ONG pede a Moçambique que investigue relatos de sexo forçado a troco de comida

Moçambique ciclone
Fotografia: Josh Estey/Care International via REUTERS

A organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) apela às autoridades e comunidade de Moçambique para reforçarem as investigações dos relatos sobre sexo forçado de vítimas do ciclone Idai por líderes locais, em troca de comida.

“O Governo e os líderes de comunidades moçambicanas precisam de intensificar a investigação das alegações, levar os responsáveis a prestar contas, e enviar mensagens claras por Moçambique de que estes abusos não serão tolerados”, lê-se num comunicado hoje divulgado pela ONG, e assinado por uma investigadora da divisão africana da HRW.

No documento, a HRW refere que “não tem conhecimento de quaisquer ações tomadas pelo Governo moçambicano para investigar credivelmente ou punir os responsáveis, incluindo em casos documentados e reportados pela Human Rights Watch e outros”.

O comunicado surge depois de aquela ONG já ter alertado, no final de abril, para casos de mulheres sem dinheiro que estavam a ser coagidas em troca da inclusão dos seus nomes em listas de distribuição de alimentos.

“A exploração sexual de mulheres que lutam para alimentar suas famílias após o ciclone Idai é revoltante e cruel e deve ser interrompida imediatamente”, disse o diretor da HRW na África Austral, Dewa Mavhinga, em 25 de abril.

Em 03 de maio, o coordenador de ajuda humanitária das Nações Unidas para Moçambique, Marcoluigi Corsi, reforçou a política “tolerância zero” da ONU face ao abuso e exploração sexual, assinalando que centenas de trabalhadores humanitários e voluntários receberam formação para evitar novos casos.

Corsi referiu também que, apesar dos “maiores esforços” da organização para prevenir a repetição de casos, o risco de exploração e abuso sexual persiste.

A ONU considera que é incapaz de ajudar milhares de mulheres vulneráveis em áreas em que o acesso à informação é limitado e em que não existem centros de apoio a sobreviventes.

Marcoluigi Corso afirmou ainda vai trabalhar com o Governo para assegurar que qualquer denúncia de exploração sexual “será endereçada de forma confidencial, imediata e compreensiva”.

A HRW conclui que o progresso no combate a estas ações apenas pode ser alcançado se “o Governo moçambicano e os líderes das comunidades se comprometam publicamente a pôr fim à exploração e abuso sexual e ao abuso daqueles que precisam de ajuda humanitária”.

O ciclone Idai, que atingiu o centro de Moçambique a 14 de março, causou pelo menos 603 vítimas mortais, tendo afetado mais de 1,5 milhões de pessoas.

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