No Dia da Criança faça uma Feira do Livro

A nossa sugestão para o Dia da Criança? Livros! O Delas.pt falou com uma especialista na primeira infância para descobrir as vantagens de estimular a leitura desde uma idade precoce e sobre o que é que que ganham os mais pequenos quando vivem rodeados de aventuras e histórias fantásticas.

A partir de que idade faz sentido começar a estimular nos nossos filhos o interesse pelos livros e pela leitura? Para Ana Sofia Silva, Educadora e Diretora Pedagógica do Colégio Cantinho das Descobertas, no Montijo, os livros devem ser uma constante na vida das crianças desde cedo. “Na primeira infância, onde o ideal são livros simples e resistentes à exploração intensa dos bebés, com imagens apelativas, estes tornam-se parceiros na hora da sopa, de brincadeiras com os pais e até na hora de dormir. São estes primeiros contactos que vão criar os alicerces para o gosto pelos livros e por aquilo que podemos viver através deles”, explica.

Muitos pais e filhos são já adeptos da tradicional leitura da história ao deitar, sendo um dos momentos mais apreciados e esperados do dia, mas há outras oportunidades de promover o contacto direto com os livros, mesmo ainda antes da criança saber efetivamente ler. “Adaptar é necessário… temos de olhar para os nossos filhos e «ler» os seus interesses. Se a criança adora princesas e contos de fadas, vamos dar-lhe livros que respondam a esse interesse; assim a criança vai procurar os livros mesmo fora da sua hora de dormir, vai querer interagir com as personagens, vestir-se como elas, levar os seus livros preferidos para a escola e partilhar a sua experiência literária com os pares. Ler não é apenas saber juntar letras, ler é também interpretar imagens e essa leitura pode acontecer desde muito cedo na vida das crianças, o que não só potencia o interesse pelos livros, como estimula a sua criatividade, a capacidade de organização de ideias e a verbalização (não só na aquisição da capacidade de comunicação, como também, mais tarde, no aumento do vocabulário)”, indica Ana Sofia Silva.

“Uma criança leitora será um adulto leitor”

Para a especialista, os benefícios a curto, médio e longo prazo de um contacto precoce e regular com os livros e suas histórias e enredos, são infinitos. “Em qualquer momento do seu desenvolvimento, a criança irá retirar benefícios extraordinários do seu contacto com os livros. Cedo, ainda na primeira infância, a criança conhece muitas das coisas interessantes do mundo através dos livros – aponta, interage, pode até descobrir sons e texturas e inevitavelmente irá começar a verbalizar e a querer comunicar com os adultos o que observa nos livros. Mais à frente, ao nível do jardim de infância, a criança cresce com os livros também em diferentes esferas: emocionalmente, resolve grandes dúvidas e descobre o caminho para a resiliência através do caminho dos seus heróis (personagens das histórias) – em tantas situações as personagens têm de ultrapassar obstáculos para chegar ao tão esperado final feliz e a criança acompanha a jornada como se essa fosse sua; cognitivamente, as aprendizagens são tremendas, e em cada história podemos aprender matemática, «palavras difíceis», geografia e como funciona o mundo. Esta é até a fórmula do sucesso para nós, educadores: de uma história, na qual a criança se envolve, dar-lhe a oportunidade de crescer nas mais diferentes áreas… assim será decerto mais significativo. E depois vem o depois… uma criança leitora será um adolescente leitor, que se transformará num adulto leitor que irá influenciar as crianças da sua vida para esse mesmo percurso”, refere a diretora pedagógica.

A magia das letras

Perceber a finalidade das letras, o que são e para que servem, é um processo mágico para a maioria das crianças, e pode começar cedo. Ana Sofia Silva acredita que tornar esse processo mais divertido pode estar na base para uma boa relação da criança com a leitura e a escrita no momento em que estas se tornam parte obrigatória do programa escolar, já no primeiro ciclo.

“O interesse pelas letras/palavras surge na criança de forma natural, mais cedo ou mais tarde esta irá querer saber o que são aqueles desenhos (diga-se, com pouca graça), que estão ao lado das imagens coloridas e interessantes dos seus livros preferidos. E quando a criança percebe que aqueles «desenhos com pouca graça» têm o nome de ‘letras’, e que com elas contamos histórias, um novo mundo se abre para elas… Aqui está o começo, a descoberta da função da escrita. Jogar com as letras, ouvir os seus sons, descobrir «coisas» que adoramos e que têm aquela letra especial, envolve a criança e fá-la apreciar a escrita muito antes de esta se tornar uma imposição na sua vida. Como em tudo na aprendizagem, é muito mais fácil se o prazer pelo processo e resultado final estiverem a par”, afirma. “Este caminho que parece simples, conduz a que a criança, na entrada para o primeiro ciclo, se relacione com o mundo da escrita com naturalidade, que o assuma como importante para saber coisas, para registar momentos, para dizer algo que no momento não pode ser dito oralmente… um caminho feito progressivamente e adaptando os desafios à faixa etária cria alicerces para a vida, desafiando a criança a ir mais além.”

Um livro, um amigo

Transmitir a uma criança a importância de valorizar um livro, estimar e cuidar dele, sem riscar, rasgar ou pintar, pode ser algo complicado para os pais. O que podemos dizer ou fazer para ensinar os nossos filhos a estimar os seus livros? Ana Sofia Silva deixa os seus conselhos:

“Não querendo parecer demasiado cliché, tenho de começar por dizer que um livro é um amigo, e como amigo que é temos de o tratar bem, cuidar dele e respeitá-lo na sua função. É importante, desde cedo, explicar à criança que os livros devem ser respeitados e tratados com cuidado, que aqueles objetos, que tão apreciados são, podem ser frágeis e desaparecem se não cuidarmos deles. Esta explicação será decerto válida também para brinquedos, mas no caso dos livros devemos reforçar que aquela aparência colorida e maravilhosa que adoramos folhear perderá a sua graça se lhe faltarem páginas, ou se as suas imagens forem alteradas por uma caneta inoportuna. Os pais não devem, contudo, esquecer que devemos adaptar os livros à idade da criança: aos bebés devemos dar livros cartonados, com páginas grossas, resistentes a uma motricidade fina ainda imatura, mas também à inevitável exploração com boca; seria um erro dar um livro pop-up a uma criança muito pequena, pois a sua própria maturidade motora não lhe irá permitir usufruir dele da melhor forma. Adaptar os livros à faixa etária e atribuir regras adequadas é o caminho para um saudável convívio entre crianças e livros”, conclui a educadora.