Net: o negócio do seu filho é um sucesso ou “toxicodependência 2.0”?

jovens
[Fotografia: iStock]

Cada vez mais os jovens sonham em ganhar dinheiro na Internet. No entanto, é um verdadeiro desafio conseguir ter lucro com ela. De outra perspetiva, os pais olham para este mundo novo com desconfiança e, por vezes, como terreno pantanoso que é preciso pisar com cautelas.

Na verdade, “a Internet pode ser um local perigoso“, afirma, sem rodeios, Rui Lourenço. O especialista em redes sociais, afirma, por isso, que o papel dos pais é fundamental na vida dos filhos que atravessam esta fase e devem estar atentos. Mas ao quê, em concreto? Os menores podem fazer dinheiro online, têm a possibilidade de usar as plataformas para revenda de produtos, para ganhar dinheiro com visualizações ou através de patrocínios de marcas.

“Os jovens têm, hoje em dia, uma grande atração pela profissão ou atividade de bloggers, vloggers ou youtubers”, analisa João Ferreira Pinto, advogado especialista em assuntos online. E não há dúvidas de que estas opções têm sido adotadas por muitos.

A título geral – e sem especificar faixas etárias -, importa vincar que, segundo o estudo realizado pela Maktest em 2019 para avaliar os í­ndices de notoriedade, utilização, opinião e hábitos dos portugueses face às redes sociais, estima-se que, em Portugal, 56% da população publique, pelo menos, uma vez por semana nas suas contas de redes sociais, como o Facebook, Youtube e Instagram.

Como se lucra online?

O que entra na Internet, fica na Internet e é preciso ter essa consciência”, sublinha Rui Lourenço em entrevista ao Delas.pt. O especialista diz ainda que “antigamente, os jovens que abriam negócios online chegavam a roubar coisas aos pais, para depois as venderem”, acrescentando que: “Se isto não for uma espécie de ‘toxicodependência 2.0’, não vejo mal em eles o fazerem.”

Ainda assim, há outras formas mais regulares de obter rendimentos a partir da Web, sendo-se menor. Quem tiver bom olho, pode tornar-se o seu próprio patrão ao criar o seu próprio site de negócio. A revenda de produtos como peças antigas, telemóveis, mobília, vestuário e acessórios, livros ou até carros, é uma forma bastante comum.

Pode parecer fácil, mas gerar dinheiro online não se faz com um simples clique no rato. “No caso do Instagram, não há uma forma direta de ganhar dinheiro, ou seja, o Facebook, que é a plataforma oficial do Instagram, não paga aos utilizadores, mas já está a fazer algumas experiências – no caso da transmissão de jogos ao vivo – em que atribui um valor monetário ao utilizador por cada milhão de visualizações”, conta Rui Lourenço.

Contudo, atingir aquele número de visualizações é uma tarefa árdua. “As regras para lucrar online são as mesmas que as do mercado de trabalho: os que mais se esforçam, são os que ganham mais dinheiro”, explica ainda o especialista em redes sociais.

João Ferreira Pinto diz que “os jovens têm tendência a criar uma forma de rentabilizar os conteúdos que publicam através de publicidade online e marketing, fazendo acordos com marcas”. Rui Lourenço aprofunda ainda mais esta questão e afirma que “as marcas veem nos milhares de seguidores uma oportunidade para promover os seus produtos fora do mercado tradicional”.

Por norma, elas entram em contacto com os jovens para que, em troca de dinheiro ou produtos, “eles vistam ou mostrem aos seus seguidores o produto. Portanto, quem paga não é o Instagram, mas sim as marcas”, clarifica.

Negócio sim, mas valor tem de ser baixo

Os menores de idade podem ter negócios online, desde que o valor seja baixo e tenham capacidade jurídica de entender o que estão a fazer”, explicou o advogado especialista em direito na Net. Não há, avança, valores definidos na lei, nem penas ou sanções sistematizadas para casos desta natureza. É importante, contudo, deixar claro que os pais serão sempre responsáveis pelos seus filhos menores.

TikTok: um guia do que os pais precisam de saber

Saber o que fazem os miúdos é prioritário, tal como definir regras e perceber limites e usos de tempo nas redes. Rui Lourenço considera, exemplificando, que “ter um negócio para vender artigos é mais seguro do que andar a expor-se. Correm-se menos riscos de privacidade”, admite, convocando a atenção dos pais para esta realidade.

Quanto ao papel dos pais, estes “têm de dar limites às horas que os filhos passam nesse ‘passatempo lucrativo’ e têm de lhes fazer entender que é para o bem deles”, referiu Rui Lourenço. João Ferreira Pinto concorda e acrescenta que “os pais têm um dever de vigilância de controlo parental relativamente ao conteúdo das mensagens que são produzidas”.

Em termos legais, a lei portuguesa diz-nos que os jovens que são menores podem, sim, ter os seus negócios online, desde que os valores de venda de produtos sejam baixos. Se venderem os artigos a um valor alto, já se torna um problema legal, uma vez que “precisam de ter a autorização dos pais para o fazer, caso contrário os negócios podem ser anulados pelos próprios pais”, confirma o advogado.

Fim do amor nas redes: Como se gere os meus, os teus e os nossos bens online?

Apesar de ser uma forma, cada vez mais comum, de criar receitas, Rui Lourenço acredita que é uma fase temporária, uma vez que considera que este comportamento por parte dos jovens é uma questão de moda. “Aquilo que hoje pode parecer algo muito agradável poderá transformar-se num pesadelo daqui a uns anos, basta que a tendência mude”, alerta ao Delas.pt.

Por esta razão, prossegue o especialista, “é imperativo que os jovens continuem a estudar e a ter todas as opções de futuro de vida em aberto” e que os pais acautelem isso mesmo.