Iara Rodrigues: “30 a 40% das pacientes bebeu mais durante a pandemia”

Iara Rodrigues

Devagar, devagarinho, mas a mudar cada vez mais os hábitos. Durante a primeira fase de confinamento, as mulheres mudaram de hábitos e a nutricionista Iara Rodrigues, que habitualmente trabalha com Cristina Ferreira, sentiu isso no seu consultório. Uma permanência em casa que, se regressada, a volta a fazer temer.

Nunca pensei, mas notei que 30 a 40% das pacientes bebeu muito mais do que aquilo que seria e faziam antes”, revela a especialista. Ao Delas.pt, conta que estas novas adições chegaram-lhe através de relatos de “muitas utentes que começaram a complicar porque os maridos não estavam a conseguir gerir a quantidade de álcool, e o que passava a ser ao fim de semana passou a ser diário, aquele copo, aquele digestivo passou a estar ali, todos os dias, cheio”.

Mas as mulheres, sobretudo da faixa dos 30 e 40 anos, também não se ficaram atrás. Entre o vinho sempre à mão e as brincadeiras com cocktails novos, estes foram os dois principais comportamentos que as levaram a ter mais álcool no sangue, mais vezes. “O consumo nas mulheres passou a ficar muito mais descontrolado, mas muito mais”, desabafa.

“Foi uma forma de gerir os problemas em casa, o trabalho, as contas”, enumera Iara Rodrigues, que aponta o vinho como um dos maiores companheiros: “Era mais consumido porque não só é mais discreto, é mais social como também mais aceitável. E aquele copo de fim de dia passou a ser meia garrafa ou mais”, explica. Também reparei que houve mais gente a beber porque fazia cocktails, o que começava com uma conotação de brincadeira e foi evoluindo”, recorda.

A nutricionista diz mesmo que “nunca reencaminhou tanta gente para as consultas de psicologia, coaching, ajudas como este ano. Era preciso que as pessoas que falassem e perdessem o medo de assumir que estavam a ter um vício, que estavam deprimidas”.

O horror dos filhos na cozinha

A pandemia não provocou apenas efeitos nos adultos. Crianças e adolescentes passaram a ter novas adições alimentares, fruto dos tempos peculiares que todos foram obrigados a viver devido ao isolamento social requisitado pela necessidade de evitar contágios por covid-19. “Tinha os pais desesperados porque os filhos estavam sempre na cozinha, inclusivamente a comer às escondidas”, revela a nutriconista.

Entre as novas atitudes que emergiram da primeira fase de recolhimento, entre março e junho, Iara Rodrigues notou, nas suas pacientes, atitudes diferentes e absolutamente contrastantes.

“Tive mais gente a procurar-me e senti dois extremos: por um lado, recebi casos de pessoas, sobre as quais nunca imaginei, que se esqueceram completamente delas, com pânico e medo e a não priorizarem o corpo, saúde e alimentação, pessoas que comeram e beberam até à exaustão porque achavam que iam morrer; e, por outro, vários casos em que as pessoas arranjaram tempo e gosto para cozinhar, fazer exercício online, mesmo fazendo mais bolos e doces, com maior capacidade de gestão do trabalho”, explica a especialista.