Como explicar às crianças, por idades, que a mãe tem cancro. Psicóloga revela caminhos

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[Fotografia: Pexels/Karolina Gabrowska]

Depois do choque inicial, a confrontação e a necessidade de começar a tomar medidas. Quando se recebe uma notícia de que se está com uma doença oncológica, como sossegar os mais pequenos quando o espírito está tão volátil?

Kate Middleton, diagnosticada com cancro numa condição que confirmou nesta sexta-feira, 22 de março, através de vídeo nas redes sociais oficiais, levanta esta mesma importância: “Como pode imaginar, levou tempo. Levei algum tempo para me recuperar de uma grande cirurgia para iniciar meu tratamento. Mas, o mais importante, levámos tempo para explicar tudo ao George, Charlotte e Louis [filhos] de uma forma que seja apropriada para eles, e para os tranquilizar de que vou ficar bem”, revelou no seu testemunho.

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[Fotografia: captura de ecrã/Instagram]

Por isso, nada como recuperar algumas pistas deixadas por uma psicóloga à Delas.pt e exatamente sobre esta matéria. Em tempo de evocação de uma efeméride em torno do cancro, a psicóloga Inês Afonso Marques vincou que “existe uma forma padrão para cada faixa etária”, mas vale a pena recuperar as informações.

Sugestões por faixas etárias

É a ideia, de tranquilidade perante os factos que a psicóloga clínica defende: “Quanto mais calmo estiver o adulto doente, mais calma ficará a criança. A partir dos 2/3 anos a criança começa a compreender o conceito de doença, sendo mais fácil usar o termo para explicar o que se está a passar, sendo que o fundamental é prepará-la para quaisquer mudanças temporárias (como ausências da mãe) que tenham que ocorrer. É isso que ela precisa para que fique tranquila. Para ela, que também já esteve doente, a mãe “tem o dói-dói que o médico e os remédios vão tratar”.

Nas crianças em idade escolar, os livros podem ser um aliado no momento de explicar à criança o que se está a passar. Os adolescentes terão um entendimento mais próximo de um adulto.

O mais importante é que haja sempre espaço para diálogo e que este seja sincero, simples e acompanhado de afeto. Assumindo-se um contexto protetor e securitário, em que a doença consegue ser controlada, não é obrigatório que essa fase na vida das famílias deixe uma “marca negativa”, com impacto significativo no desenvolvimento das crianças, acredita Inês Afonso Marques.

Uma vez salvaguardada esta premissa, prossegue a psicóloga clínica e então coordenadora da Equipa Infanto-Juvenil da Oficina de Psicologia, “o essencial é analisar a maturidade que a criança tem, para que se possa ajustar o vocabulário de modo a que a informação seja percetível e para passar a informação em “quantidade q.b.”, ou seja, nem pouca informação que deixe a criança desconfiada e cheia de questões, nem demasiada informação que deixe a criança sem saber processá-la,” responde.

A especialista acrescenta que, “sendo à partida uma situação de saúde que, pelas suas características, dificilmente passa despercebida, nem que seja pelas alterações de rotinas, é importante que não se tente esconder a mesma na sua totalidade da criança.”

Mas como saber quanta informação é a suficiente? Nem pouca, nem demasiada? “Uma forma de perceber qual a informação que a criança “precisa” para se sentir mais tranquila é precisamente perguntar-lhe “o que gostarias de saber?” e, partindo daí, adequar o discurso e a informação”, considera Inês Afonso Marques.

 

Falar dos efeitos do tratamento sem assustar

“É importante explicar que o tratamento que a mãe está a fazer, ou os remédios que está a tomar para que se sinta melhor/matar os bichinhos que alimentam a doença, provocam algumas sensações desagradáveis/chatas, como o cabelo cair, a indisposição ou o cansaço. Explicar que nesses momentos poderá não conseguir brincar ou dar atenção, mas que depois de descansar um pouco, por exemplo, pensando no filho para ter mais força, se vai sentir com mais energia para brincarem ou conversarem um pouco”, aconselha a especialista.