A partir de que idade podem os jovens brindar com álcool? Psicóloga explica

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[Fotografia: Pexels/Cottonbro Studio]

Na época das festas de fim de ano, seja no Natal ou no Ano Novo, é comum que as reuniões familiares envolvam álcool em suas celebrações, ainda mais num país com um dos maiores índices de consumo de álcool per capita, como Portugal.

Portanto, frases como “se for apenas provar o licor que o avô fez, não fará mal, ou só um pouco de cerveja”, ou mesmo situações em que se serve álcool aos jovens porque “não se brinda com água” são exemplos citados pela psicóloga Ana Nunes Silva.

A especialista, representante no Fórum Nacional de Álcool e Saúde da Ordem dos Psicólogos portugueses, adianta ainda que, num país como Portugal, que é produtor de bebidas alcoólicas como o vinho, tal torna-se uma “zona cinzenta”, ou seja, sem exemplos ou literacia clara o suficiente para os cidadãos saberem como se devem comportar perante esse tipo de situação. E compara: “Talvez não nos passaria pela cabeça dizer: ‘Bom, se calhar vou dar uma risca de coca com os meus filhos no contexto festivo ou fumar um cigarro de haxixe, uma ganza. Nós não colocamos estas questões, mas colocamos em relação ao álcool. Porquê?”

É entre os 15 e 17 anos que pode começar esta certa “permissividade”, afirma a psicóloga. Tal ocorre mais em alturas festivas, pois, em celebrações familiares, os jovens estão sujeitos a maior controlo por estarem junto dos pais. O que pode acontecer, dependendo da família, é o pensamento de “vou ajudá-lo e ensiná-lo a consumir, porque sei que ele vai beber com amigos, talvez seja melhor que as primeiras experiências sejam comigo”, o que pode ser perigoso. Ana Nunes Silva lembra que o jovem “pode apresentar riscos biológicos de desenvolver dependência”. Além de ser menor de idade, período em que determinados aspetos físicos ainda não estão totalmente desenvolvidos, como o cérebro ou o fígado, apontando para os 21 anos como fase de conclusão desse processo.

O conhecimento e literacia sobre o consumo de álcool por parte dos pais são o divisor de águas nesta questão. As “famílias são todas muito diferentes nestas abordagens e há muito pouca literacia nesta questão dos consumos de álcool”, sublinha a especialista.

“Uma pessoa que beba habitualmente, talvez nas festas não valorize muito o facto de um jovem de 16, 17 ou 18 anos beber um copo de vinho ou um pouco de champanhe”, e “os que já tiveram experiências no consumo de álcool podem ser mais rigorosos.”

Por isso, a psicóloga considera que o mais importante passa pelos progenitores saberem que “não há consumo sem risco”, e que, nesta relação entre pais e jovens, deve-se priorizar a “comunicação, a abertura e a partilha”, pois quanto melhor for a relação nesses aspetos, melhor será a gestão desses assuntos. Ana Nunes Silva apela ainda à seriedade sobre a matéria: “Sabemos que existem consequências físicas como uma série de cancros devido ao consumo de álcool, até mesmo relativamente ao cancro da mama, portanto, isso é muito assustador.” Por isso, a recomendação da profissional é que podemos – e devemos – celebrar e divertir-nos “sem ou com o mínimo de álcool possível”, a fim de criar uma cultura de comemorações mais saudável, sabendo sempre que “todo consumo traz um risco.” E

Eric Vianna