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Das redes cerebrais aos oceanos: Trabalhos de quatro cientistas portuguesas premiados

Patrícia Costa Reis tem 36 anos e é médica e investigadora. Trabalha no Instituto de Medicina Molecula e no Hospital de Santa Maria e é também docente na Faculdade de Medicina de Lisboa.A sua investigação é sobre o lúpus, doença autoimune complexa, na qual o sistema imunitário está cronicamente ativado e ataca o próprio organismo. Patrícia Costa Reis quer perceber se os doentes com lúpus têm uma maior permeabilidade do intestino, o que poderá ser responsável pela passagem de bactérias aí existentes para a circulação sanguínea e, assim, contribuir para a ativação crónica do sistema imunitário.
Este projeto poderá estabelecer as bases necessárias para novas estratégias terapêuticas, como antibióticos ou vacinas que alterem o microbioma, e, assim, controlem o sistema imunitário e a atividade da doença. Melhorar o controlo do lúpus e a qualidade de vida dos doentes é o objetivo desta investigação. Dor crónica, fadiga, depressão, consultas recorrentes e internamentos são algumas das razões que contribuem para uma vida diferente, em que o insucesso escolar nos mais novos e o desemprego nos mais velhos são ainda elevados.
Joana Cabral tem 35 anos e trabalha no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde, Universidade do Minho. Doutorada em Neurociência Teórica e Computacional, investigou se será possível representar matematicamente as redes funcionais em que se organiza o cérebro humano saudável e entender porque se encontram alteradas em doentes neurológicos e psiquiátricos. Percebê-las poderá vir a ter um impacto preponderante no entendimento destas doenças. Joana Cabral acredita que a matemática, com os seus princípios universais, conseguirá fornecer um modelo teórico unificador e capaz de representar os mecanismos biofísicos que governam a atividade cerebral.
“Quero verificar se os padrões de atividade cerebral aparentemente distintos, registados com electroencefalografia (EEG) e fMRI, são expressões diferentes da dinâmica subjacente da rede cerebral”, afirma, referindo que existem descrições recentes de fenómenos semelhantes que emergem espontaneamente de redes sintéticas, governados por princípios matemáticos universais. Para validar esse modelo, a investigadora comparará os resultados das suas simulações teóricas com a atividade cerebral registada simultaneamente através de fMRI e EEG em participantes saudáveis no ICVS da Universidade do Minho, em parceria com o Hospital de Braga.
Diana Madeira tem 30 anos e é investigadora do CESAM/ECOMARE, da Universidade de Aveiro.Doutorou-se em Química Sustentável e iniciou o projeto de investigação que continua a aprofundar sobre a plasticidade transgeracional dos invertebrados marinhos às alterações globais. A investigadora quer compreender o modo como, ao longo de várias gerações, os organismos marinhos estão a responder às alterações climáticas e à poluição que pressiona de forma crescente o equilíbrio dos oceanos e da vida que neles existe.
Até ao momento, a maioria dos estudos realizados neste âmbito tem analisado o que sucede aos organismos marinhos apenas ao longo de uma geração. Saber como estes organismos marinhos respondem às pressões do oceano numa escala de tempo mais alargada – ao longo de várias gerações – permitirá conhecer a sua vulnerabilidade às alterações globais e o porquê dessa vulnerabilidade, e descobrir quais os mecanismos de plasticidade que alguns conseguem desenvolver ao longo de gerações para melhor sobreviverem e se reproduzirem.
Joana Caldeira tem 35 anos e trabalha no i3S Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, da Universidade do Porto. A investigadora quer utilizar um processo pioneiro que conjuga a tecnologia de edição genética CRISPR e as terapias com células estaminais.
A investigadora irá recorrer a esta ferramenta para reativar genes típicos do microambiente fetal com o objectivo de potenciar as atuais terapias regenerativas com células estaminais. Um tratamento eficaz nesta área permitiria beneficiar milhões de pessoas - já que mais de 70% da população mundial é afetada por dor lombar causada pela degeneração dos discos intervertebrais - e reduzir o número de anos vividos com incapacidade.

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A edição deste ano dos prémios ‘Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência’ distinguiu quatro investigadoras com trabalhos sobre o lúpus, discos intervertebrais, redes cerebrais e vida nos oceanos.

As investigadoras premiadas foram Patrícia Costa Reis, pediatra no Hospital de Santa Maria e professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Joana Cabral, investigadora no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho, Joana Caldeira, Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S/INEB) da Universidade do Porto, e Diana Madeira, investigadora no CESAM/ECOMARE da Universidade de Aveiro.

As quatro investigadoras, já doutoradas e com idades entre os 30 e os 36 anos, foram selecionadas entre mais de 70 candidatas por um júri, presidido por Alexandre Quintanilha, refere a L’Óreal, em comunicado.

Cada uma receberá um prémio individual de 15 mil euros, que visa apoiar as respetivas pesquisas e motivar o seguimento e desenvolvimento de “estudos relevantes nas áreas da saúde e ambiente, assim como inspirar uma ciência e uma sociedade mais inclusiva e equitativa”, refere o texto.

A relação entre a ativação crónica do sistema imunitário nos doentes com lúpus e a permeabilidade do seu intestino, a matemática para representar as redes funcionais em que se organiza o cérebro humano, a possibilidade de regenerar os discos intervertebrais combinando tecnologias de edição genética e terapias estaminais e a adaptação dos organismos marinhos a um oceano pressionado pelas alterações climáticas e pela poluição, foram os pontos de partida dos quatro projetos de investigação selecionados, que pode conhecer melhor, assim como às investigadoras premiadas, na galeria, em cima.

Medalhas para as Mulheres na Ciência já são entregues há 15 anos em Portugal

No top 100 do Índice Bloomberg para Igualdade de Género de 2018, que valoriza as empresas mais empenhadas com a promoção da igualdade de género, a L’Óreal promove esta iniciativa há 15 anos em Portugal, numa parceria com a Comissão Nacional da UNESCO e com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Os prémios integram o programa For Women in Science, criado há 21, a nível global, através da sua Fundação L’Óreal e a UNESCO.

No âmbito das ações para promover a ciência e a investigação, a marca já apoiou mais de 3100 investigadoras de 117 países, na sua maioria jovens, mas também cientistas consagradas, entre as quais Elizabeth H. Blackburn e Ada Yonath, ambas reconhecidas com o Prémio Nobel da Medicina e da Química em 2009.

Em Portugal, o número de mulheres nas áreas científicas tem vindo a crescer, sendo a percentagem de mulheres investigadoras de 45%, acima da média europeia, segundo dados recentes da Comissão Europeia.

“Portugal está a fazer um percurso positivo na igualdade de oportunidades e no reconhecimento das mulheres na área da ciência, porém há ainda muito por fazer, sobretudo nos lugares de topo”, refere Cátia Martins, CEO da L’Oréal Portugal.

A responsável sublinha que estes prémios visam reconhecer “o mérito e a importância” das jovens cientistas e servir de “incentivo para prosseguirem a fazer ciência com qualidade”.

“A L’Oréal continuará a dar o seu contributo, em Portugal e nos mais de 120 países onde está presente, para desafiar mentalidades e promover a igualdade de género na ciência”, conclui.

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