Luz a mais pode estar a pô-la doente. E aos seus filhos também…

São lindas, apaixonantes, ténues, românticas, mas as pequenas luzes de presença que todos os pais gostam de pôr nos quartos das crianças escondem perigos. É desta forma que grande parte das crianças e futuros adultos começa a vida, num quotidiano em que a luz elétrica nunca se apaga: dentro e fora de casa, no teto, na lateral, luz direta e indireta. Na cozinha, no quarto, na sala. Mais longe ou mais perto da cara – quando falamos em computadores e telemóveis – e, por fim, em todo o lado!

Vários estudos científicos e especialistas têm vindo a alertar cada vez mais para os riscos que a “poluição pela iluminação”, que retarda o sono e piora a qualidade e quantidade do descanso. As consequências, essas, manifestam-se na saúde.

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Uma pesquisa científica divulgada pela universidade norte-americana do Colorado e sobre a sensibilidade das crianças em idade pré-escolar à luz, de março deste ano, vem revelar o que há muito os especialistas têm alertado: a exposição a luzes de presença, elétricas, antes de deitar reduz a produção de melatonina – a hormona que participa na regulação dos ritmos biológicos e que ajuda, entre outros aspetos, a sinalizar o sono – quase a zero.

A pesquisa passou por expor dez crianças, com idades entre os três e os cinco anos, a uma luz média brilhante de cerca de 60 watts durante uma 60 minutos e antes das 20h00, hora marcada para deitar. A paragem da hormona – que o corpo começa naturalmente a produzir logo após o cair da noite – começou dez minutos depois da exposição à luz e continuou estagnada uma hora pós ter sido desligada.

Para lá da redução da qualidade do sono das crianças, especialistas alertam para outros riscos potenciais que podem ir da depressão ao cancro. Na galeria acima fique a conhecer os perigos e riscos apontados pela ciência relativamente às luzes de presença.

As luzes e a depressão e suicídio

A psicóloga norte-americana Jean Twenge tem estudado a adaptação mental e social dos jovens, sobretudo os que nasceram após 1995, tendo por base o uso de smartphones. A investigadora garante ter estabelecido – com base em duas amostras de jovens norte-americanos – uma correlação entre o tempo de exposição aos novos media e o risco de depressão e suicídio nos adolescentes. Para a cientista, tudo começa pelo isolamento e privação do sono.

Segundo um estudo mais recente, Twenge concluiu que a exposição aos novos ecrãs prejudica severamente a duração e a qualidade do sono dos jovens, em percentagens que o podem variar entre os 35 e os 43 por cento. É ainda digno de nota o facto de as alterações do ritmo circadiano poderem aumentar a predisposição para a depressão.

A incidência do cancro numa sociedade demasiado iluminada

O professor da Escola de Medicina da Universidade do Connecticut, Richard Stevens, tem sido uma voz forte na busca das razões que levam as pessoas a ter cancro. A ligação à luz elétrica tem sido um dos eixos de pesquisa deste cientista. Agora, num texto publicado no jornal Daily Mail, o médico escreve que “a base para a preocupação com cancro em crianças decorre do facto de que a luz elétrica inoportuna poder perturbar os ritmos circadianos, e esta rutura tem sido já implicada em cancros, em adultos”. Para o especialista, “as provas dos efeitos nas crianças não são diretas, mas são críticas o suficiente para deverem ser contempladas!

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A leucemia é o tipo de cancro infantil mais comum”, começa por explicar o médico do Connecticut, explicando que “quando as células-tronco (responsáveis pela produção de glóbulos brancos, parte integrante do sistema imunitário) ficam descontroladas, o resultado é a leucemia”. Ora, prossegue, “se os estudos recentes mostraram que a proliferação de células-tronco está sob controle circadiano, desta forma a presença de luz intensa à noite poderia desestabilizar”.

Para Stevens, as investigações devem ser levadas até à vida uterina, “um período particularmente vulnerável”. “A atenção da pesquisa deve ser direcionada para os efeitos da iluminação elétrica indesejada em mulheres grávidas, tais como alterações na produção de hormonas que podem afetar o desenvolvimento fetal”, sublinha o especialista.

Mas o cientista vai mais longe e inquire: “Não se sabe até que ponto as luzes noturnas no berçário alteram a consolidação do ritmo circadiano em bebés e se as crianças expostas a noites bem iluminadas em casa estão em risco. Acredito que esta é uma questão urgente porque os efeitos adversos podem levar uma criança para uma saúde débil e morte prematura.”

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Os efeitos da poluição da luz não se fazem notar apenas nas crianças e jovens. Um estudo da universidade de Harvard, de 2017, identificou uma mais alta taxa de risco da doença quando relacionada com os níveis de luz durante a noite, fora de casa.

Esta análise compreendeu o acompanhamento de enfermeiras do serviço nacional de saúde britânico e a ocorrência doença, durante o intervalo entre 1989 e 2013. A equipa liderada pelo epidemiologista Peter James georeferenciou mais de 100 mil mulheres e mediu, por satélite, a luz elétrica emitida à volta das suas casas.

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O estudo encontrou uma relação direta entre o nível da iluminação pública antes do diagnóstico e o posterior risco de desenvolver a doença: quanto maior o nível e intensidade da luz, maior o risco. Segundo a equipa, foram ainda contemplados no estudo os riscos mais comuns e que decorrem da idade, número de filhos, peso e, entre outros fatores, medicação hormonal.

Imagem de destaque: Shutterstock

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