De Bond Girl a capitã em “S.W.A.T.”, a atriz mexicana está a mudar a face do novo talento em Hollywood.
Por Ana Rita Guerra, em Los Angeles
Entrou para a história como a primeira “Bond Girl” mexicana em “Spectre”, ao lado de Daniel Craig como 007, e depois invadiu o pequeno ecrã como Valeria Velez, a jornalista que se tornou amante de Pablo Escobar na série da Netflix “Narcos.” Em apenas três anos, Stephanie Sigman tornou-se uma das atrizes mais quentes de Hollywood e foi escolhida para um papel muito pouco habitual numa série de televisão. Ela é Jessica Cortez em “S.W.A.T.”, criada pela CBS sobre a força de intervenção norte-americana inspirada na série com a mesma designação dos anos setenta.
O papel de Sigman é relevante não só porque interpreta uma mulher que é chefe numa força maioritariamente masculina, mas também porque não é branca. Em Hollywood, personagens hispânicas representam apenas 3% do total de papéis com falas. É uma realidade que está a mudar aos poucos, como demonstra esta aposta da CBS.
E o público parece gostar: não só a série foi um tremendo sucesso mundial, muito devido à química entre Stephanie Sigman e Shemar Moore, o protagonista que conhecemos de “Mentes Criminosas”, como se tornou a segunda mais vista em Portugal em 2017. “S.W.A.T. – Força de Intervenção” passa no AXN Portugal e teve uma média de 106 mil espectadores no mês de estreia, de acordo com os dados da agência UM.
Em Los Angeles, tivemos a oportunidade de conversar com Stephanie Sigman sobre a importância do papel, a sua carreira e o que deseja para o futuro de “S.W.A.T.”
É capitã e manda numa série de homens, algo refrescante. Como encara isso?
Com este papel, tenho esperança de poder mudar estereótipos, porque quase nunca vemos hispânicos – ou alguém com sotaque, que não é americano – não apenas em papéis de protagonista, mas em papéis como capitão, médico, advogado. Não vemos hispânicos a fazerem estes papéis. Era muito importante para mim, não apenas como atriz mas como pessoa, ver isso na televisão. Enquanto crescia lembro-me de que toda a gente nas séries de televisão era americana e falava sem sotaque.
Não se sentia representada?
Não. Vou ao médico em Los Angeles e há médicos de todo o mundo, a minha médica é indiana. Vejo dentistas mexicanos, advogados peruanos. Quero ver isso agora. A menina em mim queria ver isso na televisão.
Sente que há uma onda de diversidade a inundar também os canais de televisão tradicionais, como a CBS?
Penso que foram forçados a serem mais diversos e isso é ótimo, qualquer que seja a razão por detrás disso. Espero que o continuem a fazer e entendam que toda a gente tem de se sentir representada. Penso que “S.W.A.T.” faz um bom trabalho nesse campo: tem muitas cores.
Mas não tantas mulheres quanto homens.
É difícil. Nós estamos a tentar mudar isso, eu e a Lina [Esco]. É um ambiente muito masculino na vida real, não tem muitas mulheres, e estamos a tentar ser honestos e o mais próximos possível da realidade. Mas queremos implementar mais energia feminina, é sempre bom. Estou sempre a dizer-lhes que preciso de mais mulheres na série.
O que é que “S.W.A.T.” tem que é diferente de tantas outras séries do género?
Na verdade, não tenho visto muita televisão. Mas penso que é uma série que tem muitas camadas diferentes, boa cenas de ação, por isso entretém mas também tem coração e momentos emotivos com que as pessoas se identificam. É uma boa combinação que as pessoas podem apreciar e que também reflete a sociedade e os problemas que temos neste momento. É atual.
Isso é algo que não acontece muito noutras séries, que querem evitar tocar no momento político.
Eu acho que devemos inclui-lo, está tudo lá. Imigração, DACA, tiroteios em massa. A própria equipa insiste nisso, porque é o que queremos – é o motivo pelo qual viemos fazer esta série. Porque correr riscos e ir mais longe é a única forma de sermos diferentes e de as pessoas se identificarem connosco.
Que feedback recebe? É possível que isso aliene as pessoas que já se queixam de que Hollywood é demasiado liberal?
Costumo receber esse tipo de críticas no meu Instagram pessoal. E o que eu digo é para deixarem de me seguir, porque isto é o que eu sou. Não quero mudar isso, é aquilo por que luto. Estou tranquila com o facto de não ser amada por todos, desde que seja autêntica e real. No que toca à série, a resposta tem sido mais positiva. As pessoas gostam de ver algo diferente. Muitas vezes, as pessoas são subestimadas – pensa-se que há uma fórmula relativa ao que veem, mas isso é porque é o que se está a dar às pessoas para ver. Se lhes dermos algo diferente, vão ficar entusiasmadas e interessadas.
Como é que este papel é diferente do que fez no passado, em que passou pelo Netflix e foi uma Bond Girl?
O que é diferente é o ritmo. É uma loucura para mim, para alguém que vem do cinema e dos canais de streaming. Quando fazemos uma série uma para cadeia de televisão tradicional são 22 episódios em dez meses. O ritmo de trabalho é muito rápido, não há tempo para ensaios ou preparação. Mal há tempo para decorar as falas e perceber o que se está a passar. Foi um desafio para mim, porque nunca tinha feito TV tradicional antes.
Também há uma pressão diferente, por causa das audiências semanais?
No Netflix uma série é como um filme muito longo. Mas não sou o tipo de atriz que quer saber de audiências, não é algo que eu precise de saber. Quero ver a qualidade, o resultado da edição, a parte artística.
Acredita que isto pode ser um projeto de longo prazo?
Acho que ninguém sabe isso hoje em dia, porque há tantas séries. Esperamos que sim. Não sei nada de como será a segunda temporada.
Como é que a sua personagem Jessica pode evoluir na sua relação difícil com Hondo [Shemar Moore]?
É muito interessante. Trabalhamos juntos e continua a haver algo entre nós, não se consegue subitamente deixar de sentir coisas por alguém. Será interessante ver o que eles vão escrever, porque teremos de trabalhar juntos por muito tempo – eu sou a capitã da equipa e ele é um excelente sargento.
Gosto muito de ação, mas adoro as partes de exploração das personagens, gostaria de ver mais disto. Há muito mais a conhecer sobre estas personagens.
A Jessica vê-se perante o dilema de escolher entre a sua profissão e o seu lado romântico, algo com que muitas mulheres se deparam. O que pensa disso?
Sim. A Jessica até é demasiado profissional, precisamente porque é mulher. Porque tem um cargo de poder e pode perder tudo num momento. Por causa da perceção das mulheres no mundo, ela tem de ser extremamente cuidadosa.
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