Dolores Silva: “Temos de confiar em nós e entrar em todos os jogos para ganhar”

Entrevista a Dolores Silva
Capitã da Seleção feminina de futebol, que se esttreia no Mundial da Austrália e Nova Zelândia, que arranca esta quinta-feira, 20 de Julho [Fotografia: Álvaro Isidoro / Global Imagens]

Não esconde que já se imaginou a ouvir o hino de Portugal antes do apito inicial, mas Dolores Silva prefere olhar para outros momentos. “É algo que passa pela cabeça, mas, acima de tudo, estou focada em trabalhar diariamente, para que eu possa ser uma opção, e ter essa oportunidade de ser a escolhida para jogar. Claro que sonho com esse momento, como qualquer outra, é sempre especial, ainda mais no campeonato do mundo”, afirma a capitã da seleção nacional em vésperas de partir para a Nova Zelândia.

A atleta espera que as jogadoras mais novas olhem para esta qualificação das “navegadoras” como “um ponto chave para a evolução do nosso futebol”. Afinal, poderá bem ser um “clique para que as pessoas estejam mais atentas, para que haja mais aposta, para que acreditem que temos qualidade e talento, no nosso país. Este momento é muito importante”.

E a tarefa não vai ser simples porque Portugal está inserido no Grupo E, que inclui a equipa campeã e vice-campeã mundial. “Temos de encarar a competição jogo a jogo, independentemente de o grupo ser muito forte, com duas grandes equipas, e o Vietname, que está a trabalhar muito bem. Temos de seguir a estratégia delineada pelo professor [Francisco Neto], e tentar dar tudo por tudo, e no final fazer as contas. Se tudo correr bem, porque não pensar numa passagem? Mas temos de ter os pés assentes na terra, e trabalhar muito. Temos de estar confiantes, mas cientes de que vamos ter jogos muito difíceis, mas temos de confiar em nós, e entrar em todos os jogos para ganhar”, considera Dolores Silva em entrevista ao JN.

“Começam a olhar para nós de uma maneira diferente, com mais respeito”

Na seleção desde 2009 e como internacional jovem desde 27 de setembro de 2007, Dolores Silva crê que muito mudou no futebol nacional para as equipas femininas. “Acima de tudo, a aposta começou a ser cada vez maior”, analisa Dolores Silva. E prossegue: “Houve um grande trabalho por parte da Federação [Portuguesa de Futebol], das associações e dos clubes para tornar as jogadoras, profissionais. Acho que é muito importante tentar profissionalizar a Liga [BPI]. Têm sido dadas condições às jogadoras para evoluírem, passo a passo, e para trabalharem ao mais alto nível, isso tem melhorado bastante, e tem de continuar a melhorar. As coisas estão a ser feitas, passo a passo, e a mentalidade das pessoas também está a mudar, começam a olhar para nós de uma maneira diferente, com mais respeito. A aposta das marcas em querer valorizar o nosso trabalho, acho que é muito importante que isso continue a acontecer.”

Atualmente, refere a capitã da seleção nacional, ”já há muito mais capacidade, muito mais oportunidades, [as atletas mais novas] têm muito melhores condições. Acho que isso é muito bom, é fruto do que as gerações passadas, não só a minha, mas também as anteriores, fizeram, daquilo que lutaram e batalharam, e felizmente conseguiram abrir novas portas. Espero que continuem a aproveitar bem as oportunidades que têm, e as condições de trabalho, que são mesmo muito boas. Têm tudo para continuar a trabalhar ao mais alto nível, para continuarem a crescer”.

Nuno Vieira Rodrigues