Chanel: o regresso da sobreposição de saias e dos looks em ganga total

Karl Lagerfeld rumou até Nova Iorque, à semelhança da Versace, para apresentar a sua coleção Metier d’Arts, que é exibida entre estações e tem como principal recurso o trabalho artesanal dos ateliers tradicionais que trabalham para a Chanel.

Os sapatos são feitos à mão, alguns tweeds criados em teares manuais, os bordados dispensam máquinas e os chapéus são únicos, detalhes que tornam esta coleção verdadeiramente especial. O desfile aconteceu no Met Museum, a 4 de dezembro, e teve como cenário o antigo Egipto, onde não faltaram as esfinges e os hieróglifos. Um ambiente que fez cada modelo parecer uma moderna reencarnação da Cleópatra, mantendo o eyeliner que ficou eternizado por Elizabeth Taylor no papel de rainha do Egipto em 1963- mas dando-lhes uma roupagem digna de uma cidade tão vibrante e urbana como Nova Iorque. Nem Pharrell Williams, que aos 45 anos desfilou para a marca, escapou a esta maquilhagem marcante.

 

O primeiro coordenado a entrar no cenário não deixa dúvidas de que estamos perante um desfile da Chanel – o tweed dourado, a saia cruzada, e o casaco com bolsos de chapa e debrum, gritam Coco Chanel. Mas nesse mesmo coordenado encontramos um toque das margens do rio Nilo, dado pelo longo vestido branco com nervuras que fazem lembrar um papiro. A sobreposição do clássico conjunto Chanel por cima da simplicidade de um vestido longo foi a pauta para toda a coleção, e o reflexo da interpretação que Karl Lagerfeld fez das referências para esta coleção.

As saias sobrepostas foram um dos elementos mais interessantes do desfile, um detalhe de styling que esteve presente numa grande parte das propostas, e que nos convida a conjugar as peças que temos no armários de outra forma. A moda não é nova, mas se antes tinha uma interpretação boémia, com um toque étnico e algo de freak, neste desfile revelou classe, requinte e elegância. Outra tendência que Karl arrancou da casa dos horrores da moda (lugar imaginário que teve os seus maiores contributos entre 1990-2010) foi o look total de ganga. A modelo escolhida para desfilar esta proposta, que tinha tudo para dar errado mas não deu, foi Kaia Gerber e o resultado não podia estar mais distante da imagem Britney Spears e Justin Timberlake nos American Music Awards em 2001. A filha de Cindy Crawford surgiu com uma calças direitas e casaco com gola de carneira, ambos com aplicações em ganga. Por baixo do casaco estava um top branco com um estampado que reinterpreta elementos típicos da Chanel com recurso a técnicas da arte urbana.

Kaia Gerber desfila coordenado de ganga no desfile da Chanel, 4 de dezembro, Nova Iorque. Reuters

As propostas mais interessantes da coleção foram precisamente as que incorporaram diferentes versões do modelo de calças usadas por Kaia, com acabamentos metalizados e conjugados com malhas coloridas. Dos detalhes destacam-se as bainhas assimétricas com acabamento arredondado, fazendo lembrar as abas de grilo masculinas, os bolsos que fazem um efeito de saco, os decotes com painéis redondos que lembram os colares egípcios e os detalhes de pedraria.

O elemento verdadeiramente surpreende da coleção surgiu de onde menos se espera, como é conveniente a quem quer causar perplexidade ao mundo. Karl Lagerfeld, que neste desfile fez do dourado o novo preto, apresentou uma grande parte das suas modelos com collants opacas que pareciam feitas de ouro, numa simbiose perfeita com as botas de cano alto da mesma cor. Veja a coleção na galeria acima.

 

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