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Leilão: O olho de Ziggy Stardust

1 Fotografia a preto e branco por Gavin Evans sobre obra de Damien Hurst, uma das estrelas do leilão. (Montagem de João Galvão)
2. BEAUTIFUL, SHATTERING, SLASHING, VIOLENT, PINKY, HACKING, SPHINCTER PAINTING, por Damien Hurst em 1995, verniz sobre tela. Sobre o artista disse Bowie: “Ele é diferente. Penso que o seu trabalho é extremamente emocional, subjetivo e preso ao seus medos íntimos – o seu medo da morte é fortíssimo - e as suas peças são comoventes e de forma alguma irreverentes.” Preço estimado entre €296.205 e €414.687.
3. HEAD OF GERDA BOHEM, por Frank Auerbach em 1965, óleo sobre tábua. O tal quadro de que Bowie desejaria ser o som. Preço estimado entre €355.446 e €592.410.
4. AIR POWER, por Jean-Michel Basquiat em 1984, acrílico e pastel de óleo em tela. A relação entre Bowie e Basquiat data pelo menos desde a realização do filme Basquiat, de Julian Schnabel, em 1996, em que David desempenhava o papel de Andy Warhol, colaborador e mentor de Jean-Michel. Nesta altura era já clara a ligação que o cantor sentia pelo pintor: “Não me surpreendeu saber que Basquiat tinha uma ostensiva ambição de se tornar um músico rock”, escreveu Bowie no mesmo ano na Modern Painters, “ o seu trabalho emparelha com o rock como poucos artistas visuais o fazem”. Preço estimado entre €2.962.052 e €4.146.873.
5. FAMILY GROUP, por Henry Moore em 1944, bronze. Preço estimado entre €296.205 e €414.687.
6. Aparelhagem Radiophonograh modelo RR 126, por Pier Giacomo e Achille Castiglioni para a Brionvega em 1966. Preço estimado entre €947 e €1421.
7. CIRCUS SCENE, por Percy Wyndham Lewis em 1913-14, caneta e tinta, aguarela e guache. Preço estimado entre €82.937 e €118.482.
8. FOYER, por Patrick Caulfield em 1973, acrílico sobre tela. Preço estimado entre €473.928 e €710.892
9. BIG SUR SOFA, por Peter Shire em 1986, madeira lacada, fórmica e estofo de tecido. Preço estimado entre €4.739 e €7.108.
10. 11. CANDEEIRO ASHOKA, por Ettore Sottsass em 1981, metal cromado e lacado. Preço estimado entre €947 e €1.421.
11. THORN BUSH, por Graham Sutherland, circa 1947, lápis colorido, carvão, aguarela, tinta e guache. Preço estimado entre €35.544 e €59.241.

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É colecionador? Quer começar agora? Espere por novembro, porque a Sotheby´s de Londres vai leiloar a coleção privada de arte de David Bowie. E mesmo para quem não tem dinheiro para comprar nenhum dos itens, só o facto de a poder conhecer e (há um leitor de cor rosa em todas nós) saber o que David Bowie tinha nas paredes é uma bênção.

A coleção é composta por cerca de 400 peças, do melhor que os Modernos e os Contemporâneos fizeram e, em parte devido a este enorme acervo, a Sotheby’s dividiu o leilão em 3 partes. Antes do evento, parte da coleção corre já mundo, para aguçar os apetites em 4 cidades escolhidas pelo seu potencial comercial; desde julho e até outubro Londres, Los Angeles, Nova York e Hong-Kong podem ter um preview do que a Sotheby´s de Londres na New Bond Street disponibilizará ao mundo.

Não há muitas celebridades das quais se tenha curiosidade em conhecer o íntimo, como só o revela a escolha das coisas pelas quais nos rodeamos, como a arte. E Bowie não era apenas uma celebridade: não houve em tempo algum uma onda de pesar nas redes sociais, tão grande e tão contínua, como aquando da sua morte. Com a morte de Bowie, toda a gente morreu um bocadinho.

Saber o que o encantou é saber mais sobre o artista. Disse ele, em 1998, ao New York Times:

“Arte é, falando a sério, a única coisa que sempre quis ter. Para mim foi sempre um alimento, e usei-a dessa forma. Consegue mudar a forma como me sinto de manhã. E a mesma obra pode afetar-me de formas diferentes, dependendo daquilo por que estou a passar.”

A sua faceta de colecionador era das coisas de que menos se sabia sobre ele e este leilão é capaz de ser a bomba do mercado da arte neste inverno: para além do seu valor intrínseco, estas coisas foram de Bowie, que bebia café de roupão, de manhã, olhando para elas. Só isto acrescenta pelo menos um dígito ao preço.


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O volume desta coleção levada a leilão, sendo de um particular, não é normal, nem a qualidade do que se mostra; não deixe de ler atentamente as legendas da breve (porque não nos deixam fazê-la maior) galeria que é um pequeno espelho do que a Sotheby’s leiloará em novembro. Só os nomes são o melhor aperitivo para o que aí vem, e de todos, esta tríade pela qual se batem museus ao redor do mundo, Basquiat, Hirst e Auerbach. Não será surpresa, aliás, se representantes do MoMA de Nova Iorque ou da Tate de Londres estiverem lá de plaquinha na mão.

A especial paixão de Bowie pelos Modernos e Contemporâneos, concluímos nós agora depois de conhecer a coleção, é bem refletida na sua obra e não apenas ao nível empático; Bowie fá-lo consciente e deliberadamente. Por exemplo, sobre a sua relação com a tela Head of Gerda Boehm, de Frank Auerbach, David disse “Ó meu Deus! Quero que me ouçam assim!” numa entrevista ao New York Times.

A qualidade e a extensão do acervo obrigou, pelos melhores motivos, a Sotheby’s a estender o leilão por 3 jornadas, uma a 10 de novembro e duas no dia seguinte.
E em Londres, porque afinal, na sua busca pela melhor arte moderna e contemporânea mundial, Bowie acabou por se render também aos ingleses seus conterrâneos, como nos diz Simon Hucker, Especialista Sénior em Arte Moderna e Pós-Guerra da Sotheby’s: “Enquanto colecionador, Bowie procurou artistas com os quais sentisse algum tipo de união e obras que o inspirassem. Tal acabou por conduzi-lo, naturalmente, aos ingleses do início e meados do século XX, e, de alguma maneira, também a casa”.