Congelar ovócitos para ser mãe mais tarde? Sim, mas com um alerta

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[Fotografia: Daniel Reche/Pexels]

O adiamento da maternidade é uma realidade cada vez mais comum para as mulheres e em contexto de jovens casais. A estabilização tardia no mercado de trabalho, o recuo na idade de sair de casa dos pais, a ainda latente escolha entre vida familiar e carreira e tantos outros fatores estão a empurrar cada vez mais mulheres para a possibilidade de, em tempo, preservar a fertilidade por via do congelamento de ovócitos, ganhando tempo para uma eventual maternidade mais tardia.

E se esta ferramenta tem sido um recurso para jovens mulheres que se defrontam com doenças que as obrigam a protelar esse desejo, ela está ao dispor de todas. Há, contudo, alertas que devem ficar claros, e quem os faz é o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR), Pedro Xavier, ao Delas.pt e a propósito do dia Mundial da Fertilidade, que se assinala este sábado, 4 de junho.

Pedro Xavier, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução [Fotografia: Sara Matos / Global Imagens]
Pedro Xavier, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução [Fotografia: Sara Matos / Global Imagens]
A congelação para preservação da maternidade pelas ditas causas sociais é uma questão um pouco difícil de gerir”, assume o médico. “De facto, o que as mulheres precisam de compreender é que o relógio biológico tem um tempo certo para a fertilidade, e que [a solução] pode ajudar nalguns casos, mas eficácia não é tão alta”, ressalva o presidente da SPMR. Pedro Xavier adianta: “Se for depois dos 35 anos, os resultados são bastante sofríveis” e por razões biológicas.

 

O médico teme que esta opção arrisque a fazer demorar ainda mais o projeto de ter um filho. “É, um pouco, uma fuga para a frente e que se arrisca a ser inconsequente porque, pensando que está ali [no congelamento de ovócitos] um seguro para gravidez, a mulher pode vir a adiar ainda mais, e a taxa de sucesso pode não ser depois tão alta”, alerta.

Em setembro último, foi lançada em Portugal uma plataforma que procura olhar e dar respostas a esta procura crescente por parte de jovens mulheres. Quando Estiveres Pronta disponibiliza as informações sobre as opções de preservação de fertilidade. Escolhas que têm de ser feitas “em tempo útil, caso optem por ter filhos mais tarde ou considerem que não é o momento certo para se tornarem mães”, lê-se no comunicado.

A idade média das mulheres à data do nascimento do primeiro filho tem vindo a aumentar. Em 2021, segundo dados da Pordata, as portuguesas foram mães aos 30,9 anos, subindo duas décimas face a 2020.

Comparando com 2001, no início do século, o primeiro bebé chegava à família aos 26,8 anos da mulher. Ou seja, em duas décadas a idade média das mulheres que se estreiam na maternidade subiu mais de quatro anos.