É por esta razão que dormimos pior com a idade, segundo a ciência

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[Fotografia: Anastasiya Vragova/Pexels]

Já se sabe que ter uma boa noite de sono se torna mais difícil à medida que envelhecemos, mas a razão biológica por trás disso ainda é pouco conhecida. Sabe-se, porém, que a degradação do sono à medida que os anos passam é transversal a vários mamíferos, espessando a tese de que poderá ser algo comum a todos eles.

Cientistas americanos identificaram como é que o circuito do cérebro envolvido na regulação do sono e da vigília se degrada com o passar do tempo, o que, segundo eles, abre caminho para melhores medicamentos no futuro. “Mais da metade das pessoas com 65 anos, ou mais, reclama da qualidade do sono”, afirma Luis De Lecea, professor da Universidade de Stanford e coautor de um estudo sobre a descoberta publicado na revista Science.

Para esta investigação, a equipa coordenada por De Lecea analisou as hipocretinas, substâncias químicas cerebrais importantes que são geradas no hipotálamo apenas por um pequeno grupo de neurónios.

Dos bilhões de neurónios no cérebro, apenas cerca de 50 mil produzem hipocretinas. Em 1998, De Lecea e outros cientistas descobriram que aquelas substâncias químicas transmitem sinais que desempenham um papel vital para estabilizar a vigília. Como muitas espécies experimentam um sono fragmentado à medida que envelhecem, existe a hipótese de que tal seja causado pelo mesmo mecanismo em todos os mamíferos. Pesquisas anteriores mostraram que a degradação das hipocretinas causa narcolepsia em humanos, cães e ratos.

A equipa selecionou ratos jovens, entre três e cinco meses, e velhos, entre 18 e 22 meses, e usou luz transportada por fibra para estimular neurónios específicos. Descobriram que os segundos perderam aproximadamente 38% das hipocretinas, em comparação com os mais jovens. Observou-se ainda que as substâncias químicas restantes nos ratos mais velhos eram mais estimuláveis e mais facilmente detonáveis, tornando os animais mais propensos a acordar. Tal degradação pode dever-se à deterioração, ao longo do tempo, dos “canais de potássio”, que são importantes interruptores biológicos para as funções de muitos tipos de células.

O que pode mudar?

Identificar a via específica responsável pela perda de sono pode levar à investigação de melhores medicamentos, argumentam Laura Jacobson e Daniel Hoyer, do Instituto Florey de Neurociência e Saúde Mental, da Austrália, num artigo de opinião relacionado.

Os tratamentos atuais, como hipnóticos, “podem induzir a doenças cognitivas e a quedas” e não revelam todos os efeitos desejados na população mais idosa, e drogas que atacam um canal específico podem funcionar melhor, acrescentaram.

Os novos medicamentos que emerjam precisarão de ser testados em ensaios clínicos, mas um remédio existente conhecido como retigabina, atualmente usado para tratar a epilepsia e que se dirige para uma via similar, pode ser promissor, de acordo com De Lecea.

Recorde-se que a falta de sono está relacionada com um risco aumentado de vários problemas de saúde: de hipertensão a ataques cardíacos, passando por diabetes, depressão e acumulação de placas cerebrais ligadas à doença de Alzheimer.

CB com agências