Relações tóxicas: é assim que família e amigos podem ajudar

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Estar numa relação nem sempre é fácil – mais ainda quando a pessoa que temos ao nosso lado nos transmite sinais confusos. Ver os nossos amigos ou entes queridos numa relação não saudável também é complicado, especialmente quando sentimos que não conseguimos ajudar.

Numa multiplicidade de relações e personalidades que nos surgem em diante, torna-se importante ler alguns sinais e estar atento a algumas atitudes. “As relações tóxicas vêm em todas as formas: chamar nomes, abuso físico, mentiras, coscuvilhices e todos os sinais internos que mostram que estamos numa relação doentia”, afirma um artigo da Psichology Today.

‘Liberte-se das relações tóxicas’, já defendia o psicólogo e sexólogo Fernando Mesquita no seu livro Deuses Caídos, onde explica, em mais de 200 páginas, os vários tipos de personalidades que podem compor uma relação – e um mau relacionamento. Em entrevista ao Delas.pt, o especialista dá-nos algumas dicas de como podemos ajudar alguém que está numa relação doentia.

É importante perceber, de acordo com o psicólogo, que, na maioria das vezes, a pessoa em questão “não tem consciência de que está envolvida num tipo de relação tóxica”, afirma. Muitas vezes, estas pessoas quase que “negam a realidade, e muitas delas estão com quadros depressivos e ansiosos” que fazem com que metam uma espécie de “lente à frente”, responsável por não verem que existem outras alternativas que não continuar naquele relacionamento.

“Nestes casos, não vemos muitas alternativas, está tudo muito negro e negativo à volta e não encontramos soluções para os problemas”, ressalva o sexólogo. Deste modo, o papel das pessoas que estão à volta, como amigos e familiares, é mesmo o de tentar ajudar e “mostrar novos caminhos“.

Aumentar a confiança e auto estima

Sabemos que um dos campos mais afetados – ou primeiramente afetados – das vítimas é mesmo a auto estima e a confiança. E é neste sentido que podemos desde logo começar a trabalhar: “devemos valorizar aquilo que essas pessoas têm de bom e faze-las sentir que têm amigos e pessoas próximas que as podem ajudar e que gostam delas“, reitera. Porque, muitas vezes, quando estamos numa relação tóxica acabamos por ficar dependentes do parceiro tóxico e não entender que existem outras pessoas que gostem de nós.

Aquilo que muitas vezes também acontece é que a pessoa tóxica ou manipuladora faça com que a outra sinta que não tem valor nenhum e, desse modo, faz com que a vítima se torne dependente da relação e da pessoa – sem que ela se aperceba. Daí ser importante que a vítima da relação entenda que tem outras pessoas à volta que também a apoiam.

“Aqui é importante que quem está de fora da relação tenha a noção de que tipo de toxidade estamos a falar. Não nos podemos esquecer que a violência é um crime público e que se nós virmos que existe algum tempo de violência doméstica é mesmo a nossa obrigação, do amigo ou amiga, de fazer participação na policia. E isso é importante.”, frisa desde logo Fernando Mesquita.

Ainda assim, nem todas as relações tóxicas necessitam de violência física para que não sejam saudáveis.

É ainda bastante relevante que nós, enquanto amigos, possamos envolver as vítimas em novas coisas como “ir ao ginásio connosco, mostrar que há mais no mundo do que apenas aquela parcela de realidade, conhecer novas pessoas, abrir os horizontes“, para que a pessoa não fique apenas presa à relação.

Sugerir ajuda profissional

É normal, a certa altura, sentirmos que simplesmente já não temos as ferramentas necessárias, enquanto amigos, para ajudar aquela pessoa. A solução: Tentar sugerir o recurso a um profissional especializado. Mas desengane-se se pensa que será uma tarefa fácil, porque nem todas as pessoas estão recetivas ao tema.

“Se virmos que não temos ferramentas enquanto amigos para ajudar e virmos que a pessoa está mesmo a bloquear a realidade, podemos e devemos propor que procure ajuda de um psicoterapeuta. A abordagem deve ser natural, algo como: ‘olha, não achas que te fazia bem falar com alguém de fora, que não te conheça e que possa ajudar a ver perspetivas diferentes da relação? Porque se calhar eu sou uma parte envolvida e eventualmente posso estar muito próxima de ti e isso, em termos emocionais, pode fazer com que eu não veja bem a realidade. Mas porque não tentas com alguém especializado que te possa ajudar para ver se as coisas estão mesmo a correr bem?'”. Esta é uma das sugestões de abordagem do especialista.

Até porque “nós queremos o melhor para os nossos amigos e quando vemos que não estamos a conseguir ajudar, é difícil também para nós”, adverte o sexólogo.

Entender que a pessoa precisa de aprender por si

Sabemos que quando queremos ajudar alguém, esperamos que os resultados sejam imediatos e que a nossa opinião seja levada em consideração. No entanto, como já referido, na maioria dos casos a vítima não tem sequer noção ou consciência de que está numa relação não saudável.

É importante que tenhamos a consciência de que por mais que digamos, a pessoa tem de “abrir os olhos por ela própria” e tomar consciência de que aquilo não é, afinal, o que ela quer para a sua vida. Estar constantemente a tocar no assunto pode, mesmo, ter o efeito precisamente contrário.

Nunca dizer: “eu avisei-te”

Seja nesta situação ou em outra qualquer, sabemos que o “eu bem te avisei” nunca é um comentário muito bem visto. Se a pessoa acabar por se aperceber que está numa relação tóxica, e aperceber-se dos erros cometidos, não tenha este típico de diálogo. Esteja apenas lá para que ela saiba que pode continuar a contar consigo e a desabafar. Faça com que se distraia do assunto e não toque no mesmo.