maria, 28 meses, inscreveu a filha nas aulas de natação quando esta completou 13 meses, e desde então tem observado nela grandes mudanças.

“A Maria sempre foi mais precoce a nível intelectual do que a nível motor, nunca foi uma criança muito aventureira, e desde que frequenta a natação tenho notado uma enorme evolução. Está mais destemida, trepa, pula, e sente-se confiante dentro de água, sem medos. E o mais importante é que se diverte imenso!”

Finalmente, se o seu filho prefere mexer-se ao ritmo da música, então não restam dúvidas sobre a escolha. Sílvia Carvalho, Professora de Dança e Diretora da Academia Dance Fusion, frisa que a dança, em geral, é extremamente vantajosa para as crianças, e não só.

“A dança é muito importante para o trabalho de postura. Fortalece os músculos, trabalha a flexibilidade e a coordenação motora e, acima de tudo, é uma modalidade que serve para libertar o stress, divertir-se e ganhar autoconfiança.”

Sílvia Carvalho indica que este desporto promove o bom funcionamento do sistema cardiovascular e respiratório, bem como o emagrecimento, mas que a nível psicológico são também grandes as mudanças que observa nos seus alunos.

“A dança ajuda as crianças a acreditarem mais nelas, diminui a ansiedade, a depressão, e melhora a capacidade de memória.”

Segundo a professora, as aulas de dança deverão ter início o mais cedo possível, pois as crianças em crescimento têm maior facilidade em exercícios de elasticidade e postura. “O aconselhado será uma iniciação ao ballet aos 3 anos e depois, conforme a criança vai crescendo e formando também o gosto e autonomia, manter ou optar por outro estilo com que mais se identifique.” Filomena Santos reconheceu desde cedo na filha Ana, 13 anos, a inclinação para a dança. “Aos 6 anos inscrevia-a nas aulas. Sabia que era uma mais-valia como atividade extracurricular, além de trazer imensos benefícios para a saúde.” E confirmou-se. Filomena considera que a dança tornou a filha uma criança mais feliz, sociável, e menos sedentária. “Apesar de ela gostar muito de televisão, internet e afins, a dança está sempre em primeiro lugar!”