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O Reino Unido vai a eleições e são dez as mulheres que vão mudar Europa

Theresa May: 60 anos, primeira-ministra britânica, partido conservador. Vai candidatar-se ao lugar de primeira-ministra, a 8 de junho, cargo que herdou de David Cameron, na sequência de demissão após vitória do Brexit. É possível que seja eleita, uma vez que as sondagens indicam uma vantagem de 20 pontos face ao partido trabalhista, liderado por Jeremy Corbyn. Convocou eleições antecipadas porque defende que, uma vez eleita, terá mais força para liderar as negociações do acordo de saída do Reino Unido com a União Europeia. Contudo, com esta decisão põe em cheque a posição de Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia, que pediu um referendo para ficar na União Europeia caso o reino Unido saísse, bem como as posições das líderes da Irlanda do Norte: Michelle O'Neill e Arlene Foster, que ainda não formaram governo. Tudo o que estas mulheres defendem estará também sob julgamento nestas eleições. Helena Carrapiço, professora associada portuguesa na Universidade de Aston, defende que “a posição de May é complicada, até porque defendeu, nas poucas declarações que fez, ficar na União Europeia antes do referendo”. Enfrenta agora, defende a investigadora portuguesa, “vários escândalos relativamente ao contacto com as pessoas na Europa porque cada vez mais saem relatos informais de que, nem ela como primeira-ministra, nem as pessoas à volta dela, têm um conhecimento suficientemente sólido para enfrentar uma negociação difícil”. [Fotografia: Neil Hall/Reuters]
Nicola Sturgeon: 46 anos, primeira ministra escocesa, líder do Partido Nacionalista Escocês (SNP). “As eleições de 8 de junho são muito importantes para a Escócia porque são um teste à liderança escocesa e ao pedido de segundo referendo”, relata Helena Carrapiço. Com 54 parlamentares do SNP no Reino Unido, se o partido baixar o número de deputados, Theresa May pode usar esse trunfo para deitar por terra os planos de consulta popular na Escócia, que votou sobretudo para ficar na União Europeia, contrariando os resultados nacionais. Portanto, Sturgeon está indiretamente em cheque. Recorde-se que a Escócia e a Grã-Bretanha têm interesses distintos em algumas matérias, como por exemplo, a imigração. “A Inglaterra tem 54 milhões de habitantes, a Escócia, com um território muito maior, tem cinco milhões e precisa de gente. Por isso, é que Sturgeon disse, logo após o referendo, que todos os cidadãos da União Europeia eram bem-vindos. [Fotografia: Twitter]
Arlene Foster: 46 anos, líder do partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte e venceu magramente as recentes eleições na Irlanda do Norte, mas tem de constituir governo com o Sinm Féin. Durante o referendo para o Brexit, Foster, recorda Helena Carrapiço, fez campanha para sair da UE. “Não foi acérrima”, salvaguarda a professora associada da Universidade de Aston.. “Mas como, se calhar, a Irlanda do Norte devia seguir Reino Unido no processo que este viesse a tomar, ela, no último mês, mudou um pouco de posição, tornou-se mais moderada. Apercebeu-se que os resultados do referendo na Irlanda do Norte, que indicaram para ficar na União Europeia, levavam o partido a considerar as consequências para o território”, afirma Carrapiço. Ora, e é o medo e a memória que podem ditar a diferença de posição: “O risco do processo de paz se desfazer e a eventual reintrodução de uma fronteira dura entre as duas Irlandas, levaram a população a começar a pôr em causa a possibilidade” de sair do Reino Unido e a juntar-se à União Europeia. Contudo, Arlene Foster tem-se desdobrado – conta a professora portuguesa a trabalhar no Reino Unido há mais de cinco anos - “em gestos simbólicos de apreço para com o Sinn Féin e recordo a ida dela ao velório do líder histórico de Martin McGuinness [morreu em março]”. McGuiness, que foi o vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte de maio de 2007 a janeiro de 2017, foi um dos dirigentes do IRA que combateu a dominação britânica no Ulster durante os 30 anos de conflito, mas também um dos principais intervenientes no processo que levou o movimento clandestino a depor as armas e foi um negociador essencial do acordo de paz de Belfast ou Sexta-feira Santa de 1998 . [Fotografia: Twitter]
Michelle O'Neill: 40 anos, líder do Sinn Féin, perdeu por um deputado para Arlene Foster e tem de constituir governo com a opositora e ainda não chegaram a entendimento. Helena Carrapiço conta ao Delas.pt que “no Sinn Féin ficou um pouco a ideia de que deveriam fazer um referendo à permanência da Irlanda do Norte no Reino Unido porque o voto deles foi para permanecer na União Europeia (UE)”, ainda que – prossegue a investigadora - “o partido pudesse ser a favor de referendar a independência total do território, mas tudo depende de novo governo”. Mas a professora auxiliar lembra que o “ mais interessante é a cláusula que a República da Irlanda incluiu na lista de itens a serem negociados durante o Brexit porque o tratado de paz entre as duas Irlandas coloca a possibilidade de se unirem, se houver interesse da parte do Norte”. Certo é que se este território assim o quiser, tal “traz como contrapartida a entrada automática dentro da UE porque se baseia no facto histórico de que quando a Alemanha se reunificou, não foi preciso fazer a adesão da RDA, entrou automaticamente”. [Fotografia: Clodagh Kilcoyne/Reuters]
Isabel II: 91 anos, Rainha de Inglaterra. Com um papel “extremamente limitado”, esta chefe de Estado não tem a permissão para “emitir qualquer opinião política”, vinca Helena Carrapiço. No que diz respeito ao caso do referendo “vários jornais tentaram aludir a possíveis opiniões da rainha nesta matéria (quer a favor, quer contra a saída), mas o Palácio Real nunca se chegou a pronunciar”, recorda a professora. Mas as consequências para a coroa podem ser pesadas. “É bem possível que a saída da UE leve ao fim do Reino Unido tal como o conhecemos (um segundo referendo na Escócia será difícil de evitar, a Irlanda do Norte poderá seguir o mesmo caminho dado que o tratado de paz lhe permite juntar-se a Republica da Irlanda, e o Pais de Gales está descontente com o desaparecimento dos fundos comunitários). A possível desagregação do país põe em questão o papel da Rainha, cuja missão é representar a unidade e identidade do pais”, contextualiza Helena. [Fotografia: Pool New/Reuters]
Emily Thornberry – 56 anos, quadro do partido trabalhista britânico e oposição (shadow minister) para os Negócios Estrangeiros. Esta mulher surge neste gráfico de relações porque é a única que tem ambições de substituir Jeremy Corbyn [líder dos trabalhistas]. Apesar da contestação, nada indica – para já – que o partido entre em disputa interna antes de 8 de junho. Mas como lembra Helena Carrapiço: “Tudo pode mudar de uma semana para a outra.” De uma ala da esquerda mais moderada que Corbyn [antieuroepeísta confesso e contra o projeto neoliberal da UE, embora tenha defendido a permanência do pais na União Europeia], Thornberry “zelou bastante pela não saída do Reino Unido, mas defende agora o respeito pelo voto popular, porque se 52% pediu para sair, então é importante cumprir essa posição”, conta a professora associada da Universidade de Aston. Helena Carrapiço crê que “se os trabalhistas não se posicionarem mais ao centro e com políticas mais parecidas com os conservadores, não conseguirão ganhar as eleições, e é isso que se disputa agora a 8 de junho. [Fotografia: Twitter]
Maggie Chapman – 37 anos, co-líder de Os Verdes da Escócia. Os Verdes pedem um referendo, não para ficar ou sair, mas para o povo se pronunciar sobre o resultado final do acordo a que o Reino Unido e a União Europeia deverão chegar. Isto porque – explica Helena Carrapiço - “consideram que não é possível passar uma carta branca para esta negociação”. Uma posição que lhes pode trazer protagonismo e destaque uma vez que o partido trabalhista não pondera, nem propôs esta alternativa. Este caminho pode vir, sem estranhezas, a receber o apoio de Nicola Sturgeon. [Fotografia: Twitter]
Ruth Davidson: 38 anos, líder do partido conservador escocês. A Escócia deve ficar no Reino Unido – saia ou fique na União Europeia - , esta é a posição dos conservadores da Escócia, cuja base de apoio é diminuta e são, conta Carrapiço, muitas vezes considerados os “grandes traidores” porque “tiraram verbas às políticas sociais e apoios à população”. Para a professora, mesma que a nacionalista Sturgeon perca deputados nas eleições de junho é pouco provável que Ruth possa, por contrapartida, cantar vitória seja para a organização política que lidera, seja para as posições que sustenta em matéria de Brexit. E Helena conta até um episódio: “Recentemente, Theresa May foi à Escócia participar na campanha de Ruth Davidson e foram juntas a várias casas e a bater à porta, e as pessoas fechavam-lhes a porta na cara”, conta a professora portuguesa. [Fotografia: Twitter ]
Angela Merkel: 62 anos, chanceler alemã e um dos principais rostos da União Europeia. “Mais do que os políticos de Bruxelas, Merkel representa, para os britânicos, o ponto de vista da Europa continental e contra a qual a Theresa May está a lutar”, contextualiza Helena Carrapiço. E se houve alturas em que May e Merkel pareciam estar mais próximas, hoje a distância é cada vez mais evidente: “Ela tornou-se mais dura sobre o que quer exigir durante as negociações”, vinca a professora de Relações Internacionais. [Fotografia: Twitter]

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O parlamento inglês foi, esta quarta-feira, 3 de maio, dissolvido. A primeira-ministra Theresa May já comunicou formalmente à Rainha, dando início, assim, à abertura oficial para nova campanha eleitoral.

Um processo natural – ainda que em circunstâncias complexas – quando se está ante um sufrágio antecipado, marcado para 8 de junho, e que pode começar a mudar para sempre a União Europeia como a conhecemos e o Reino Unido tal como está.

Em terras de Sua Majestade, as ligações podem complicar-se. Por isso, o Delas.pt foi ouvir Helena Carrapiço, professora portuguesa em Relações Internacionais, que dá aulas na Universidade de Aston, no Reino Unido. A investigadora e docente, de 37 anos, explica o processo das eleições legislativas e do Brexit e que está – sobretudo – nas mãos das mulheres.


Recorde as manifestações que já tiveram lugar

As celebridades e o Brexit e as consequências para a moda


De Londres, a Edimburgo, da Irlanda do Norte ao País de Gales, conheça o poder, o histórico e as relações que existem entre estas líderes e a margem que têm para alterar a História.

Na lista – e que pode ficar a conhecer na galeria de imagens acima – estão as primeiras-ministras Theresa May e Nicola Sturgeon, estão as representantes máximas da Irlanda do Norte Arlene Foster e Michelle O’Neill, a chanceler alemã Angela Merkel, mas também as que prometem chegar e, quem sabe, revolucionar.

Neste xadrez é, curiosamente, a rainha quem tem menos poder. A toda-poderosa chefe de Estado Isabel II pode fazer pouco face ao poder das mulheres que se agigantam neste momento político.

A pouco mais de um mês das eleições, saiba quem é quem e em que tabuleiros jogam.

Imagem de destaque: Shutterstock