Sabia que?
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Falar demasiado forte ou fraco, ter uma voz estridente ou irritante, voz rouca ou trémula são os principais problemas apontados por mulheres em cargos de liderança, e que mais lhes retiram credibilidade.
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Um estudo realizado em 2012 por professores da Duke University e da Universidade de Miami demonstrou que tanto homens como mulheres preferem mulheres com vozes mais graves para cargos de liderança.
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Um estudo realizado na Austrália em 1998 comparou vozes femininas gravadas na década de 40 com gravações da década de 90 e concluiu que as mulheres têm vindo a ajustar a sua voz para um tom mais grave (queda de 123 Hz).
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A nossa cultura ainda é a herdeira de um estilo greco-romano de discurso público onde uma voz grave indicava coragem e uma voz aguda representava juventude, inexperiência e até fraqueza.
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No locais de trabalho as mulheres ainda são mais propensas a serem interrompidas e criticadas por expressarem emoção, pelo que as opiniões são descartadas e as realizações são negligenciadas.
Com as eleições europeias à espreita, com o tema do Brexit nas capas do jornal, analisámos os desafios da liderança feminina e, em específico, da sua voz.
Todos sabemos que as mulheres em cargos de liderança estão frequentemente expostas a críticas a aspetos não relacionados com o seu trabalho, como um novo corte de cabelo, uma roupa não convencional ou a forma como equilibram a sua vida pessoal. A voz não é uma exceção.
No passado dia 12 de março a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, proferiu o seu discurso na Câmara dos Comuns com a voz rouca, com falhas e tosse frequente. Os jornais não tardaram a fazer paralelismos entre as falhas na sua voz e acordo relativo ao Brexit. Outros comentaram que não era a primeira vez que tinha rouquidão em discursos decisivos – “poderá assim continuar a ser a voz que representa o país?” – perguntam.
Também no passado Margaret Thatcher foi apontada como tendo uma voz irritante e, nas últimas eleições contra Donald Trump, Hillary Clinton foi vista como pouco emotiva e fria.
A tendência é que existam mais mulheres em cargos de relevo. Alguns exemplos de vozes femininas ao poder: Angela Merkel tem uma voz segura, confiante, pausada e bastante analítica congruente com o seu estilo. Christine Lagarde apresenta um voz grave, pausada, com pouco volume e expressividade contida. A eurodeputada Ana Gomes apresenta um volume forte, expressivo e bem pontuado com a voz. A Marisa Matias transmite convicção com a sua voz grave, rouca e pausada.
Quer queiramos, quer não, a voz tem um papel decisivo na impressão que se gera de outra pessoa: género, idade, saúde, naturalidade, instrução, profissão são só alguns aspetos que se inferem sobre a voz. Esta impressão sonora gerada no nosso cérebro leva também a inferências sobre a personalidade ou competência para liderar uma empresa ou um país.
Uma voz mais grave, bem colocada e pausada está associada a competência e confiança. Isso explica que mulheres, cujas vozes não correspondem a este padrão enfrentam um desafio quando trabalham em campos tipicamente dominados por homens, como negócios e política.
Mas atenção: reconhecer que estes padrões existem não significa que tenha que concordar com eles. O objetivo não é que as mulheres falem como homens. É que as mulheres utilizem todo o potencial da sua voz e que, através do treino, retirem os obstáculos que impedem o público de se focar na mensagem.
A voz é um instrumento que a maioria das pessoas não domina. E se a souber dominar? Que oportunidades poderá ganhar?
Inês Moura é coach vocal de líderes empresariais e políticos, e outras personalidades,
autora de ‘O Poder Secreto da Voz’.
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