A semana de alta-costura começou no passado domingo, dia 2 de julho, com o desfile do designer holandês Roland Van der Kump, mas foi no segundo e terceiro dia desta semana de moda que os gigantes desfilaram. A Dior apresentou ontem, dia 3 de julho pelas 16h e hoje, dia 4 de julho, o dia começou com dois desfiles da Chanel um às 10h e outro às 12h.
Coco Chanel e Christian Dior viveram lado a lado, tendo no pós-Guerra sido verdadeiros rivais. A moda depurada e prática de Gabrielle Chanel, que conquistou as mulheres no tempo de guerra, foi destronada pelo new look, que utilizava metros e metros de tecido em saias rodadas, cinturas estreitas e ombros destapados, depois da segunda guerra mundial. Uma rivalidade que levou a Chanel a lançar o seu primeiro perfume, o Nº5, e de que nenhuma das casas saiu vencedora, coexistindo ambas lado a lado até hoje e com os seus estilos ainda tão marcados.
São dois dos desfiles mais esperados da semana de alta-costura e para o inverno 2017-2018 as duas casa francesas mantiveram-se fieis aos seus arquivos, lembrando-nos da sua estética tão distante que em tempos dividiu as mulheres parisienses.
A Dior partiu em expedição
Há algum tempo que a Dior não apresentava um desfile tão invernoso como este – não há dúvida de que as propostas apresentadas são para a estação fria. Os casacos e as mangas compridas surgem em fazendas masculinas que surpreendem ao desdobrarem-se em saias com uma enorme roda, calças que se alargam através de pregas, casacos que se cruzam e cintam em cinturas estreitas embrulhadas por finos cintos de pele. Não faltam os bolsos grandes, quadrados e inesperados numa verdadeira ode aos sobretudos masculinos que não nos deixam arrefecer por muito negativa que seja a temperatura. A juntar-se a eles estão os chapéus com faixa que podiam ter sido roubados a Al Capone, não tivesse o gangster morrido em 1947. Um cenário sombrio feito de cinzentos e que podia servir de guarda roupa a qualquer filme sobre o crime organizado em Nova Iorque nas primeiras décadas do século XX.
Mas esta magia que tornou o masculino mais sombrio em pura elegância feminina apenas marcou os vinte e um primeiros coordenados do desfile. Ao vigésimo segundo fez-se luz com um vestido de tule com tiras de tecido cozidas em ziguezague, numa escala de cinzas que se tornou branco na bainha. A luz passava pelo meio das transparências e veio a crescer nos coordenados seguintes até que surgiu a vigésima sétima modelo numa explosão de cor. Uma saia e casaco vermelho vibrante abriu as hostilidades da paleta cromática que atingiu a apoteose logo no coordenado seguinte com uma casaco com quadrados de veludo de diversas cores. Uma tempestade de cor que abrando logo de seguida voltando o desfile à paleta de cinzas que acabou por se desdobrar numa escala de beges com alguns apontamentos de amarelo e verde.
A leveza, as transparências e os folhos pautaram os vestidos compridos que esvoaçaram a passo largo na passerelle circular em frente ao Hotel Invalides em Paris. O caminho traçado pelas modelos foi feito entre plantas, animais de madeira, duas árvores e por baixo de um circulo com uma estrela pintada. O cenário remete-nos para o universo que inspirou Maria Gracia Chiuri: as viagens pelo mundo e a ideia de que uma coleção deve servir uma mulher em qualquer parte do mundo.
Paris segundo Karl Lagerfeld
Os desfiles da Chanel ficaram conhecidos nos últimos anos pelos cenários megalómanos e este desfile não defraudou as expectativas. Karl Lagerfeld levou para dentro do Grand Palais nada mais nada menos que a Torre Eiffel, pelo menos a parte que coube. O símbolo da cidade parisiense surge numa coleção repleta tweeds, um símbolo da casa de moda parisiense.
Antes do desfile houve tempo para um momento solene com a presença de Anne Hidalgo, Presidente da Câmara de Paris que condecorou o designer alemão. Este detalhe vem dar força aos rumores de que esta poderá ser a última coleção de Lagerfeld.
À semelhança do que aconteceu no desfile na Dior também o inverno da Chanel está preparado para temperaturas extremas. Os primeiros casacos estendem-se até ao tornozelo e marcam a cintura com uma fileira dupla de botões. A sobriedade dos tweeds contrastas com o verniz das botas e combina com os chapéus direitos em muito parecidos aos usados na coleção de outono-inverno de 2016. As silhuetas são marcadas pelas duplas mangas, pelas mangas em forma de presunto, pelos volumes diferentes sobrepostos, pelos decotes redondos e pelas golas levantadas, tudo isto com referencias claras aos anos 60 apesar de ganhar de embrulhados na atitude dos anos 80.
A repetição de tweeds em cores diferentes foi quebrada ao trigésimo coordenado com uma saia e top de mossouline que deram alguma leveza à coleção que não sua maioria é corpulenta e pesada. A variedade de tecidos continua com lantejoulas, estampados, sedas e cetins. Surgem ainda penas coloridas que formam flores pela disposição que lhes foi dada, sendo este o aspeto mais interessante do desfile no que diz respeito à confeção.
A fechar o desfile o famoso vestido de noiva, desta vez branco e largo com laço à frente e penas brancas na bainha e nas mangas, nos sapatos encontrámos uma réstia de rebeldia com as botas de verniz negro a contrastar com a inocência do vestido.