Vestidos para meninos, calções para meninas ou ao contrário. Nestas roupas tanto faz

Dentro da guerra de géneros têm-se registado várias batalhas, sendo este um tema que se encontra em cima da mesa, não só em Portugal, com a recente distinção de livros de exercícios para meninos e para meninas, como também lá fora. Na Grã-Bretanha, a discórdia instalou-se após uma cadeia de supermercados ser acusada de promover estereótipos através de slogans inscritos em várias peças de roupa.

São frases como “Boys will be boys” (“Meninos serão meninos”, em português) que acabara por lançar a discussão, sobretudo a nível das redes sociais. O Facebook foi a plataforma escolhida por uma mãe para expor o seu desagrado relativamente a algumas peças de roupa que encontrou à venda num dos supermercados britânicos Asda.

O comentário já não se encontra online, mas de acordo com o jornal The Independent, a senhora terá referido que expressões como a anterior apenas estimulam os rapazes a, facilmente, se desculparem pelas suas ações, argumentando que tudo podem, porque são e sempre serão rapazes. O jornal inglês afirma também que um porta-voz do supermercado respondeu ao post justificando que: “O nosso objetivo é fazer com que as pessoas adorem a roupa, nunca que se ofendam”.

No site da Asda é possível verificar que, pelo menos online, ainda é possível comprar a camisola que lançou a polémica, assim como outras que já anteriormente haviam sido alvo de críticas. Peças de roupa para rapaz surgem com expressões ou termos como: “Future Scientist” (“Futuro Cientista”, em português) ou “Total, Genius, Dinosaur e Awesome” (“Total, Génio, Dinossauro e Fantástico”), as destinadas às raparigas trazem estampadas frases como: “Style Icon” (“Ícone de estilo”) e “Hey Cutie” (“Ei Fofinha”).

Peças de roupa para menina (as duas primeiras da esquerda para a direita) e peças de roupa para menino (as duas primeiras do lado direito), à venda nos supermercados ingleses Asda.

Há quase um ano já uma menina britânica, de oito anos, Daisy Edmonds, tinha reparado nisto. Na plataforma do YouTube encontramos um vídeo em que Daisy comenta várias peças de roupa que são, na sua ótica, sexistas. Perante um vestuário masculino, a menina mostra-nos expressões como “Pensa fora da caixa” e “Herói”, enquanto a roupa para menina apresenta “Bonito” e “Eu sinto-me fabulosa”. Posto isto, rapidamente chega a uma conclusão: “Toda a gente acha que as meninas devem ser bonitas e os meninos devem ser aventureiros”.

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O mercado está a mudar

Perante realidade, houve quem tomasse uma posição e quisesse marcar a diferença. Muito recentemente, o retalhista John Lewis abandonou qualquer identificação exclusivamente feminina ou masculina, tendo removido todos os rótulos “para menina” e “para menino” e feito desaparecer áreas demarcadas por género. Cada peça encontra-se agora etiquetada como “Para meninas e meninos” e vice-versa.

Desenhadas propositadamente pelo estúdio de Designe Charlie Smith, estas etiquetas encontram-se nos mais variados artigos, sejam eles cor-de-rosa (normalmente associado às meninas) ou azuis (associado aos meninos), a pares de calções ou vestidos.

Uma mudança elogiada por muitos pais e defensores da inclusão e dos direitos humanos mas que não foi bem aceite por todos. Let Clothes Be Clothes, um grupo ativista que tem lutado pelas questões de género elogiou e apoiou desde logo a iniciativa, assim como outras pessoas que utilizaram as redes sociais para mostrar o seu contentamento com a nova política: “Isso é excelente! Um passo na direção certa, espero que outras grandes lojas sigam o exemplo”, pode ler-se no Twitter.

Post a felicitar a iniciativa de John Lewis

Mas para outros foi como passar do oito para o oitenta. Andrew Bridgen, membro conservador do Parlamento North West Leicestershire e pai de dois rapazes adolescentes, veio intervir afirmando que esta mudança poderia acabar por ser confusa para os pais: “Eu pergunto-me quantos pais vão para John Lewis comprar um vestido para os seus meninos de seis anos? Homens e mulheres, meninos e meninas são biologicamente diferentes, apesar de rumores contrários. Quem só tem filhos, por que razão há de querer perder tempo a passar pela secção dos vestidos?”, disse numa entrevista, segundo The New York Times.

O debate tem ganho contornos globais, sendo esta uma questão que tem tocado várias áreas. Recentemente, Clarks, uma marca britânica, foi considerada sexista por atribuir o nome “Dolly Babe” (“Bonequinhas”) a um modelo de sapato feminino e “Leader” (“Líder”) à versão masculina, a linha acabou por ser retirada do mercado. Também a National Trust se viu numa situação idêntica, após uma publicação no Twitter que mostrava a indignação de uma cliente ao encontrar à venda um chapéu cor-de-rosa com a seguinte expressão inscrita: “Future footballers wife” (“Futura esposa de futebolista”).

Caso idêntico já havia ocorrido em 2015, com a Zara, quando esta lançou bodys onde era possível ler-se na peça para meninas: “Pretty and Perfect – It’s what daddy said” (“Bonita e Perfeita – É o que o pai disse”), já a peça para meninos apresentava: “Cool and Clever – It’s what mummy said” (“Fixe e Inteligente – É o que a mamã disse”).

 


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