Adeus a Celina Pereira: “Uma mulher muito à frente do seu tempo”

Celina Pereira _ Álvaro Isidoro
[Fotografia: Álvaro Isidoro/Global Imagens]

Celina Pereira morreu esta quinta-feira, 17 de dezembro, aos 80 anos, e é recordada pela Associação Caboverdeana como “uma mulher muito à frente do seu tempo”, lembrando a longa carreira da artista. “Era uma figura conhecidíssima, apreciada, mimada e amada. Era mulher muito à frente do seu tempo e faz-me lembrar Amália Rodrigues”, referiu à agência Lusa a responsável da Associação Caboverdeana de Lisboa.

Para Filomena Vicente, a cantora deve ser recordada “acima de tudo pela mulher que era, num tempo em que era muito difícil as mulheres poderem-se projetar de alguma forma, ainda por cima vinda de Cabo Verde, que tinha a Cesária Évora e pouco mais”.

A responsável da Associação Caboverdeana lembrou ainda que Celina Pereira era “uma grande amiga da associação”. “Muitas vezes aparecia lá e colaborava connosco, para declamar poesia ou para outras atividades culturais”, salientou.

“A associação vai com certeza mais tarde fazer uma homenagem à sua pessoa, quando for possível, devido à pandemia de covid-19. Para já a homenagem é de coração e enviamos a todos os cabo-verdianos, familiares e amigos da Celina um grande abraço de condolências”, acrescentou.

Filomena Vicente recordou ainda que conheceu Celina Pereira ainda na sua juventude, quando esta cantava num restaurante em Alcântara onde se juntavam grupos de jovens.

E salientou também a “longa carreira” da interprete, uma “das primeiras cabo-verdianas a gravar discos”, a condecoração como comendadora pelo antigo Presidente da República de Portugal, Jorge Sampaio, e o trabalho desenvolvido para elevar a morna a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO Seguiu-se depois “Estória, Estória… No Arquipélago das Maravilhas” (1990), “Nós Tradição” (1993), “Harpejos e Gorjeios” (1998) e “Estória, Estória… do Tambor a Blimundo” (2004).

Em 2003, Celina Pereira foi condecorada com a medalha de mérito – grau comendadora – pelo Presidente português, Jorge Sampaio, pelo trabalho na área da educação e da cultura cabo-verdiana.

Em 2014 foi galardoada com o Prémio Carreira na 4.ª edição do Cabo Verde Music Awards (CVMA).

A cantora cabo-verdiana Celina Pereira morreu em Lisboa, onde residia, vítima de doença. O ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, definiu hoje Celina Pereira como um “grande vulto da cultura cabo-verdiana” e uma “figura incontornável” não só da cultura, como artista de palco, mas também como investigadora.

Abraão Vicente sublinhou que Cabo Verde perdeu a primeira pessoa que verbalizou a ideia de se candidatar o género musical morna a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO, o que acabou por acontecer há precisamente um ano.

Natural da ilha cabo-verdiana da Boavista, sobrinha de Aristides Pereira, primeiro Presidente de Cabo Verde, Celina Pereira viu o seu primeiro ‘single’ “Bobista, Nha Terra/Oh, Boy!”, editado em 1979, mas só em 1986 lançou o primeiro disco “Força di Cretcheu” (Força do Meu Amor), que inclui histórias e cantigas de roda, brincadeira, casamento e trabalho.

CB com Lusa