Corian: da NASA para a cozinha e para a banheira

Os tampos da minha cozinha custaram quase tanto quanto o resto. O resto todo, mesmo, incluindo armários, iluminação e restante parafernália. Mas quando mudar de casa vão comigo e deixo no lugar deles outra coisa qualquer que cumpra a mesma função. Porquê? Porque são de corian e são para sempre como se comprados ontem.

A primeira coisa, a melhor, é que nunca fica nada entalado na costura entre o lava-loiças e o tampo. Sabe porquê? Porque não está lá nenhuma. O corian é uma matéria mágica, uma espécie de alquimia contemporânea, um polímero acrílico sem qualquer tipo de poro ou relevo ao tato, resistente ao calor até 100º e, maravilha das maravilhas, onde nenhuma mancha agarrará. Nenhuma, nem beterraba. Mesmo cortes são corrigíveis apenas com a passagem de um esfregão tipo Scotch-Brite: é um polímero, as suas partículas reagrupam-se e retificam as arranhadelas. Esta é a mesma característica que faz com que aparentemente o corian seja uma superfície contínua; claro que as juntas estão lá, mas ninguém as vê devido a este reagrupamento das partículas que o compõem.


Leia também:

Os números que deram cor à NASA

Vista-se como se fosse trabalhar para a NASA


É uma das joias, das muitas joias da DuPont, produtora de materiais tecnológicos de ponta. Em Portugal começou a ser visto em filmes e séries de tv antes de nos chegar às cozinhas e às casas de banho, como idealizado em 1960/70 quando começou a ser produzido. Era comum vê-los nas mesas das autópsias do CSI, ou nas de cirurgia do Nip Cut.

Como um material tipicamente space age, permite todas as formas possíveis em monobloco, sem junta alguma visível. Cedo os arquitetos e designers lançaram-lhe a mão, como a desaparecida Zaha Hadid que todos os anos trazia projetos arquitetónicos, novas peças de mobiliário e adereços, possíveis apenas com aquele polímero mágico.

Devido ao facto de poder ter uma aparência contínua e ser facilmente moldado sob calor, tem sido usado na arquitetura para obter efeitos únicos. Zaha, numa das suas últimas obras de maior relevo, a Ópera de Guangzhou, China, acabada em 2010, usou-o como revestimento da sala principal, moldando-o em ondas e perfurando-o para obter o efeito de um céu estrelado.

Mais ou menos a partir do ano 2000, pela mão da cada vez mais crescente vaga de designers de interiores, o corian começou a chegar às casas de toda a gente. Ajudou o catálogo ter mais de 100 cores disponíveis e o facto do material ter constantemente novas e melhoradas características: tornar-se mais forte, resistir mais ao risco (hoje quase que completamente), ter a possibilidade de ser decorado com padrão e a partir de 2007 existir na versão semi-translúcida, permitindo paredes, tampos, tetos ou móveis retroiluminados. Em 2010 a DuPont inventou a Corian Mettalics Series, aglomerando ao produto em massa partículas douradas ou prateadas, de modo a que a superfície ganhe profundidade e movimento.

O grande senão é mesmo o preço; para além das placas em si, frontões e saias são também contabilizados. A cor entra também em conta: a branca, porque mais comum, é mais barata; algumas, mais específicas, podem ter um acréscimo de 50%. Entram no rol de gastos também colas catalisadoras, junções, eventuais estruturas internas e a moldagem a quente das cubas, especialmente demorada e cara. E claro, mão-de-obra especializada.

Por tudo isto é difícil dizer-lhe quanto custa, depende do espaço, do layout e dos acabamentos. Mas podemos avisá-la para contar com cerca de €550 por cada metro quadrado, no mínimo.

É caro, é verdade, mas nunca mais terá que se preocupar com tampos de cozinha, lava-louças, lavatórios, banheiras ou bases de duche. O mais certo é incluí-los no seu testamento, e os seus filhos farão o mesmo com os deles.