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Quarentena: não são só divórcios, também há quem se tenha voltado a apaixonar

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Fechados em casa durante quase dois meses, os casais têm vindo a ultrapassar várias adversidades e obstáculos. Alguns, caminham para o divórcio, outros, voltaram a encontrar-se e a redescobrir o amor.

Depois da quarentena, o número de divórcios disparou na China. Mas, e por cá? Os especialistas não arriscam prognósticos seguros, mas admitem que sobreviver ao confinamento não foi nem é tarefa fácil. E se há formas de tentar evitar discussões em período de confinamento, também há quem tenha aproveitado este momento para redescobrir o amor que se foi esvaindo com o passar do tempo.

Para o psicólogo e terapeuta familiar José Carlos Garrucho, muito tem-se falado sobre os divórcios e dificuldades conjugais, mas pouco se tem abordado sobre quem voltou a apaixonar-se em pleno período de pandemia. Em entrevista ao Delas.pt, o especialista afirma que tem falado com muitos pacientes que admitem esta possibilidade, arriscando-se até a dizer que os casos entre a possibilidade de divórcio e a de reacender a paixão estão quase em pé de igualdade.

Se o confinamento e o distanciamento físico entre as pessoas trouxe o lado mais negativo dos casais ao de cima, que se viram impedidos de qualquer outra interação ou rotina que não uma vida em comum entre quatro paredes, também trouxe as suas vantagens. “Este lado mau, que foi estarmos confinados a este espaço mais privado e menos em espaços públicos, também fez outras coisas, como as famílias que se voltaram a encontrar e que tiveram um mês e meio, quase dois, a encontrarem-se sempre uns com os outros, que era coisa que muitos quase não faziam”, começa por explicar o especialista.

“E, por isso mesmo, houve casais que também se voltaram a apaixonar”, reitera desde logo o terapeuta familiar, que afirma que embora muitos casais possam ter intensificado alguns problemas, outros redescobriram características nos parceiros que já não se recordavam que existiam: “Tal como se fala dos divórcios, também há o contrário, existe de tudo, evidentemente. Há muito mais gente que está hoje mais consciente da sua relação agora e que, portanto, ficando na relação ficam também mais conscientes, porque ela é agora mais intensa”, continua.

Precisamos de estar desencontrados, para nos voltarmos a juntar

Ainda que há quem tenha redescoberto o amor perdido, é verdade também que não fomos feitos para estar permanentemente em conjugalidade e, portanto, as conjugalidades foram muito desafiadas neste contexto. Porque embora estejamos muito apaixonados pelo nosso parceiro ou parceira, “ao fim de um tempo queremos mesmo é voltar a estar com os amigos, a fazer outras coisas que não só respirar o ar que a outra pessoa respira”, comunica o psicólogo.

“Precisamos de diversidade, precisamos de sair. Mesmo os apaixonados precisam de sair para voltar ao encontro. O encontro significa que temos de estar separados para nos juntarmos. Ora, deixa de haver encontro quando estamos encontrados. Portanto, precisamos de nos voltar a separar para nos voltarmos a encontrar”, explica de forma engraçada o terapeuta.

Nós, seres humanos, somos feitos desta intermitência do “ir e vir”, do chegar e afastar. Esse movimento de aproximação e afastamento é essencial, “que depois se traduzem em ciclos e em rituais que se vão repetindo”. Quando o casal se volta a encontrar, volta também a replicar o seu primeiro encontro, como forma de ritual ou “missa”, como lhe chama José Carlos Garrucho.

“De tal maneira que às vezes, quando a missa é sempre igual, aborrecemo-nos e pensamos que fazemos isto sempre da mesma maneira. E é por isso que nós, profissionais, recomendamos aos casais que apimentem a relação, experimentem coisas diferentes. Ou seja, em suma, é um ‘façam lá a vossa missinha, mas mudem a missa em qualquer coisita. Nesse jogo, façam lá algo de diferente'”, brinca o especialista.

Fazemos sempre o mesmo, mas precisamos de variedade

Ainda que tendamos a fazer algumas das coisas sempre iguais, o ser humano precisa sempre de uma constante de variabilidade. Ou seja, “os casais cumprem e repetem alguns rituais, mas também eles próprios vão produzindo a variabilidade suficiente para se manterem em casal. Porque senão aborrecem-se, adormecem e deixam de ser um casal”, reitera o terapeuta.

A conjugalidade e as relações primam-se muito por esta variabilidade. E essa variabilidade é igualmente interferida pelos contextos. Por exemplo, se entra o desemprego num casal, evidentemente que esse problema vai mexer com a intimidade. Porque há um fator de stress importante, que é o desemprego e a perda de rendimento, que “vai interferir no estado de animo e de animação que, por consequência, interfere com a erotização. Para haver erotização é preciso um conjunto de características que desafiem. Se há perturbações do lado de fora, as pessoas perdem o entusiasmo, a libido, o desejo” e, por isso, o casal acaba por ficar abalado.

Portanto, se por um lado há casais que não conseguem lidar com estas variabilidades e vulnerabilidades, há também quem os consiga e, por isso mesmo, esteja mais consciente na sua relação.