Sabia que há um casaco em cabelo humano made in Portugal? Agora já pode vê-lo!

FILIPE FAISCA

Já abriu o novo museu da Moda e do Têxtil, em Gaia, junto às Caves do Vinho do Porto. O espaço de dois mil metros quadrados vai reunir a história da indústria têxtil em Portugal, mas também o que de mais icónico se tem feito na moda de autor – calçado, vestuário e filigrana – em Portugal.

Ao Delas.pt, a coordenadora do espaço, Catarina Jorge, faz uma visita guiada por algumas das peças mais emblemáticas que podem ser apreciadas no museu, das 12.00 às 19.00 horas nos dias úteis e das 10.00 às 19.00 horas ao fim de semana.

Uma viagem pelo empreendedorismo nacional, mas sobretudo pela criatividade, onde vai poder ver um casaco em cabelo humano, da autoria do designer Filipe Faísca, um casaco de papel manuscrito concebido por Paulo Cássio e Júlio Torcato, em 1993, e muito, muito mais.

Veja abaixo algumas das peças que merecem olhar atento e uma visita para poder ver tudo o resto. Pela mão de Catarina Jorge.

Blazer de papel escrito à mão, Paulo Cássio & Júlio Torcato (outono/inverno 1993): A beleza e fascínio desta peça deve-se, sem dúvida ao material ao material que foi escolhido pela dupla de designers para a sua construção: papel

Vestido em malha com fechos, Ana Salazar (primavera/verão 2008): Personalidade emblemática da história da moda nacional, será sempre extremamente complexo escolher apenas uma peça que seja testemunho do trabalho da Ana Salazar. Nesta peça conseguimos identificar o ideal de mulher que esteve sempre na base do desenvolvimento das suas coleções: uma mulher urbana, ousada, e em alguns momentos sensual.

Casaco em crepe de lã negro com botões em Cobre, Pedro Cruz Abbondanza Matos Ribeiro (outono/inverno 1992): Integrado naquela que foi a mais ‘portuguesa’ coleção da dupla de designers – caracterizada pelo uso do negro saudade, associado à iconografia e a detalhes do traje popular, como as sete saias da Nazaré ou os bordados de mordoma – este casaco alia a morbidez de um crepe de lã italiana com a construção menos ortodoxa. Botões em cobre repuxado, da autoria do joalheiro Pedro Cruz, cúmplice de crime em várias coleções.

Coordenado Color Test Women’s Jumper + Saia de Franjas BW + WOOL MASK TV OFF _ THE KNITTED SESSIONS, Aforest Design (outono/inverno 2005): Cor, design, conforto e irreverência – palavras que surgem de forma imediata quando olhamos para estas peças da dupla de designers Aforest Design. Atrevo-me apenas a acrescentar a palavra: contemporaneidade. Dezasseis anos após a sua apresentação, é uma peça tendência nos dias de hoje.

Casaco de cabelo natural, Filipe Faísca (outono/inverno 2007): Esta é uma das peças que melhor exemplifica a irreverência e o espírito criativo deste designer.

Bolsa Tetrahedron, Ricardo Preto (primavera/verão 2020): Mais que o design, o motivo que nos fez considerar esta peça nesta seleção, foi sem quaisquer dúvidas, a razão/ motivo que esteve na sua origem. Esta peça nasce de uma colaboração do designer com a empresa R2R, com o propósito de proporcionar condições de vida mais dignas a uma comunidade de artesãos das Filipinas, que de forma manual produziram estas bolsas, recorrendo a reutilização de diversos materiais. Sustentabilidade de materiais e preservação do “saber fazer manual” são elementos bem presentes nesta peça. Para a construção totalmente manual desta peça recorreu-se a reutilização de materiais.

Vestido Casaco e Perneiras de Ganga, Marques’Almeida (outono/inverno 2011): Exemplo máximo do amor pelo denim destes dois designers. O denim é o elemento que juntou a Marta e o Paulo e que identifica a marca Marques’Almeida.

Ode 13_ Escultura de peito em Alumínio Anodizado, Olga Noronha (2016): A apresentação desta peça na Moda Lisboa ao som de “Ó Gente da Minha Terra”, fez deste um momento marcante na história da moda de autor portuguesa. Muitas vezes apelidadas de “jóia- armaduras”, as peças da Olga são ímpares.

Capacete de alumínio, Valentim Quaresma (2012): Irreverência e experimentalismo. Criatividade no material escolhido para desenvolvimento de uma peça que é, verdadeiramente, uma escultura

Vestido em Patches Bordados, Alves Gonçalves (primavera/verão 2015): O processo de construção desta peça – construída integralmente em patches bordados em forma de asas – é exemplar da qualidade e da mestria da moda de autor nacional.

Peruca em Porcelana, Nuno Gama (primavera/verão 2015): Homenagem à cerâmica nacional. Demonstra a influência e o respeito pelo património cultural nacional. Recurso ao tradicional, contrastando assim com a irreverência e contemporaneidade, frequentemente, associados à moda de autor.

Casaco em lã cm Modelação 3D, Carla Pontes (outono/inverno 2014): “São folhas, são pétalas… a abraçar os corpos em sobreposições”. O casaco de 4 folhas, é um excelente exemplo para representar a identidade 3D que faz parte do ADN das criações de Carla Pontes. Desenhado e modelado seguindo o pensamento tridimensional, o casaco de 4 folhas reflete no molde o desenho de uma flor aberta que ao ser unida ganha volume, e que com várias folhas envolve e abraça o corpo de quem o veste. A modelação orgânica e contínua, em que cada peça tem pouco mais de um molde, é elemento chave na pureza do desenho da designer.