Enquanto escrevo estas linhas

Hoje escrevo sobre violência. E o título não é por acaso.

Estou neste momento a interpretar um papel num projeto televisivo de uma mulher inteligente, independente e bem-sucedida que é vítima de violência doméstica no seu casamento. Passaram recentemente algumas cenas de violência e foi absolutamente tocante para mim o impacto que tiveram no público – impacto que sinto pelas inúmeras reações que recebo todos os dias. De pessoas a agradecer pela abordagem do tema, pessoas que já passaram por isso e se identificam, pessoas que conhecem histórias, pessoas que se deixaram tocar. Pessoas que sentem necessidade de falar sobre o assunto. E basta olhar para os números para perceber como é importante abordá-lo, sem tabus, no nosso país.

Só até setembro deste ano, de acordo com a UMAR – União das Mulheres Alternativa e Resposta – já tinham sido assassinadas 21 mulheres em contexto de violência doméstica em Portugal, número superior ao total das vítimas do ano passado. E mais, de acordo com estudos da mesma instituição, mais de 50% dos jovens portugueses já passaram por um episódio de violência no namoro. Faço questão de referir os números porque são assustadores e reveladores da dimensão do problema.

Enquanto me preparava para este papel, documentei-me e contei com a generosidade de algumas pessoas que partilharam comigo, confidencialmente, as suas experiências. Uma das questões que mais me tocou foi a da vergonha que quase toda a gente sentia de falar sobre o assunto. Vergonha de denunciar o abuso para não ficar no papel da vítima. Medo de viver com esse rótulo e dele se sobrepor a tudo o resto. E medo também das consequências de uma denúncia, uma vez que se verifica que as agressões aumentam muitas vezes depois de apresentada queixa.

É um assunto delicadíssimo e não é no espaço desta coluna que o poderei desenvolver adequadamente mas faço questão de falar nele como um alerta : enquanto escrevo estas linhas, há várias mulheres a sofrer de violência doméstica de algum género em Portugal e a calá-la por medo, por vergonha ou por desconhecimento dos seus direitos ou até de a quem se devem dirigir.

Ao nosso lado, no nosso grupo de amigos, no nosso núcleo profissional, estas situações acontecem todos os dias. Quase sempre abafadas pelas vítimas, que, para além de verem a sua auto-estima abalada por força das circunstâncias, se deparam com uma sociedade que não está preparada para as acolher, defender e apoiar devidamente. Uma sociedade que olha de lado para as vítimas, em vez de as abraçar. Uma sociedade que tem medo de assumir as suas fragilidades e de falar sobre as suas fraquezas. Porque não é bonito, não fica bem nas fotos nem traz likes nas redes sociais.

Mas esta é a sociedade em que os nossos filhos vão crescer e tornar-se adultos e é responsabilidade de todos nós educá-los.

Segunda-Feira, dia 19 de novembro, às 15h na Fundação Calouste Gulbenkian, a Corações com Coroa ( associação com a qual colaboro como voluntária ) vai dedicar a sua conferência anual ao tema ‘ Adolescência : com riscos se traça o futuro ‘. A entrada é livre mediante inscrição ( para o e-mail : [email protected] ) e estão todos convidados. Entre outras questões, será abordada a violência no namoro, procurando estratégias para lidar com este problema.

Acredito profundamente que só através da educação se pode mudar mentalidades. Acredito profundamente que, só falando abertamente sobre os problemas, se consegue combatê-los de forma eficaz.

Deixemos de olhar para o mundo como se estivéssemos a salvo. Ninguém está a salvo. Por fim à violência é uma tarefa de todos nós.

Teresa é atriz