As quatro vezes que a Ministra chorou

Constança Urbano de Sousa acaba de sair do Governo. O pedido de demissão foi aceite pelo Primeiro-Ministro, que ficou sem espaço de manobra depois do discurso do Presidente da República. Na carta, enviada à agência Lusa e que reproduzimos aqui, fica clara a intenção da Ministra da Administração Interna se demitir há mais tempo – logo após os incêndios de Pedrógão. O próprio envio da carta à agência nacional de notícias, tornando-a pública e, por isso, irrecusável, faz supor que Constança Urbano de Sousa deixou de confiar em Costa para discutir a sua posição no Governo.

Constança Urbano de Sousa é talvez o membro do governo mais odiado neste momento. Depois de ter sido acusada várias vezes de fraqueza por chorar em público, como fez na Comissão de Inquérito, a sua mais recente declaração aos meios de comunicação social sobre as férias que não teve fez com que a opinião pública se levantasse em peso contra ela. Mas não foi sempre assim: a primeira vez que Constança chorou em público foi na homenagem póstuma ao agente da PSP, Paulo Alves, morto em serviço aos 23 anos de idade. As emoções renderam-lhe, durante algum tempo, o respeito o povo.

Uma mulher não chora, mas um homem pode

A comoção de Constança Urbano de Sousa tornou-se mais visível no funeral do GNR morto num tiroteio na Amadora, em outubro de 2016. Abraçada à mãe do agente assassinado deixou cair as lágrimas. Diria mais tarde, numa entrevista à RTP, que se pôs no lugar daquela mãe, que sentia profundamente a dor de uma mulher perder um filho. Nesse outubro de 2016, ninguém veio a terreiro por em causa as qualidades da ministra. O tom da imprensa sobre esse episódio é elogioso. Mas foi sol de pouca dura.

A ex-Ministra da Administração Interna não é a única alta patente do Estado a chorar, mas é a única a ser constantemente acusada de fraqueza e de não ter condições pessoais para se manter no cargo. O atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tem aparecido visivelmente emocionado mas não há uma presunção de incapacidade de exercer o cargo por esse facto. Também Jorge Sampaio, Presidente da República entre 1996 e 2006, chorou várias vezes em público, por exemplo, nas cerimónias de entrega de Macau à jurisdição chinesa em 1999. Manteve-se mais cinco anos no cargo.