Cinco equívocos da história do sexo que puseram as mulheres em perigo

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[Fotografia: Pexels/Pixabay]

A obrigação de devoção aos maridos, a perda de virgindade e os parceiros. Eis três postulados que se firmaram na História e, com ela, perduraram durante séculos e que se mantêm ainda, colocando a vida das mulheres em risco.

A dias de um workshop que visa trazer à luz uma Breve História do Sexo, a partir do Museu Pedagógico do Sexo – Musex, a socióloga Isabel Freire relata ao Delas.pt cinco ‘erros’ que tornaram ainda mais vulnerável o sexo feminino. “Em vez de “erros históricos”, prefiro falar de preconceitos, equívocos, inverdades, criadas, justificadas e promovidas pela Política, pelas Ciências, pela Religião, pela Cultura, repetidas (nalguns casos até hoje) em contextos educativos, informais e formais, nomeadamente nas famílias e nas escolas”, esclarece desde logo a especialista.

Um olhar que enuncia as preconceções, os contextualiza e indica os malefícios e que apenas indicam uma pequena parte da História do Sexo que irá ser apresentada numa sessão de esclarecimento gratuita – mas sujeita a inscrição prévia aqui – e que vai ter lugar a 21 de janeiro, a partir das 17.00 horas, no Palácio Anjos, em Algés. “A iniciativa, recomendada para maiores de 15 anos, tem como principal objetivo estimular à reflexão sobre identidades e sobre as expressões dos afetos e sexualidades, no presente”, refere nota enviada pelo Musex às redações.

De volta à análise de Isabel Freire, conheça os cinco maiores equívocos invocados pela socióloga e que prejudicaram – e ainda prejudicam – as mulheres.

Isabel Freire historiadora sexo

Isabel Freire [Fotografia: DR]1. “As mulheres são…” De facto, as mulheres são mutíssimo diversas

2. “A homossexualidade é uma inversão (uma doença) ou uma perversão (um crime)”. A homossexualidade foi retirada há poucas décadas dos manuais de psiquiatria e dos códigos penais de certos países do mundo (nomeadamente Portugal), terminando uma perseguição histórica que tornou as vidas de certas pessoas uma agonia profunda, mas infelizmente persistem movimentos, grupos e pessoas inequivocamente convencidas de que há algo de anormal e aberrante na atração afetiva e/ou sexual por pessoas do mesmo género/sexo.

3. A perda da virgindade feminina antes do casamento constitui um motivo para anulação do contrato matrimonial. Esta deliberação do Código Civil de 1966 representou para muitas mulheres uma assombração moral com consequências na forma como viveram as relações afetivas e sexuais ao longo das suas biografias.

4. As mulheres que têm relações afetivas e/ou sexuais com múltiplas pessoas despeitam-se, devassam-se, tornam-se indignas, transformam-se em galdérias. Surpreendentemente, continua a dizer-se nalguns contextos juvenis que “uma chave que abre todas as portas é uma chave mestra, mas uma porta que é aberta por todas as chaves não presta“.

5. “As mulheres não se devem negar ao desejo sexual dos maridos”, cumprindo um dever conjugal. Este exemplo de uma cultura de sujeição ao desejo sexual masculino, independente da vontade própria da mulher, fez-nos chegar aqui e agora, e perceber que a noção de consentimento continua difusa, que muitas pessoas não se sentem ainda capazes de ser assertivas, de dizer “não” ao desejo sexual de outrem, seja numa relação de compromisso afetiva e sexual, ou em outras relações distintas, nomeadamente de poder.

Autora de múltiplos livros, Isabel Freire é doutorada em Sociologia e desenvolve trabalhos na área da História da Sexualidade e da História das Mulheres em Portugal.

É formadora acreditada pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua (CCPFC) para a Educação para a Cidadania (Educação para a Igualdade do Género) e Práticas de Educação para a Saúde (Educação para a Sexualidade).

Entre as obras publicadas estão Sexualidades, Media e Revolução dos Cravos, da Imprensa de Ciências Sociais da do ICS-ULisboa, 2020, Amor e Sexo no Tempo de Salazar, em 2010, e Fantasias Eróticas – Segredos das Mulheres Portuguesas, em 2007.