“Falta-me conhecer o Cristiano Ronaldo, adoro o Ronaldo desde os tempos em que ele jogava no Manchester United”, diz Rita Gilligan, embaixadora do Hard Rock Cafe, e repete ao telefone esta frase, ainda mais vezes do que aquelas em que me diz: “Estou quase a fazer 76 anos”. Ela é a autora do livro, ainda sem tradução para português ,’The Rock ‘n’ Roll Waitress at the Hard Rock Cafe‘ (A empregada rockeira do Hard Rock Cafe) publicado este ano. O texto é uma autobiografia da irlandesa, emigrante em Londres nos anos 1960 e hoje embaixadora da marca, que tem como protagonistas de alguns episódios nomes como Eric Clapton, Bill Wyman, ou os Beatles, mas não tem o Cristiano Ronaldo.
O livro não se compõe só de famosos. Aliás nos primeiros capítulos acompanhamos a infância e adolescência desta mulher, numa pequena cidade da Irlanda e os tempos eram “duros”, escreve ela. Ao telefone, reforça que “as pessoas agora queixam-se de não terem dinheiro. A minha mãe não tinha dinheiro para pagar um café.” Foi por isso que Rita emigrou para Londres onde a vida não se tornou imediatamente mais fácil. Aos 29 anos, casada, e com 2 filhos para criar, Rita concorreu a um emprego no ainda por por abrir Hard Rock Cafe, e mentiu. “No anúncio pediam mulheres mais velhas, naquela altura as mulheres que serviam às mesas eram mais velhas normalmente, mas eu fui e disse que tinha 32 anos”.
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Rita lembra-se bem desse dia em que “dois hippies americanos” – Isaac Tigrett e Peter Morton – a entrevistaram “de calças de ganga. Eu nunca tinha visto calças de ganga em pessoas destas.” Que pessoas? As donas, as proprietárias e até os gerentes dos restaurantes e cafés. “Naquela altura uma empregada de mesa não estava autorizada a falar com o gerente. Fui contratada e de repente ali estava eu a falar abertamente com os donos, a dizer que a mesa do canto estava torta ou qualquer outra coisa”.
Esta diferença de etiqueta não foi a única que Rita Gilligan viria a encontrar nos primeiros anos de trabalho no Hard Rock Cafe original, era o ano de 1971. “Tínhamos indicação para tratar todas as pessoas como se fossem estrelas de rock. Dizer olá a toda a gente. Não interessava se entravam apenas para tomar um café, se não tinham o aspeto de pessoas ricas. No Harrod’s, naquela altura, quem não tivesse um certo ar, simplesmente não entrava. Viemos trazer uma cultura completamente diferente a Londres, diria até que à Europa, e as pessoas vinham ao Hard Rock ver o que se passava. Sentiam-se alguém.”
Rita refere na abertura do livro que nunca esperou, nos seus sonhos de menina, que a vida a levasse até onde foi hoje. O tom do texto é grato, o que nos diz na chamada feita para a vila da Irlanda onde nasceu e passa férias com frequência, acompanha esse modo de falar. Agradece aos clientes todos e à empresa que a fez crescer. Foi ao Dubai, a Barcelona, aos EUA, a Lisboa – “onde as pessoas são super simpáticas. Sabe que as senhoras na rua estavam sempre a oferecer-me flores?” – graças ao trabalho que tem (sim, aos 75 anos Rita Gilligan ainda trabalha como embaixadora da marca) livrou-se da pobreza, conheceu a família real inglesa e foi agraciada com a Ordem Mais Exemplar do Império Britânico (MBE). O segredo do sucesso, ela conta-o no livro e reforça-o nesta conversa: “Servir sempre com um sorriso”, e acrescenta: “as empresas precisam de injetar um sorriso em todas as pessoas que ali trabalham. Se as pessoas não são capazes de sorrir é porque não devem estar naquele negócio”.